quinta-feira, 14 de abril de 2011

Carta de Apoio de Frei Betto à causa da Educação

Carta de apoio - Frei Betto

Frei Betto
Cartas de Apoio
Todo o meu apoio à causa do piso salarial do professor. Não só do professor, mas também dos funcionários da escola, que também merecem tratamento salarial digno e condições de trabalho seguras e saudáveis.


Nenhum país saiu do subdesenvolvimento sem forte investimento na educação. O Brasil investe 5,2% do PIB. Deveria, no mínimo, dobrar este índice. Os países da Ásia, atrasados e devastados pela Segunda Guerra Mundial, hoje são potências mundiais por aplicarem na educação de 8 a 12% do PIB.



Além de assegurar o piso, é preciso instaurar o tempo integral na educação de crianças e jovens brasileiras. Apenas 4 ou 5 horas por dia na escola são insuficientes para uma educação de qualidade.

Fred Teixeira Leite está de parabéns por levar adiante esta causa tão prioritária e necessária para que o Brasil vença a exclusão social.

Frei Betto (escritor, autor de “Alfabetto – Autobiografia Escolar” [Ática], entre outros livros)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Airton Monte - Insônia 31 Mar 11

Airton Monte 31 Mar 2011 - Insônia


Ah, insônia, parceira indesejável das minhas inúmeras noites mal dormidas, me roubando o desejado descanso do sono como um punguista solertemente bate a carteira de um desavisado no aperto das latas de sardinha dos ônibus urbanos. Por que razão esconsa cumpres o teu desalmado intento de tornar-me impossível alcançar os umbrais do mundo encantado dos sonhos pelas madrugadas afora? Por que me escolheste, entre tantos alvos disponíveis, para com tua implacável e constante presença me torturares assim impiedosamente desde a minha mais remota infância? Por que insistes tanto em me bloquear os caminhos pacificadores que conduzem aos braços de Morfeu? Por que fazeres de mim a tua indefesa vítima preferida?


Quem sofre desse mal noturno conhece muito bem quão profundamente ele crava suas insidiosas garras na carne exposta do humano repouso que nem uma impiedosa ave de rapina, fazendo as noites parecerem longas demais, compridas demais, intermináveis demais. Se por acaso a insônia tivesse forma humana, diria eu, que muito dela padeço, seria inegavelmente a figura assustadora de um carrasco dos tempos medievais, aguardando o condenado ao pé do cepo com as mãos empunhando um enorme machado. É assim de tal modo travestida que ela fica à minha espera ao pé do leito quase todas as noites, que chego a me espantar quando consigo a graça de dormir um sono inteiriço feito um cantar de grilo.


De há muito faz que eu, mui sofrido viajor das noites em claro, sempre chego por demais atrasado ao cais de embarque de onde parte a noctívaga barca que navega, em abençoado silêncio, rumo a uma sonífera ilha onde todos dormem o pacífico e ansiado sono dos justos e dos pecadores. Sim, porque os pecadores também dormem apesar dos mal feitos cometidos, pois desconhecem as palavras culpa, remorso, consciência pesada. A insônia é muito pior do que a latejante dor de uma unha encravada, escorrendo pus e sofrimento. Saber que existem outros como eu a carregar o peso crucial desse madeiro hípnico de nada me serve de consolo. Minha insônia, infelizmente, é unicamente minha para meu crônico desgosto.


Outro dia me falou um amigo, um desses afortunados que logo caem em sono profundo mal encostam a cabeça no travesseiro, que as pessoas acometidas de insônia habitual são dotadas de uma tendência a serem exageradamente otimistas antes de tomar seja lá qual for uma decisão. Por pensarem que tudo que tentarem fazer vai dar naturalmente certo, se arriscam mais tanto na vida pessoal como na profissional. Ao questionar por que pensava desse modo, se ele próprio não sofria de insônia, respondeu-me que viciados em jogo, após algumas horas sem dormir, continuam apostando sem parar até perder as calças. Pra mim, isso não passa de formidanda balela, pois se verdade fosse, seria eu um otimista profissional a ver o mundo sempre pintado de azul com bolinhas brancas. Não sou otimista nem pessimista. Sou realista. Vejo o mundo tal qual é e nem por isso deixo de ser mais um insone.

Airton Monte - Memória e Chuva 29 Mar 11

Memória e Chuva - 29 Mar 11


Tarde chuvosa, nublada, úmida, fosca como o olhar de quem padece de catarata. Chove a intervalos regulares uma chuvinha chata feito uma chave emperrada num cadeado enferrujado, chacoalhando sobre as telhas numa música monótona, cheia de cacofonias. Céu escuro, o sol parece haver tirado um dia de folga deixando a tarde vestida de luto. Há pouco escutei o estrondar dos trovões ao longe, felizmente. Tenho uma indisfarçável ojeriza a dias chuvosos desde os bons tempos de menino porque era obrigado a permanecer trancado entre quatro paredes, sem poder brincar no meio da rua. Tirânico e irrevogável decreto materno por medo de que a água caída do céu me molhasse o corpo raquítico, de saúde frágil, tornando-me uma provável vítima da temida visitinha da asma ao cair da noite.


Eis porque até hoje, já um adorável sessentão, a chuva ainda é capaz de entristecer meu coração, deixando-me gravebundo, sorumbático, impotente por não poder com um gesto mágico de mão mandar o diabo do chuviscado para o raio que o parta feito um Mandrake suburbano. Pergunto-me angustiado, pensando num futuro de ficção científica, quando será que o homem assumirá o domínio do clima, comandando através da tecnologia os elementos da natureza, fazendo-os acontecer ao seu bel prazer. Não, não se trata de restar, aporrinhado por um dia de chuva, acalentando pensamentos loucos, frutos de quem perdeu completamente o juízo, ficando com os mentais parafusos frouxos, sem ter doutor que os atarraxe novamente.


Sei que um belo dia o progresso científico e tecnológico permitirá ao homem realizar façanhas hoje tidas e havidas como inacreditáveis, impossíveis de serem conseguidas tais quais as estou pensando agora enquanto São Pedro abre as torneiras embutidas nas nuvens acima de minha cabeça. Basta-me parar e matutar um pouco a respeito de um passado não muito distante. Quem acreditaria, cerca de uns vinte anos passados, se alguém afirmasse que um dia os telefones deixariam de ser imóveis, fixados em suportes nas paredes ou nas mesinhas da sala de visitas para se transformarem em minúsculos aparelhos que andam de mão em mão, nos pondo em contato com outros semelhantes em qualquer parte do mundo. Só acreditaria na futura existência atual dos celulares quem, como eu, lia as histórias em quadrinhos de Dick Tracy com seu telefone embutido no relógio de pulso.


E a chuva continua mais forte ainda. Só Deus pode entender como é infinda qual está escrito nos belos versos de uma canção popular das antigas e da qual poucos se lembram, pois a nossa memória tão frágil culturalmente falando esquece rápido tantas preciosas joias do nosso brasílico cancioneiro. Que pena. Que baita saudade tenho da época em que se ouvia no rádio canções que tinham mais de três acordes e melodias do mais fino lavor. Não me vejam como saudosista, vivendo aprisionado num passado que só retorna em raros festivais retrô. Saudosista é uma palavra que não me define nem está grudada em mim feito doença. Apenas sinto saudades das coisas boas que vivi, que fazem parte essencial de meu arquivo pessoal e intransferível, sem motivos para delas largar mão. Um homem é sua memória e eu o sou. Menos a memória dessa chuva tediosa que me ensombrece o dia.

Airton Monte - A um Leitor 28 Mar 11

A um Leitor - Airton Monte 28 Mar 11

Há alguns dias passados, não sei se vocês ainda guardam na memória, escrevi uma crônica sobre uma mulher desconhecida que me escrevia cartas de amor, cada uma delas mais cheia de paixão do que a outra. Pois não é que um de meus parcos leitores enviou-me uma mensagem eletrônica contando uma história que por demais causou-me espanto e admiração. Contou-me ele que um de seus amigos escreveu cartas de amor dedicadas à esposa que jazia em estado vegetativo durante longos e sofridos dez anos, até que finalmente ela morresse. Ao perguntar ao amigo por qual razão as guardava escondidas no fundo do baú sem jamais permitir que outros olhos as lessem, recebeu uma resposta seca. O autor das amorosas narrativas apenas disse que nunca mostrou-as a seu ninguém, nem mesmo aos filhos e amigos mais íntimos porque para ele todas as cartas de amor eram ridículas.

Após relatar-me tal fato, o leitor indagou-me se eu também partilhava da mesma opinião a respeito de cartas de amor. Para ser absolutamente sincero e fiel ao que penso, devo dizer que sim, mas não de todo. Claro que admito ser uma límpida verdade haver um certo quê de ridículo em toda carta de amor, mesmo havendo sido escrita por um escritor de raro talento. O ridículo faz parte essencial, imprescindível de uma carta de amor. Quando se escreve para o ser amado é quando se escreve livremente, sem medo de usar as palavras mais inusitadas da língua, inclusive as mais tolas, as mais chulas sem apelar para eufemismos e meias palavras desnecessárias. Numa carta de amor, a mais profunda intimidade do autor fica escancarada, com todos os seus segredos desvelados, perdidos todos os pudores. Uma carta de amor é uma espécie de escavação arqueológica da alma de quem a escreve, camada após camada, um legítimo, fiel, verdadeiro mapa do tesouro.

Para mim, uma carta de amor é como se fosse uma tomografia do espírito, se não exagero na metáfora, muito embora eu sempre exagere nas metáforas. Isso porque o amor é pródigo em exageros, em exacerbações dos sentimentos, pois se não for assim não é amor. Concordo plenamente com Alfred de Musset: “a vida é um sonho de que o amor é o sonho, e vós tereis vivido se houverdes amado”. E também faço meu um verso de Emily Dickinson: “que o amor é tudo o que existe/é tudo o que sabemos sobre o amor”. Portanto, numa carta de amor o ridículo carece de importância. Uma carta de amor não pode ser avaliada por nenhum dos padrões estéticos inventados pela humana mente. Uma carta de amor trata-se de um caso à parte em matéria de linguagem. E não se enganem com as aparências nem exigências da gramática e da ortografia.

Até os analfabetos fazem cartas de amor, ditando-as para alguém capaz de escrevê-las. Se todos nós temos o direito de cantar, por mais desafinados que sejamos, todos nós podemos escrever cartas de amor. Duvido que exista um único ser bípede e pensante que jamais escreveu uma carta de amor, mesmo as mais simples, sem arroubos. Pode não a ter enviado ao objeto do seu amor temendo ser ridicularizado ou sofrer uma rejeição. Mas que escreveu, escreveu. Equivocado está quem pensa serem as cartas de amor somente feitas de água com açúcar. Há cartas de amor repletas de ódios, de rancores, de queixumes, de lamúrias, do tradicional adeus para nunca mais. Por isso, meu caro leitor, não se deixe tolher pelo receio de parecer ridículo e escreva as suas cartas de amor de coração aberto, sentimentos à mostra feito uma fratura exposta.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Bom texto de Opinião !!!

O dia em que a Isabela chegar certamente eu vou ser uma das pessoas mais felizes do mundo. Isabela, para quem não sabe, é o nome que escolhi para minha filha. Mas a Isabela não deve chegar este ano (nem nos próximos 3), afinal, ela é um projeto para 2015. Até lá eu brinco com meus sobrinhos fofos e me divirto com os amiguinhos que faço por aí. Adoro crianças. Tenho a maior paciência e amo brincar com elas. Só não suporto criança metida e birrenta, que se atira no chão quando quer alguma coisa e dá showzinho.


Sempre achei que os pais têm uma responsabilidade imensa. Não é fácil colocar uma criança no mundo. Acredito que no momento em que você tem um filho transmite tudo de bom que recebeu e tenta melhorar o que viu de errado na educação que seus pais lhe deram.


Ontem eu fiquei realmente preocupada. Assisti um programa chamado "Pequenas Misses", no Discovery Home & Health. É um absurdo o que fazem com menininhas de 3, 4, 5, 6 anos. As pequenas se depilam, fazem bronzeamento artificial, usam maquiagens pesadas, roupas totalmente fora de propósito. Tudo isso pra quê? Para massagear o ego das mães? Para elas se realizarem vendo as filhas ganhando títulos? Acho um completo absurdo.


Criança tem que brincar de boneca, não andar de salto alto. Criança tem que usar maquiagem de criança, pular amarelinha, andar de balanço, brincar de pega-pega, de boneca, de Barbie, de casinha. Ao invés de se depilarem elas têm é que correr de pé no chão. Fiquei me perguntando: o que passa pela cabeça dessas mães (se é que elas têm algo dentro da cachola)?


O que vejo por aí são mães completamente alucinadas e sem a menor noção da realidade. O Fashion Weekend Kids reúne diversas socialites mirins (clique no link e se horrorize com a matéria que saiu no Estadão) e suas mães sem cérebro. Tanto que uma delas fez a seguinte afirmação: "Eu não imagino minha filha colocando uma roupa da Renner nem para dormir." É desse jeito que elas querem passar bons valores para as filhas? Elas acham que vivem em que mundo? "Elas não querem mais bufê infantil. Querem ir para Paris."


Qual será o futuro dessas meninas? Fico com pena. Não deve ser fácil crescer em um ambiente onde a futilidade impera. Tem que ter muita cabeça e saber segurar a própria onda para não se tornar uma perua maluca ou uma adolescente rebelde drogadita. Não pense que estou generalizando, já vi isso acontecer muitas vezes. É por isso que quando a Isabela chegar vou procurar mostrar o mundo - exatamente como ele é - desde cedo.