Airton Monte - Prazer e Poder - 6 de Outubro 2011
Como não sou de ferro nem fui generosamente aquinhoado com uma paciência de Jó, juro que estou ficando, a cada dia que passa, cada vez mais cansado, aborrecido e sumamente entediado com o quase cotidiano, repetitivo e insistente peditório de certos camaradas que vivem a me aperrear o juízo na busca desesperada de comprimidos para turbinarem os seus desempenhos ao celebrarem no altar de Vênus. Do jeito que vem crescendo o número de pedidos dos milagrosos remedinhos, nem que eu me multiplicasse por setenta vezes sete, acho que não daria conta de atender as crescentes necessidades dessa verdadeira multidão de suplicantes. Faço o possível e o impossível junto aos sempre solícitos representantes dos laboratórios fabricantes de tais remédios, na vã tentativa de conseguir mais amostras grátis do que eles podem me ofertar, por maior que seja a boa vontade que demonstrem e tenham. E a razão é muito simples. É que a oferta é muito menor do que a demanda e nada me resta fazer quanto a isso.
Bem sei, após tantos anos de experiência, a observar atentamente as diversas nuances do comportamento humano, tanto entre as quatro paredes do consultório como na convivência pessoal com meus imprevisíveis semelhantes, que nós, os chamados bípedes pensantes, por vezes muito mais bípedes que pensantes, trazemos uma infinidade de medos trancafiados nos cafundós da nossa alma e que a vida é um desafio constante e uma luta interminável para encará-los de frente e vencê-los. Acaso desistamos dessa briga, estamos literalmente fritos, condenados eternamente ao divã dos psicoterapeutas e ao cuidado dos psiquiatras. O que não é lá um bom negócio nem num caso nem no outro. Ouso afirmar isso mesmo correndo o risco de desfalcar a minha já parca clientela, prejudicando um dos meus indispensáveis meios de ganhar a vida, botar o de comer na mesa, garantir o aluguel, o saldo das contas.
Por ser pertencente ao gênero masculino, é que sei que o homem vive atormentado, em geral, por três grandes medos desde que as galinhas ciscavam pra frente por entre as patas dos dinossauros. O primeiro, exatamente o maior e mais antigo, é o medo da morte, desde que nosso intelecto tomou o fatal conhecimento de nossa finitude e de que, feliz ou infelizmente, não nascemos pra semente. Um certo dia, chega a nossa vez e tudo acaba quando menos esperamos e até agora não sabemos qual o nosso destino final após esticarmos as frágeis e mortais canelas. Há aqueles que acreditam piamente existir outra forma de vida após passarmos desta para pior. Outros há cuja crença se resume ao fato de que depois da nossa terrenal existência, apenas nos tornamos comida dos vermes e pronto, o que era doce acabou-se. E assim, nosso fim último é nos desfazermos em pó, espalhando os átomos que nos formam aos quatro ventos.
O segundo medo que acompanha o macho por toda sua vida é o de ter a cabeça enfeitada por um par de chifres, pespegado cruelmente pela mulher que supomos nossa, seja lá qual for a relação que com ela mantivermos. Sempre provocou um imenso pavor nos homens a terrível e desmoralizante possibilidade de ser corno, mais por causa dos comentários alheios que por orgulho próprio e pela tal de honra pessoal, que alguns de caráter mais primitivo creem que só pode e deve ser lavada e enxaguada com sangue. O terceiro medo que nos assombra a existência é o de falhar sexualmente na hora agá da onça beber água. Não há como negar ser a impotência um constante e inextinguível terror masculino. Nessa sociedade do espetáculo, o desempenho, a performance, principalmente na cama, funcionam como provas cabais, incontestáveis de uma vencedora superioridade sobre os outros homens. Há muito, o falo deixou de ser um instrumento de prazer para tornar-se um viril símbolo de poder. Que pena eu tenho de todos nós.
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