terça-feira, 21 de junho de 2011

Airton Monte - Um homem com medo - 6 Abril 2011

Bom texto - Muito bem escrito como é peculiar a esse excelso cronista


Airton Monte - Um homem com medo - 6 Abril 2011


Se os japoneses andam se pelando de medo, e com toda razão, das emanações mortalmente radiativas emanadas dos reatores nucleares de Fukushima, praticamente destruídos pela catastrófica fúria das ondas gigantes, cerca de noventa por cento dos nordestinos morrem de medo de serem assassinados pelo tsunami da violência que se espalha pelo brasílico território de maneira aterradora e incontrolável feito a dengue. E não se encontram neste estado permanente de terror à toa ou por serem uma raça por demais eivada de uma pessimista imaginação. A terrificante realidade com que somos forçados a conviver registra a segunda maior média de homicídios de todas as regiões brasileiras. É ou não é um fato incontestável capaz de assustar o mais tranquilo dos cidadãos?
Cá por mim, na condição de nordestino nato e observador atento de tudo que me cerca, não me nego a confessar que também padeço de idêntico temor, mas que jeito posso dar para diminuir, sem que seja um tantinho assim, esse meu pavor e que não é só meu, pois já atingiu uma significante parcela da população, da qual não está de modo algum excluída nenhuma parcela da nossa desamparada coletividade. Acredito que nem mesmo os que fazem parte do seleto clube da grana farta se consideram fora da possibilidade de risco de perder a vida durante um assalto. Quanto mais eu, um pobre pertencente à chamada classe média aperreada e que só dependo de mim mesmo e da proteção da sorte para minha triste figura e dos meus familiares. Estas estatísticas apavorantes findam por me deixar de coração nas mãos e alma arrepiada.

Dinheiro não tenho o suficiente para me cercar de parrudos seguranças que me garantam parcialmente a física integridade. As minhas minguadas posses materiais me impedem de trafegar em carro blindado, de instalar modernos equipamentos de eletrônica vigilância em meu modesto recesso do lar e me sinto entregue, com um pé na frente e outro atrás, à parca segurança que me é oferecida pelos poderes públicos, o que, havemos de convir, não é lá essas grandes coisas. Não quero dizer que não confio na eficiência da nossa polícia, que faz o que pode e o que dá para tentar oferecer um pouco mais de segurança à alencarina população. Contudo, sabem como é, trata-se verdadeiramente de um confiar desconfiado, que me perdoem as autoridades competentes e os nossos bravos e dedicados soldados da lei. Não é intenção minha ofender a seu ninguém.

Outrossim, estou bem longe de desejar mentir para mim mesmo. Hoje, me considero um sujeito muito mais cheio de medo do que o era há alguns anos passados. E não é pra menos. Está à vista de todos nós, habitantes desta metrópole cada vez mais tomada pela desenfreada violência. A bandidagem em todas as suas formas prolifera de maneira incontida feito uma legião de ratos um terreno baldio entupido de lixo. Que erga a voz em alto e bom tom todo aquele que não vive assoberbado de medo nesta bendita Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Porque eu não tenho pejo em afirmar que sou um homem cheio de medo. O desassossego caminha ao meu lado como uma segunda sombra a cada dia e a cada noite de meu assombrado cotidiano. O medo tornou-se meu desagradável, incômodo companheiro que hei de suportar por um tempo apavorantemente indefinido.

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