Airton Monte - O Farsante - 10 de Outubro 2011
Como todo sujeito que escreve regularmente em jornal, recebo, com certa assiduidade, mensagens de quem me lê de maneira frequente ou mesmo ocasional. Algumas me agradam sobremaneira, elogiando estas cotidianas mal traçadas, massageando meu ego, espicaçando a minha fútil vaidade. Outras, entanto, repletas de críticas acerbas, leves ou pesadas, mui naturalmente não me soam agradáveis porque tendemos, por mais que nos vigiemos, a achar que dificilmente erramos e que a certeza, a correção anda de mãos dadas conosco e jamais com os nossos semelhantes. Todavia, ultimamente alguns leitores passaram a me dizer que ando demasiado chegado ao pessimismo, que só falo de minhas doenças e uns chegaram até a desconfiar que estou ficando um tanto quanto hipocondríaco e que já está mais do que na hora deste humilde cronista começar a variar os seus assuntos, mudando o rumo da conversa para evitar tornar-me chato, repetitivo, sem graça. E eu ora me pergunto: será que eles não estão cobertos de razão?
Por onde andará o meu senso de humor? Em que estrela, em que universo se esconde nestas tardes claras e vazias de outubro? Cadê o Airton Monte de riso fácil, de alma alegre, de croniquetas suaves, que só parecia ver o lado bom da vida, cujas palavras estavam plenas de luz, transparências, amenidades, de temas otimistas, nos quais lugar sequer havia para queixumes, lamúrias, lamentações infindáveis? Pois é, quem diria que um autor de crônicas tão digestivas, tão saborosas de se ler em qualquer lugar, qualquer hora, viesse a se transformar num paulificante pessimista profissional a esta altura do campeonato. Ah, leitores meus, humildemente lhes peço, lhes suplico que me perdoem se, por vezes, eu findo por lhes encher o honorável saco ao chorar o leite derramado da minha vaquinha de estimação que acabou indo pro brejo nestas últimas semanas.
Juro por todos os santos e prometo modestamente genuflexo que de hoje em diante encetarei um esforço inaudito para escrever palavras álacres, mais garridas, cheias de um frescor juvenil de quem conseguiu, enfim, fazer as pazes consigo mesmo, com Deus e o mundo. Chega, basta de desabafos íntimos sobre minhas dores e minhas agruras. Darei, com certeza, um chega pra lá nas confissões públicas das minhas aflições existenciais. Ao invés de entoar boleros plangentes, tangos amargurados, passarei a cantar frevos rasgados, marchinhas de carnaval, sambas de gafieira e de vez em quando, ao chegar do anoitecer, uma doce canção de ninar. Tentarei somente escrever crônicas de amores bem sucedidos, de paixões também apaixonadamente correspondias. Nada de tragédias nem de desgraças, mas que impere a mais carnavalesca alegria em tudo o que eu escreva. Que chovam serpentinas e confetes e, aqui e ali, uma discreta gota de lança-perfume para odorizar os corações e euforizar as mentes só um tantinho assim, sem dar muito na vista.
Claro que contarei histórias engraçadas pra desatar risadas em quem as ler. O existir tem um lado cômico, um viés humorístico que é preciso demonstrar a qualquer custo e que só não vê quem não quer. No fundo, eu sou mesmo é um palhaço de circo, mambembe ou de luxo. Sim, trata-se da minha verdadeira essência: tenho cara de palhaço, pinta de palhaço, um jeitão inegável de palhaço, embora minha natural timidez procure esconder esse perfeito palhaço que existe em mim, escondido inutilmente debaixo da minha falsa pose de intelectual. Este indivíduo, ocasionalmente lamuriento, de quem tanto reclamam a incômoda presença, não passa e nunca passou de uma grande e lamentável farsa. Engana-se redondamente aquele que pensar que sou um triste, um deprimido crônico. Caso exista nesse mundo um homem feliz, com camisa ou sem camisa, na urbe ou numa ilha deserta, esse homem sou eu. Sem fingimentos nem mistificações.
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