Boa muito Boa a crônica!!!
Que alevante bem alto o braço e atire a primeira pedra aquele que, dentre os poucos que ora me leem, nunca pensou em fazer alguma tremenda besteira na vida ou concretamente não a fez? Pois eu, coberto da mais franciscana humildade, sinceramente confesso que durante o meu breve existir muitas besteiras pensei em perpetrar e tantas delas cheguei a cometer que as esqueci de contar. Afinal de contas, apesar de ser um modesto psiquiatra, por força e experiência de ofício, deveria manter o mais possível a cabeça no lugar, também sou filho de Deus. E, portanto, estou sujeito a falhas variadas, a deslizes sem conta no meu humano comportamento. Não é de espantar, então, que eu traga no rol dos meus pecados mortais e veniais algumas piramidais bobagens perpetradas quando me encontrava movido por certos impulsos que até hoje, para mim, carecem de uma razoável explicação, de um motivo que me satisfaça a contento a razão.
Sim, por que hei de negar os meus malfeitos presentes e passados, na vã e inútil tentativa de enganar, iludir, ludibriar os meus parcos leitores passando uma falsa, mentirosa imagem de bonzinho, de santinho do pau oco, coisa que absolutamente não sou? Melhor contar logo a verdade sem abusar de meias palavras, de desnecessários eufemismos. Prefiro que os meus leitores me conheçam de verdade, saibam de mim do jeitinho que eu sou, sem que a sombra da dúvida venha toldar o nosso conhecimento antigo ou recente. Realmente, sou o que sou, tal e qual penso e escrevo, pela simples razão de que me é impossível assim deixar de sê-lo. Nada de fingimentos, de ilusionismos baratos, de representar um papel para o qual dotado não sou de vocação. Quero aparecer aos olhos de quem me lê sem fantasia, de cara limpa. Se de mim gostarem como me apresento, minha satisfação será imensa e meu ego agradecerá penhorado, com discreta vaidade.
Quanto aos que me rejeitarem, aceito sua abalizada opinião humildemente, e é bom que assim seja, pois a unanimidade me assusta com sua burrice esférica, além de uma inutilidade sem par. Sem querer filosofar como se estivesse numa mesa de botequim, acho que a unanimidade é o legítimo túmulo da inteligência, a moradia preferida da legião incontável dos cretinos fundamentais e dos chatos de galocha. Gosto de escrever como se estivesse cara a cara com o leitor, sentados frente a frente, olhando-o diretamente dentro dos olhos, contando-lhe uma história qualquer, triste ou alegre, uma lembrança que me veio de repente à tona da memória, falando-lhe sobre uma experiência que vivi e que pode muito bem ser um tanto parecida com alguma que ele também possa haver vivido. Dizer-lhe, com uma sinceridade quase suicida, o que me vai na alma, o que penso sobre certos assuntos polêmicos e que, talvez, ele nem esteja disposto a escutar.
Tornar-me de um simples estranho em um conhecido, como se minhas pobres palavras tivessem esse poder que tolamente suponho e imagino. Asneiras, repito sem medo de errar, as obrei de montão, na juventude e na velhice. Talvez seja o moleque safado que habita em mim a impelir-me continuamente a praticá-las, vez em vez, aqui e ali, quando ele me flagra com a guarda baixa e as defesas desprevenidas. Só para dar um tímido exemplo dessa minha peralta faceta, um dia desses, com o juízo desocupado e superego na vadiagem, me veio à mente uma espantosa parvoíce. Criar um perfil falso na Internet, inventar um avatar protegido pelo anonimato esconso das redes sociais. Transformar-me em um ser virtual, inexistente na vida real, totalmente diverso do que sou. Não me seria difícil construir um personagem até deveras interessante. Contudo, logo desisti da parva ideia graças a meu narcisismo, que me fez ver, a tempo, que o personagem mais interessante que eu conheço sou eu mesmo.
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