terça-feira, 21 de junho de 2011

Airton Monte - Medo de Avião 1 Abril 2011

Voltando a publicar as excelentes crônicas de Airton Monte - Depois de quase três meses!!


Medo de avião


Lá bem no alto, no cume do céu, um avião de carreira como um cometa de prata atravessa a floresta densamente fechada de nuvens plúmbeas carregando sua carga humana. Desconheço seu destino final, quem sabe aonde vai? Talvez para um lugar distante que jamais visitarei. Ou, quem sabe, aterrissará em uma cidade mais perto do que penso. Imagino as cenas que se passam a bordo enquanto o veloz pássaro metálico segue seu rumo por mim ignorado. Certamente haverá em seu bojo aqueles passageiros iguais a mim, que morrem de medo de voar e só pensam em tragédias, catástrofes, desastres que costumam encher as páginas dos jornais. Estes, durante todo o percurso, mantêm-se crispados nas poltronas, a tensão, o medo expostos nas faces pra todo mundo ver, sem importar-se com a mangoça alheia.

Alguns, mormente os marinheiros de primeira viagem, só embarcam depois de tomarem umas boas doses etílicas de coragem, tentando controlar a fobia que os assoma dos pés à cabeça. Outros preferem ingerir um tranquilizante qualquer, uma muleta química que os ajude a atravessar o que pensam ser uma ponte balouçante sobre um terrificante abismo. Há aqueles mais temerosos que, por via das dúvidas, não hesitam em fazer promessas aos santos de sua devoção na busca aflita de um adjutório metafísico para que a viagem finde dentro dos esperados conformes e em bons termos. E mesmo assim ainda murmuram orações o tempo inteiro, um terço, um rosário pendentes entre os dedos a fim de se sentirem mais protegidos contra os azares da sorte.

Afirmam os mais sábios especialistas do ramo ser o avião o mais seguro dentre os meios de transporte e que é muito mais provável o sujeito ir dessa pra pior numa prosaica queda da cama do que em um desastre aéreo. Já eu compartilho da mesma opinião do poeta Vinícius de Moraes, que também não morria de amores pelas viagens de avião e que justificava seu pânico comentando como é que podia ser tão seguro assim um aparelho mais pesado do que o ar e movido pela energia de motores a explosão? Também acho, apesar de todas as afirmações e estatísticas em contrário. Sei lá. E se o bicho resolver dar zebra logo no meu voo, me levando pros confins do beleléu? E me reduzindo a um número a mais no rol dos acidentes por mais rara que seja a possibilidade. Prefiro não arriscar-me à toa e só entro num aeroplano se for caso de urgência extrema e não houver jeito de chegar aonde sou forçado a ir.

Juro que nutro uma profunda, imensa inveja daqueles que são destituídos do pavor avionário e que se sentem tão à vontade dentro de um Boeing como se estivessem confortavelmente em casa, mansamente instalados em sua poltrona predileta gozando as delícias de um domingo solar. Penso que a popular expressão voar de avião jamais constou nem constará de meu dicionário pessoal pelo fato de que dentro de uma aeronave você não voa. Na verdade, você é voado, pois nenhum homem, ao que eu saiba, nasceu dotado de um par de asas. Para piorar a situação, dizem que a maior parte dos desastres aéreos é fruto de falha humana, como se as máquinas fossem infalíveis. É por essas e outras que prefiro restar assentado de pés em chão firme, alçando voo somente na minha imaginação, animal bípede e pensante que sou por minha própria natureza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário