quarta-feira, 29 de junho de 2011

Airton Monte - Dom Juan Espacial - 22 Junho 2011

Airton Monte - Dom Juan Espacial - 22 Junho 2011


Histórias há. E quem as conte, mesmo as mais inverossímeis, que fogem ao ritmo natural das coisas, beirando, muitas vezes, às fronteiras do fantástico, dessas em que somente são capazes de acreditar aqueles dotados de uma pétrea credulidade. Claro, existem os inabaláveis céticos de plantão para compor o indispensável contraponto, os São Tomés que somente creem no que podem tocar e ver, em cuja mente não recebe qualquer guarida tudo o que se encontra além da comezinha realidade do mundo em que vivemos. Para os escritores, graças ao bom Deus, os crédulos superam os céticos por uma benfazeja e esmagadora superioridade numérica. Do contrário, o que haveria de ser de nós que sobrevivemos de contar histórias por vocação, ofício, profissão. Histórias há, em saudável demasia, espalhadas por aí, contadas boca a boca ou saídas da fértil imaginação dos escribas. As histórias devem ser contadas de qualquer maneira, dirigidas a qualquer plateia. O fato de serem críveis ou não trata-se apenas de um mero detalhe.

Cá entre nós, meus caríssimos leitores, falando com sinceridade, quantos de vocês acreditam piamente, sem lhes restar a menor dúvida, na propalada existência de seres extra-terrestres, tão presentes no imaginário popular? Relatos inúmeros sobre o aparecimento de discos voadores nos lugares mais inusitados do nosso planetinha se tornaram tão frequentes e habituais em nosso dia a dia, que já nem provocam espanto em quem deles toma conhecimento. O velho Moita, que andou sumido por um tempo, tirando férias como personagem das minhas croniquetas, achou de reaparecer como se houvesse surgido do nada. Exagerado como sempre o foi, não só crê em extra-terrestres, vai muito mais além. O profeta do Benfica garante existirem três tipos de vida:terrestre, extra-terrestre e intra-terrestre. A primeira é a que se leva na superfície terráquea. A segunda é quando a gente bate as botas, vira alma, vai para o céu ou pretinho pro inferno, sem sequer uma paradinha no limbo.

A vida intra-terrestre, segundo o nosso gentilandino Nostradamus, se daria bem exatamente no interior mais profundo do nosso globo. Por lá, uma estranha, ancestral e misteriosa raça de criaturas, até hoje jamais vistas, viveria confortavelmente num paraíso subterrâneo, situado sob as eternais geleiras árticas. A entrada mui secreta, nunca descoberta desse fantástico mundo estaria localizada quase vizinha ao esconderijo do Abominável Homem das Neves e parede e meia com a fortaleza do Super-Homem. Quer se trate ou não de mais uma maluquice do Moita, garante ele que muita gente boa leva o tema em pauta muito a sério, de acordo com o que mostram as suas profícuas investigações. E não há quem o demova dessa ideia, mesmo usando argumentos de comprovado valor científico. E não sou eu quem vai perder tempo em tentar convencê-lo do contrário, abalando suas siderúrgicas certezas a respeito do controvertido assunto.

Aqui no Ceará, a ufologia alcançou uma merecida reputação internacional. Faz tempo que os alencarinos sertões viraram o passeio intergaláctico preferido de nove entre dez turistas espaciais. O Seu Jaborandir, por exemplo. Próspero proprietário de uma rede de suburbanos mercadinhos, faz questão de dizer-se um ufólogo pelo avesso. Para ele, esse negócio de extra-terrestres não passa, em última hipótese, de uma grande enrolação, conversa pra boi dormir, historinha de trancoso. Até que sua adorada caçula apareceu ligeiramente grávida, jurando por todos os santos que o autor da proeza, o verdadeiro pai da criança, é um ET. Evidente que ao saber do surpreendente evento, Seu Jaborandir, na mesma hora, mudou de opinião, virando a casaca. Agora vive se gabando que vai ser avô do primeiro espécime de uma futura raça intergaláctica. Mal sabe o pobre homem que o decantado noivo e futuro genro atende pelo nome de Ubirajara Trozobão, taxista dos bons, que ainda não assumiu compromisso mais sério com a moça por já ser casado em Marte e amancebado em Plutão.


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