O dia começou com um incidente em tudo por tudo sumamente desagradável. Meu sambado computador cismou de quebrar, me deixando a ver navios e de calças na mão. Também pudera. Há mais de três anos, sendo utilizado diariamente, já era de se esperar que, mais dia, menos dia, minha máquina de escrever metida a besta entrasse em parafuso. Lógico que fiquei um tanto quanto aperreado e com justa razão. Estava enfiado num sério problema de ordem prática. E agora? Como fazer para enviar a crônica do dia para a redação do jornal? De imediato, entrei em contato com o amigo Fábio, competente conhecedor do assunto, um perito quebrador de galhos, que faz tempo me socorre nessas horas de aperreio cibernético, capaz de realizar verdadeiros milagres com suas mágicas ferramentas, habituado a dar um jeitinho nesses casos.
No entanto, dessa vez, após examinar pacientemente peça por peça a eletrônica aporrinhola, deu-me o diagnóstico fatal, com o ar grave de um médico comunicando à família a morte de um doente terminal. Não se tratava de um defeito banal. Uma tal de placa mãe havia queimado, ficando fora de combate de modo definitivo. E só me restavam duas caríssimas opções. Comprar um quite ou uma CPU novinha em folha, pois iria custar quase o mesmo preço. Encetamos, então, uma indispensável pesquisa junto às lojas especializadas no ramo. Juro por todos os santos haver tomado um baita susto ao saber o quanto teria obrigatoriamente de gastar. Cerca de oitocentos reais, caso quisesse adquirir um material de boa qualidade. Ora, para quem vive tentando equilibrar o doméstico orçamento, contando tostão por tostão, oitocentos reais não se trata de nenhuma bagatela, mesmo pagando em escorchantes prestações na base do cartão de crédito.
Forçado pelas monetárias circunstâncias, pois se não escrever as cotidianas mal traçadas, O POVO deixa de depositar em minha conta o rico dinheirinho por mim tão precisado, tive de topar a custosa empreitada. É nessas horas que me bate uma saudade danada da distante época em que escrevia usando a máquina de datilografia que passava décadas sem apresentar o mínimo defeito. De manhã cedinho, lá se vinha o motoqueiro do jornal apanhar a croniqueta do dia. Dava-me mais trabalho, é claro, sujava os dedos com a tinta do papel carbono, porém, além da finada aura romântica, eu não ficava sujeito às variações do humor de um maldito computador, que num dia funciona a todo vapor e no outro, pifa de repente, me deixando na mesma situação de um lavrador sem o seu arado, vendo urso de gola.
Mal a tarde deu o ar de sua graça, enquanto a amada ia resolver a questão, eu restava meditando, gravebundo e sorumbático, sobre minha tecnológica desdita, eis que surge um telefonema salvador, acendendo a luz no fim do túnel. Um grupo de fraternos companheiros me ligou das mesas do Ideal, convidando-me a reunir-me com eles para matar as saudades entre comes e bebes. Contrariado, expliquei o motivo porque não podia aceitar o agradável convite. Ao saberem da razão, disseram que eu deixasse de lado tal preocupação, pois iriam me presentear cobrindo as despesas do novo computador, tendo em vista a proximidade de meu aniversário. Apesar de meio constrangido, não houve como recusar a generosa oferta, cada vez mais convencido de que quem tem amigos fiéis e padrinho, jamais morre pagão. E eu sou a humana prova disso, sem sobra de dúvida. Eu e os meus salvadores da pátria.
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