terça-feira, 30 de agosto de 2011

Coluna de Anderson Martins - SUPERVASCO - Taças e títulos todos têm... 23 de Agosto 2011

Excelente coluna desse competente jovem do sitio SUPERVASCO - Expressa o sentimento de todo Vascaíno - Vale a pena ler !! 

..mas essa história linda e marcante... só o Vasco da Gama tem. Um clube marcado pela luta contra uma das piores mazelas que uma sociedade pode carregar: O preconceito. E o preconceito ia além da cor da pele. Ele ia desde o preconceito racial até o social. Existia o preconceito com os imigrantes portugueses, que eram em sua grande maioria comerciantes e trabalhavam duro, de sol a sol, e eram tachados de analfabetos e etc.

Da junção disso tudo surgiu um clube. Um clube que até hoje não conta com a simpatia da grande mídia. Um clube que desde cedo teve que lutar pelo seu espaço na sociedade esportiva nacional. E que até hoje luta a cada dia pelo seu espaço mesmo sem ser o queridinho. E como disse o Gustavo da Área 21 no domingo: “Isso nunca vai mudar!”. E é verdade, essa predileção pelo rival da Gávea nunca vai mudar.

Mas não é sobre isso que quero falar. Quero falar de um clube que foi fundado sobre os alicerces da luta, mesmo que silenciosa por vezes contra o apartheid social que o Rio de Janeiro vivia no inicia do século passado. E esse mesmo, desde já, fez a sua opção, a sua escolha. E essa escolha determinaria que esse mesmo clube não fosse somente da colônia portuguesa. Essa escolha, essa opção, tornou esse clube popular, e abrigou a todos independentemente de sua condição social e racial.

E foi por isso que escolhi esse clube para amar, não só para torcer. Se o Vasco acabasse hoje eu não ousaria torcer por nenhum outro clube. Se o Vasco nunca mais ganhar nada, nem mesmo um torneio de categoria de base, eu continuarei a torcer pelo clube. E isso tudo é para expor os meus motivos pessoais, que me fizeram escolher essa idéia viva chamada Vasco da Gama.

Como bem disse o meu amigo Weber Fadel: “O Vasco é uma Maçonaria. Só que aberta”. Sim, somos uma família. E se formos analisar bem o sentido da palavra família, vamos entender ainda mais os motivos que nos fizeram escolher esse clube, essa idéia, para amar e carregar no peito até o fim. Não quero aqui dizer que quem não segue o Vasco está errado ou é pior do que nós. Longe disso, pois se assim estivesse procedendo, estaria eu indo de encontro a tudo que prego. Quero dizer que seguir essa idéia é algo diferente.

E hoje, depois de tantas dificuldades que passamos, depois de oito anos em que o clube fora rebaixado não só de divisão, mas de importância, eis que o vemos ressurgir não das cinzas, mas da sua glória que sempre será imaculada. O que o Vasco é ninguém vai mudar. Podem nos ignorar o quanto quiserem, mas a história já está escrita. E é essa história que me deixa emocionado a cada 21 de agosto. Porque só entende o que é ser Cruzmaltino quem é.

E hoje não quero falar de jogo algum. O que quero falar é que me sinto feliz demais por existir essa família que dia após dia vai se fortalecendo. Vemos mais camisas do Vasco nas ruas. Vemos mais fraternidade, e apesar de ainda existirem adeptos da selvageria, esses logo logo serão esquecidos. Ou talvez se voltarão para o propósito inicial de seguir à idéia e não a uma pessoa. Porque as pessoas falham... mas as idéias não!

Parabéns Vasco da Gama!

Obrigado por existir. Obrigado por seres mais que um clube de futebol. Obrigado pela escolha de agregar a todos, portugueses, nordestinos, negros, mulatos, pobres, ricos, analfabetos, letrados, doutores, estudantes, mulheres, homens, judeus, cristãos, mulçumanos, pais, mães, filhos, filhas, netos, avós, avôs... a todos!

Um clube que se iniciou com um grupo e que se expandiu.

Nada mais democrático.

Nada mais social!

Ao Vasco tudo!

Música da semana: Jane’s Addiction – Just Because

domingo, 7 de agosto de 2011

Sandice dos neurocientistas - Cleto Brasileiro Pontes - Publicada no jornal O POVO em 7 Agosto 2011


"Inúmeras pesquisas nos Estados Unidos estão sendo feitas sobre a importância do beijo na boca. Helen Fisher, na Universidade Rutgers, descobriu que o ósculo provoca uma reação de prazer, motivação e recompensa comparável à cocaína. Imagens constataram uma estimulação no Sistema Nervoso Central, achado que nos leva a refletir sobre o valor científico dos nossos sentimentos.

Nem toda cultura valoriza o ósculo bucal. Ainda no século XX, na Finlândia, gêneros diferentes tomavam banho juntos, mas o beijo era indecente. Na China, o beijo reenviava à ideia de canibalismo. Na Mongólia, os pais beijam as cabeças de suas crias e, na Rússia, macho beija na boca de outro macho. No nosso Nordeste, o rei do baião, Luis Gonzaga, canta que o bom mesmo é cafungar no pescoço e Carolina é a nossa lira.

Como já dito em outras ocasiões, cor e gosto se discute, no entanto é indiscutível a força do olhar. Como acredito no amor à primeira vista, acredito também no olhar promíscuo. Os jovens dizem: é uma questão de química. Tradicionalmente, no Antigo Testamento, a força do olhar era valorizada, advindo, portanto, de uma tradição milenar. Se a razão é louca ou a loucura habita no seu cerne, a função dela é apenas a de ser guardiã. Portanto, o olhar tem o seu poder monárquico, impera, é o rei.

Na arte gastronômica, desconheço cultura em que o olhar seja desvalorizado. Literalmente comemos com os olhos. Dependendo da cultura, os demais órgãos do sentido são apenas auxiliares.

No Vietnã, o peixe podre é apreciado, assim como o máster, queijo com odor de fezes, é bastante valorizado pelos franceses. Ou seja, em ambas as culturas, o olhar vai à frente e o paladar segue a reboque. Ah! Como boas são as festas juninas, nas quais canela, cravo e outros cheiros mouros invadem a nossa sensualidade!

Infelizmente, os nossos pesquisadores, em sua grande maioria, são reféns do sistema consumista e de produção em escala. Como pneu é um pneu, parodiando a propaganda mais óbvia vista, beijo é um beijo, embora não possamos deixar de sonhar. Mais valorizar tanto o ósculo é sandice. Melhor e mais importante seria o cuidado com a nossa saúde bucal.

De forma alguma, desdenho o valor do afeto e, muito menos, a arte de amar, mas pesquisas como esta, além de maliciosas, estimulam o simples desejo de consumo e é anacrônica.

Em 1968, Roger Vadim realizou o filme Barbarella, bem encenado por Jane Fonda, estabelecendo o seu status como um dos maiores símbolos sexual dos Estados Unidos, no fim dos anos 60. Mal podia imaginar Roger, morto no ano 2000, que tal pesquisa tola viria acontecer em pleno século XXI."

Cleto Pontes
cletopontes@uol.com.br
Médico Psiquiatra e professor da UFC

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Crônica de Pedro salgueiro escritor cearense

Pedro Salgueiro - Tarântula - 3 Agosto 2011


"A tarde passa devagarinho. Vou de novo ao portão, olho inutilmente a rua. Uma felicidade me invade, também vagarosa, sem alardes. Ele demorará ainda, conversando em algum boteco — as benditas partidas de damas na praça. Deito no sofá, saboreando cada segundo de sua ausência. De repente a ânsia, o aperreio de ver a noite chegando. Deslizo pela centésima vez até o jardim, volto para a rede estirada na varanda. Pego o telefone e ligo às amigas, destilo veneno a respeito dele; sua impertinência, o jeito rude ao falar comigo — contrasta com a delicadeza no trato com os estranhos. Recebo apoio, conselhos... quando sinto que já o estão quase odiando, retraio-me: concedo-lhe duas ou três qualidades. Me despeço triste. Preparo o café, lavo com carinho sua xícara preferida — que ele também é metódico, repetitivo: come no mesmo canto da mesa faz séculos, o mesmo pigarreio quando acende o cigarro, os mesmos olhos perdidos na imensidão da janela — maldita indiferença a que estamos destinados na vastidão desta casa vazia. Pego-me cantarolando uma musiquinha antiga, que já foi nossa um dia — quando nossos cheiros ainda agradavam, a pele ficando arrepiada, a outra utilidade da cama. A penumbra toma conta da casa, deixo-me vagar pelos quartos, diviso a porta da cozinha e ganho o quintal: no horizonte a primeira estrelinha. Escuto um ruído, apresso-me na intenção da entrada — mais um alarme falso dentre os muitos desta tarde-noite. Mastigo devagarinho meus rancores, esmago o resto do cigarro na mão. Sento novamente no sofá, ligo a televisão, fecho a porta com raiva; desligo o aparelho — seu ruído não combina com nada neste instante. Finalmente o barulho no portão, o ranger de chaves característico; o arrastar medonho da sandália no carpete — levanto-me de repente, o coração aos pulos. Espero todo o seu ritual de chegada, os movimentos vagarosos. Em seguida entrará na sala, reclamando da escuridão, e permaneceremos em silêncio pela noite adentro. O coração continua aos pulos, a respiração ofegante, tento disfarçar, enquanto o beijo, fecho a porta atrás de mim, retiro a chave e a coloco bem fundo no bolso do vestido."