domingo, 21 de setembro de 2014

Crônica - Sábado à Noite – Não é verossimilhança não, é realidade mesmo! - 21 de Setembro 2014

Sábado à Noite – Não é verossimilhança não, é realidade mesmo!
É noite de sábado, ainda é cedo, talvez nem sejam nove da noite. Volto para casa bastante ébrio, resultado de severas batalhas etílicas desde as primeiras horas da tarde. O culto ao deus Baco foi feito despudoradamente intenso por mim hoje! Nunca mais tinha sido tão fiel a Baco quanto hoje. Estou em casa, não há nenhum espírito encarnado para me fazer companhia, só espíritos desencarnados que se escondem nas sombras medrosas desta noite da casa solitária. Todos saíram noite adentro deste sábado místico. Mesmo sobre efeito de tanto álcool, não consigo conciliar o sono. O que fazer? Ler um livro? Missão quase impossível dada a lassidão do pensar em algo mais elaborado, de fazer conexões cognitivas mais fortes. Teimosamente tento escrever qualquer coisa no computador de mesa, impossível, todas as letras do teclado parecem está dançando uma dança ilógica! Diante do computador só me resta as informações rápidas da internet  que só servem para embaralhar a minha cabeça confusa. Recorro as bestiais redes sociais que quase não acrescentam nada, mas é o bastante para um ébrio como eu quase inconsciente de qualquer coisa. Nas curvas de tais redes sociais, cruzo uma esquina e encontro uma ex paixão de longa datas, trocamos duas ou mais palavras que não em recordo bem, só sei que ela sinalizou uma possibilidade de retomarmos a paixão antiga! Penso em mulheres que eu tive, penso em amores platônicos. Onde estaria Suely a essa horas? Pâmela? Luiza? Bernadete? Angelina? -  De fato não estou lúcido, o cérebro embotado em álcool não permite-me certas racionalidades.
Tonto de está diante da máquina por algum tempo, resolvo sair até a varanda para olhar a rua. Pego o meu último cigarro do maço, entro em desespero por saber ser ele o último do pacote e não ter como repor esse estoque inútil de cigarros! Estou agora deitado na rede a me balançar, o ranger estridente dos armadores aguçam minha insônia! Paro o balanço, a ouço lá fora uma calorosa discussão entre um homem e uma mulher, talvez sejam namorados com alguns ajustes amorosos por fazer. Silêncio, uns três minutos talvez, esse silêncio só é interrompido pelo soluço da jovem moça, que entre lágrimas e a fala cortada,  consegue falar apenas “eu te amo”.
Na solidão da insônia  na minha rede, só tenho a companhia um velho rádio de pilhas ( objeto bastante demodê para os dias de tecnologia de hoje!) Ouço o rádio AM que quase não toca canções, uma discussão bestial entre dois contendores radiofônicos faz com que a chave seja desligada. Paro, reflito sobre todos os fatos recentes dessa noite. Poderia o relato de tais fatos interessar a alguém? Virar literatura? – Tudo isso não foi verossimilhança não! Foi real mesmo, talvez se eu tivesse destreza de um literato poderia até fazer um conto, uma crônica disso tudo, quem sabe?!

domingo, 14 de setembro de 2014

Crônica - A Ermitoa - 17 de Setembro 2014

    A Ermitoa

Morava sozinha, os parentes mais próximos já haviam todos cumprido a sina mais certa que é a morte. Essa mulher já com uma idade na qual ninguém sabia ao certo, nem mesmo ela, mais sabiam todos que ela era uma amanuense aposentada, fato que denunciava o avanço de sua idade. Mantinha uma amizade amistosamente distante com seus vizinhos e na sua casa quase nunca ou nunca mesmo recebia nenhum conviva. Os mais próximos, ou os menos distantes, sabiam que em seu lar, as principais companhias eram um sem número de gatos que vagabundeavam na pequena choupana. Dizem as más línguas que a quantidade de felinos diminuíra significativamente nos últimos anos, por pura falta de zelo de sua dona! Os anos de serviço na repartição pública não permitiu que ela construísse grande patrimônio, não fora a pequena casa herdada de seus pais, não teria outro bem semovente ou não. Sua rotina era extremamente simples, mais ainda para uma pessoa que morava só, tinha um fogão em casa mas não usava quase nunca, suas refeições eram feitas num pequeno restaurante suburbano que religiosamente era freqüentado por ela de domingo a domingo, chovesse ou fizesse sol. Os afazeres domésticos eram evitados por ela, realizando tarefas básicas como lavar as poucas roupas de seu enxoval uma vez por semana! Dormia poucas horas a noite,passava muitas horas da noite diante da televisão, complementava as necessidades do sono da noite, nas primeiras horas da tarde de todos os dias! Fazia parte de sua bestial rotina, as caminhadas aleatórias pelas principais ruas do bairro, caminhava descompromissadamente  por muito tempo sem maiores preocupação com o tempo! Nesse itinerário quase não interagia com os transeuntes que cruzavam seu caminho, só acenava discretamente para aqueles que julgava mais próximos e confiáveis. De uns tempos para cá a solitária adquiriu o hábito de fazer uso do álcool para preencher as horas do vazio no que fazer! Cumpria suas obrigações etílicas discretamente na solidão do lar, não queria que seus vizinhos dessem alguma notícia desse seu condenável ato. Nos finais de semana era um “rato de sacristia” não perdendo um evento sequer de sua Igreja Católica quase vizinha a sua residência. Nesses dias de cerimônias religiosa, mantinha uma certa cautela nas ações etílicas, precavida de dá bandeira diante os fiéis que a tinha na conta dos mais respeitáveis crentes.
E assim se fazia a rotina da solitária mulher, sem parentes ou aderentes, sem muitos afazeres domésticos e tendo como companhia uns gatos rabugentos, o álcool e a fé. Sem exteriorizar suas angústias existenciais de uma vida extremamente solitária e sem maiores ambições!