domingo, 26 de junho de 2011

Airton Monte - Comigo não, violão - 25 Abril 2011

Airton Monte - Comigo não, violão - 25 Abril 2011

Cada um ganha o pão de cada dia da maneira que pode, segundo as suas próprias e pessoais escolhas. Alguns se saem muito bem. Outros se dão mal e acabam entrando pelo cano, ficam marcando passo sem sair do lugar. Enquanto alguns, seja lá como for, alcançam o sucesso desejado, conseguindo chegar ao cimo da pirâmide social. Daí, o mundo ser dividido entre perdedores e ganhadores, caso se leve em conta somente o fator de amealhar uma polpuda conta bancária. Visto, analisado sob este prisma, evidentemente não passo de um pobre derrotado por não possuir fartos bens materiais capazes de garantir-me um futuro tranquilo, confortável velhice e o porvir dos meus descendentes até a quinta geração. Sou um lascado pertencente à classe média agoniada e devo reconhecer que o único culpado pela minha condição sou eu mesmo, mais ninguém.

Também, quem mandou preocupar-me mais com as coisas da cultura, investir em acumular conhecimento ao invés de grana? Sei que poderia haver tentado conciliar, a contento, as duas atividades, mas esse negócio besta de tornar-me um escritor de província fez tal intento impossível de ser realizado com idêntico sucesso, se é que se pode chamar de sucesso fazer parte da história da alencarina literatura, pois mesmo uma pequena fama de homem de letras é tão efêmera como um castelo de areia esculpido na beira da praia, cujo fim é ser inteiramente desmanchado pelas ondas. Portanto, a esta altura da vida, o único jeito que me resta de ficar rico é tirar a sorte grande na loteria em uma improvável oferenda do acaso. Pelo andar da carruagem do existir, viverei até o fim dos meus dias morando de aluguel e sobrevivendo dos proventos de uma mísera aposentadoria.

Todavia, como um bom cabrito não berra, longe de mim transformar-me num perene poço de lágrimas, numa torrente artesiana de queixumes, a maldizer os ventos da fortuna que me coube. Prefiro tirar da vida minha porção de alegria e deixar as tristezas e aflições que me atazanam pra lá, porque aprendi que de nada adianta chorar o leite derramado. Quem se acostuma a carpir, inevitavelmente desaprende a sorrir. Lamentar, a gente se lamenta de quando em vez, pois faz parte da humana condição. Afinal, emoções existem para ser sentidas, expressadas. Não para se transmutarem em hábito que só nos traz mais sofrimento e nos transforma em insuportável incômodo na convivência com nossos semelhantes. Feito Nelson Cavaquinho, a sorrir eu pretendo levar a vida, sempre sonhando meus sonhos prediletos, dormindo ou acordado.

Porém, acho que nem tudo está perdido. Inda resta o lume tênue de uma vela no fim do escuro túnel que percorro. Li numa revista um anúncio, no qual um suposto milionário escocês divulga um manual por ele escrito, com o sugestivo título de Princípios de Riqueza Instantânea, em que promete ensinar aos compradores todos os segredos sobre a ciência de enriquecimento rápido. De tão confiante na eficiência de seus ensinamentos, o simpático fazedor de novos ricos promete devolver os setenta reais gastos na compra de seu utilíssimo livro, se dentro de noventa dias o comprador não triplicar seus ganhos. E vai além, garantindo que se você enriquecer, não cobrará nenhum centavo a mais. Após tomar conhecimento da generosa oferta, fiquei na dúvida se compraria ou não a miraculosa obra, mesmo sabendo que de esmola grande cego desconfia. Quanto mais eu, que sou míope de guia.


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