Pois então, dizem com ar tristonho os meus olhos quando me locomovo pelas ruas da metrópole alencarina: Fortaleza é uma cidade sem verde. E eu, diante do cenário quase desértico que me cerca, só me resta baixar a cabeça e concordar, sem discutir nem tergiversar, com a verdade explícita tão sobejamente divisada por minhas gastas pupilas. Sim, a realidade é feita do que é e não do que sonhamos ser. E a brutal verdade que de há muito vem se abatendo sobre a cidade em que sobrevivo, transito e me morro de amores é uma única, que não pode ser de modo algum negada. Fortaleza está, pouco a pouco ou cada vez mais rápido, não sei bem ainda determinar o ritmo, se transformando em uma cidade despida de árvores, como se os pés de algum Átila por aqui pisassem incessantemente.
Não faz muito, li nos jornais que cerca de cinquenta e duas árvores frondosas, das mais variegadas espécies, foram derrubadas sem a menor complacência bem no coração da Aldeota por magnatas da construção civil, que nada se importam com os males que causam ao ambiente e à paisagem urbana. O que me faz lembrar os versos de uma canção de Caetano Veloso, quando ele fala sobre a força da grana que ergue e destrói coisas belas. Porém, para quem é movido pela ganância as coisas belas carecem de importância, de significado. Eles cultivam um deus famigerado chamado de mercado, cuja lei primordial e dominante reza que todo lucro é inegavelmente honesto, desde que seja lucro. Quanto às coisas belas que vão destruindo, ora bolas, que se lixem.
As coisas belas? Deixem-nas servir de apropriado combustível para abastecer os sonhos, as visões ilusórias dos poetas, que vivem em sus mundinhos de faz – de – conta, docemente mergulhados em seus paraísos artificiais e se satisfazem em escrever palavras com que pensam ser capazes de mudar o mundo. Os poetas não entendem nada do vasto, intrincado universo dos grandes negócios, onde o dinheiro rola a rodo para quem os conhece a fundo e manipulam os cordéis quando e como querem. Os poetas tudo ignoram da bolsa de valores, da compra e venda de ações no cassino dos pregões. Os poetas jamais conseguirão aprender o poder absoluto, sem fronteiras do dinheiro e só reconhecem a importância de uma gorda conta bancária quando ficam velhos ou quando se encontram à beira de passar fome.
As coisas belas? As coisas belas não valem um tostão furado nem rendem juros nem compram o luxo e a riqueza. O mundo pertence aos vencedores, aos que alçam o mais alto cume da pirâmide social, que são sócios majoritários do exclusivo clube dos milionários. Os poetas repetem nas suas desimportantes cantilenas que cada homem vale pelo que é. Os poetas ainda não se deram conta de que, muito pelo contrário, cada homem vale mesmo é o quanto carrega no bolso ou guarda no cofre dos bancos. Os poetas não passam de uns pobres coitados, eternamente atrás de um mecenas que financie seus deletérios projetos literários, esquecidos de que a Beleza não põe comida nas suas próprias mesas. Deixem-nos sonhar acordados seus sonhares que jamais se tornam realidade. Para que necessitamos de uma cidade verde? A nós, os donos do pedaço, só nos interessa o verde das belas notas de dólar.
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