Pequena
Crônica – Tudo para ser reunido agora
Manhã de um dia qualquer. Ainda
sofrendo as consequências físicas da carraspana da noite passada, mesmo não
tendo sido uma pândega das maiores. Despertei hoje acompanhado por uma vontade de
perambular por alhures a esmo, rua a rua. A este momento o horizonte pros lados
do nascente, está carregado por nuvens plúmbeas e carregadas que denunciam a
qualquer momento uma chuva. Mesmo com estes iminentes contratempos, dou início
a meu itinerário errante. Nas calçadas das casas por onde passo há poucos
sitiantes para esta hora tradicional de tertúlia. Passeio por ruas tortuosas e
de pisos irregulares. Meus pés de anatomia imperfeita, sofrem com os impactos
causados pelo sobrepeso de meu corpo, mesmo estando os pés sobre proteção de
macio calçado. E por estas andanças tenho a companhia de uma vitrola portátil
que trago junto ao bolso do meu “curto”. Executado pelo aparelho eletrônico, seleciono
para o “convencional” o extraordinário músico Eumir Deodato e sua
excelente “World Music” quase inclassificável pela mistura de influências mil
da música.
O jogo segue e o percurso percorrido
pelos meus combalidos pés estão cada vez mais aleatórios. Muitas vezes pareço
está andando em círculos, quase em moto perpétuo. E neste caos do itinerário,
incidentalmente eu circundo a casa da moça da loja de secos e molhados. É uma
modesta choupana sem nenhuma arquitetura mais elaborada, luxo ou outros
detalhes que chamem a atenção de quem passa por ali indiferente no dia a
dia. É um modesto casebre num recanto de
uma tortuosa rua. O frontispício urge melhoramentos. A distância se observa a
sala escura e inóspita, ali jaz um varal repleto de roupas recém lavadas.
Momentaneamente não surge por ali sinal que há algum locatário do local, parece
que todos já saíram pra seus afazeres.
Agora o tempo avança, e meu caminhar
segue a esmo. Percorro ruas, vielas, becos e alamedas. Passo por uma casa de
saúde que está bastante movimentada pois estamos num tempo de doenças sazonais.
Passo ainda por um suntuoso templo religioso que está sendo preparado para
receber logo mais um sem número de anacoretas. Cruzo caminho de pessoas que me cumprimentam e
de chofre respondo maquinalmente um a um. As nuvens que ainda a pouco
denunciavam chuva, se esvaíram por todos os cantos e a chuva não veio. Quem
domina agora o espaço é um sol que brilha intensamente. O fenômeno é a ordem de
todos os dias por aqui. A temperatura sobe rapidamente. Pessoas procuram os
filetes de sombras. Até os cachorros procuram guarida na areia úmida da chuva
que caiu na noite passada.
Volto para meu tugúrio e o contador
de passos que eu acionei para tal tarefa avisa que eu dei aproximadamente nove
mil passos desde o início desta légua tirana! Findo o expediente tendo o corpo
tomado por suor. Faz-se necessário imediatamente um asseio demorado. Tudo é verossimilhança,
ou quase tudo.