sábado, 26 de fevereiro de 2022

Pequena Crônica - Tudo pra Ser Reunido Agora - 25 de Fevereiro de 2022

 


Pequena Crônica – Tudo para ser reunido agora

 

            Manhã de um dia qualquer. Ainda sofrendo as consequências físicas da carraspana da noite passada, mesmo não tendo sido uma pândega das maiores. Despertei hoje acompanhado por uma vontade de perambular por alhures a esmo, rua a rua. A este momento o horizonte pros lados do nascente, está carregado por nuvens plúmbeas e carregadas que denunciam a qualquer momento uma chuva. Mesmo com estes iminentes contratempos, dou início a meu itinerário errante. Nas calçadas das casas por onde passo há poucos sitiantes para esta hora tradicional de tertúlia. Passeio por ruas tortuosas e de pisos irregulares. Meus pés de anatomia imperfeita, sofrem com os impactos causados pelo sobrepeso de meu corpo, mesmo estando os pés sobre proteção de macio calçado. E por estas andanças tenho a companhia de uma vitrola portátil que trago junto ao bolso do meu “curto”. Executado pelo aparelho eletrônico, seleciono para o “convencional” o extraordinário músico Eumir Deodato e sua excelente “World Music” quase inclassificável pela mistura de influências mil da música.

            O jogo segue e o percurso percorrido pelos meus combalidos pés estão cada vez mais aleatórios. Muitas vezes pareço está andando em círculos, quase em moto perpétuo. E neste caos do itinerário, incidentalmente eu circundo a casa da moça da loja de secos e molhados. É uma modesta choupana sem nenhuma arquitetura mais elaborada, luxo ou outros detalhes que chamem a atenção de quem passa por ali indiferente no dia a dia.  É um modesto casebre num recanto de uma tortuosa rua. O frontispício urge melhoramentos. A distância se observa a sala escura e inóspita, ali jaz um varal repleto de roupas recém lavadas. Momentaneamente não surge por ali sinal que há algum locatário do local, parece que todos já saíram pra seus afazeres.

            Agora o tempo avança, e meu caminhar segue a esmo. Percorro ruas, vielas, becos e alamedas. Passo por uma casa de saúde que está bastante movimentada pois estamos num tempo de doenças sazonais. Passo ainda por um suntuoso templo religioso que está sendo preparado para receber logo mais um sem número de anacoretas.  Cruzo caminho de pessoas que me cumprimentam e de chofre respondo maquinalmente um a um. As nuvens que ainda a pouco denunciavam chuva, se esvaíram por todos os cantos e a chuva não veio. Quem domina agora o espaço é um sol que brilha intensamente. O fenômeno é a ordem de todos os dias por aqui. A temperatura sobe rapidamente. Pessoas procuram os filetes de sombras. Até os cachorros procuram guarida na areia úmida da chuva que caiu na noite passada.

            Volto para meu tugúrio e o contador de passos que eu acionei para tal tarefa avisa que eu dei aproximadamente nove mil passos desde o início desta légua tirana! Findo o expediente tendo o corpo tomado por suor. Faz-se necessário imediatamente um asseio demorado. Tudo é verossimilhança, ou quase tudo.


domingo, 6 de fevereiro de 2022

Pequena Crônica - Alhures - 6 de Fevereiro de 2022

 


6 de Fevereiro  - Pequena crônica – Alhures

 

Uma das práticas que mais encantam as pessoas é conhecer lugares desconhecidos, lugares nunca vistos e nem situados dantes. E para se deslocar, a depender da distância, faz-se necessário a utilização de semoventes. Eu na minha limitação para tal apropriação enfrento bastante dificuldades para tal. Mas hoje é mais fácil ver virtualmente as várias paisagens (urbanas ou não) mundo a fora. E é isto que eu faço nas raras horas de ócio que me são gratuitas. Hoje eu perambulei por ruas tortuosas de alguma urbe Brasil afora. (Não citarei que cidade é esta e muito menos qual bairro). Como citado, as ruas e vias urbanas são tortuosas e sem nenhum planejamento urbanístico. Nenhum traço de enxadrezamento da construção das ruas, vielas, becos e alamedas.  Percorro aleatoriamente as ruas sem me preocupara com os prédios ou paisagens naturais que cruzarão meu caminho. Há prédios de vários pavimentos sem nenhum rigor de engenharia ou arquitetura. Verdadeiros monstrengos que parecem que cairão a qualquer momento. Há um largo e uma praça pública mal assistida pela máquina estatal. Campeiam por lá os invisíveis sociais que o sistema econômico/político produziu. Há uma birosca pouco espaçosa que tem mesas e cadeiras na calçada atrapalhando os transeuntes do local. Há uma igreja onde poucos fiés foram flagrados a esta hora da manhã ( suponho que o registro fotográfico foi numa manhã de sol!). O espaço urbano se expande de forma infinda e eu cesso meu passeio virtual.

As horas avançam, minhas obrigações do lar precisam ser cumpridas. Preciso cumprir horas e tarefas para ser um eterno escravo do tempo. Preciso planejar as lides diárias desta semana que começará daqui a poucas horas. Consulto o aplicativo de mensagens para saber a que horas a moça da loja de secos e molhados o consultou pela última vez. Já é um tempo razoável desde da última vez. Estico a vista e aprecio um pequeno morro que fica ao fundo do meu quintal. Preciso voltar a rotina, preciso voltar a normalidade imposta. Hoje é mais um dia no calendário. Tudo se deu num átimo e eu comprei tudo isto sem dinheiro.