Embora não tenha tanto apreço e apego ao telefone, não sou eu quem vai deixar de considerá-lo uma das maiores invenções já criadas pela humanidade. Para mim, o invento de Graham Bell está na mesma categoria com que trato os carros. Trata-se apenas de um objeto útil e prático a facilitar as atividades, as tarefas necessárias ao desenrolar do meu cotidiano, tanto no trabalho como nas relações de amizade. Sem a utilitária engenhoca, como chamar um táxi em uma noite de chuva torrencial em que você precisa ir a algum lugar onde é esperado para um compromisso inadiável? Como ligar para a polícia no caso de um ladrão andar rondando a sua casa? Marcar uma consulta médica, pedir o urgente socorro de uma ambulância? Combinar um sorrateiro encontro de amor? Bloquear o seu cartão de crédito quando você o perde ou lhe foi roubado? Como saber se seus filhos estão passando bem ou se meteram em alguma enrascada quando batem as asas para longe do ninho doméstico?
O telefone, feito qualquer máquina, tem lá as suas qualidades e suas inevitáveis aporrinhações. De repente, você está merecidamente aninhado nos braços de Morfeu, depois de um longo e exaustivo dia de trabalho e no meio da madrugada ouve o metálico tilintar do telefone. Você acorda estremunhado, os olhos ainda pesados de sono, sai correndo da cama, pensando agoniado que só pode haver acontecido uma tragédia e ao tirá-lo do gancho, finda por se deparar com um maldito trote ou a voz de algum bêbado pedindo trôpegas desculpas por uma ligação errada. Nessas horas, chega a borbulhar em mim um desejo assassino de estraçalhar o desgraçado do outro lado da linha que acabou de furtar o meu sossego impunemente. Sem falar na praga inextinguível dos vendedores telefônicos que insistem em lhe oferecer serviços e produtos que você não pediu nem está interessado em adquiri-los, seja quais forem os prêmios, facilidades de pagamento. Verdade seja dita: o telefone acabou, de uma vez por todas, com o precioso bem da privacidade.
Todavia, há de se convir ser o telefone um poderoso e eficaz remédio a ser usado para combater a solidão mais desalmada que pode acometer qualquer cristão quando menos esperada. Você está solitário, imerso em pensamentos prenhes de um doloroso negativismo, com vontade de pular fora do mundo na próxima parada, achando, por vezes com razão, que a sua vida é uma merda sem tamanho e que não mais vale a pena continuar remando contra a maré. E, súbito, o telefone toca e você ouve a salvadora voz de um grande amigo como uma bendita boia lançada a quem está prestes a afogar-se num mar de cava depressão. E você recupera prontamente o ânimo perdido conversando sobre suas desditas momentâneas ou duradouras, desabafa as suas mágoas, os seus queixumes aos ouvidos pacientes, tolerantes, generosos do amigo que lhe telefonou na hora agá, como se adivinhasse que você está mais do que dele precisado. A amizade detém esse mágico poder de ressuscitar os infelizes que estão se finando de tristeza feito uma planta que se fana num canto esquecido de jardim.
Por falar em telefone, eis que a prestigiosa e respeitável Organização Mundial de Saúde acabou de lançar um amedrontador aviso aos navegantes, alertando para os possíveis perigos causados pelo uso demasiado frequente dos celulares. Os populares aparelhinhos foram classificados como letais portadores de um potencial cancerígeno, devido à radiação que emitem. Os celulares, segundo apurados estudos científicos, são comparados ao chumbo, ao amianto, ao tabagismo, aos vapores de gasolina. A radiação do celular pode cozinhar o cérebro tal e qual um forno de micro-ondas faz com os alimentos. Ao saber da infausta notícia, liga-me, agoniado, o meu irmão Carlos Augusto Viana, sequioso de mais informações. Apesar de imortal pertencente à Academia Cearense de Letras, o poeta anda bastante preocupado, pois é dono de seis maquininhas, sendo usuário exagerado de todas elas, muitas vezes ao mesmo tempo. Calma no Brasil, meu poeta, pois tais estudos são considerados inconclusivos. Felizmente, não será dessa vez que entrarei na sua vaga pelos acadêmicos portais.
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