Airton Monte – Da esperança – 25 de Outubro 2011-10-31
Folheio, sem nenhuma pressa, os jornais do dia. Há notícias boas, alvissareiras espalhadas pelas páginas diversas dos nossos matutinos. Em algumas grandes capitais do país, os jovens saíram às ruas em marchas pacíficas protestando contra a corrupção que grassa e enlameia as nossas respeitáveis instituições. É, acho que já estava mesmo na hora de criarmos um pouco mais de vergonha na cara e abandonar o omisso papel de boi no pasto, esperando que as necessárias mudanças caiam do céu pondo milagrosamente um ponto final na deslavada roubalheira que infesta a nação. Havemos deixar, a qualquer custo, de bancar os palhaços, observando de boca calada a cada vez mais crescente quadrilha de ladrões do dinheiro público cometer as suas bandalheiras e permanecer impune ostentando sua eterna cara de pau e cheia de absoluta certeza que permanecerá impune com a habitual desfaçatez. A juventude nos deu, a todos, um belo e magnífico exemplo de rebeldia civil. Resta-nos seguir o seu exemplo.
Finalmente, após um longo e tenebroso inverno, teve fim a epidemia das greves. Professores, carteiros, bancários enfim retomaram as suas essenciais atividades, livrando-nos do desamparo a que estávamos sofridamente relegados. Entanto, os policiais civis agora iniciam seu movimento paredista e a bandidagem ri às bandeiras despregadas, feliz com a situação e com o aumento livre dos seus territórios de caça. E nós, pobres cidadãos comuns, vamos ter de nos habituar, resignadamente, a viver sob o domínio do medo e o reinado da insegurança, além de percorrer uma verdadeira via-crucis para registrar um simples boletim de ocorrência. Viver em Fortaleza vai, a cada dia, se tornando uma atividade de alto risco e demasiado povoada de perigos. Num único fim de semana, em pouco mais de 24 horas, 15 pessoas foram assassinadas; 13 homicídios ocorreram somente na área da chamada “Grande Fortaleza”. Meu Deus, aonde vamos parar com tanta disseminação desenfreada de violência?
Nem eu sei e acredito que não há quem saiba quando voltaremos a desfrutar de um pouquinho, um tiquinho de paz em nosso agoniado cotidiano. Assaltos também viraram um acontecimento comum nas cidades do interior e não se passa um dia sem que as quadrilhas de modernos cangaceiros explodam caixas eletrônicos, colocando em polvorosa os aterrorizados habitantes de cidadezinhas outrora calmas e nelas podia-se dormir de janelas abertas em sossegada tranquilidade. Não dá para negar o óbvio. Os quadrilheiros estão mais organizados e audaciosos do que jamais estiveram. Os bandos de criminosos estão cada vez mais poderosos, muito do bem armados com artilharia pesada, dispostos a tudo e de há muito perderam o medo das frágeis e impotentes forças da lei. Formam organizações bem estruturadas e fundaram a empresa Crime S.A. e só nos falta mesmo que a registrem nas juntas comerciais, de tão organizadas que são e se tornaram.
Isso sem falar nas crises que afetam a economia mundial, nas guerras civis que se alastram pelo Oriente Médio, com a população se rebelando contra a tirania secular dos ditadores a ferro e a fogo, no recrudescimento dos atentados terroristas, nos banhos de sangue, no genocídio dos inocentes por todos os cantos do planeta. Entre nós, paira novamente, após estar ilusoriamente posto sob controle, o apavorante fantasma da inflação, nos tirando o sono, nos amedrontando com a possibilidade de que nos aconteça o pior, muito embora os brasílicos mandatários garantam que o Brasil está imunizado contra um vendaval inflacionário. E não precisamos temer a volta das maquininhas de remarcar preços nas gôndolas dos supermercados. Porém, apesar de tais declarações apaziguadoras de aflições, cá por mim, permaneço com o desconfiômetro ligado e me apegando com todos os santos para que o pior não venha a suceder e a esperança não seja a primeira a morrer em nossos corações.
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