Airton Monte – Em compasso de Espera – 28 de Outubro 2011
Nos distantes confins da Líbia, o reinado de quarenta e dois anos de Kadhafi chegou ao fim melancolicamente. O ditador foi morto em um linchamento pelos rebeldes depois de ser arrancado, como um guabiru, de dentro de uma toca de um cano de esgoto. Mais um sangrento fruto da chamada “Primavera Árabe”. O povo, liberto das garras da tirania, comemora a sua morte pelas ruas e as grandes potências que dominam e regem os destinos do mundo também participam das comemorações, fingindo esquecer que, num passado não muito distante, colaboraram ativamente para manter o tirano no poder, enquanto tal estado de coisas lhes interessava. Coisas da politicagem internacional. Nuances dos sempre onipresentes interesses comerciais.
Afinal, o petróleo é um tesouro que os donos do mundo não podem e nem querem desprezar e, na verdade, pouco estão ligando para um pequeno detalhe que se conhece por democracia.
Já no Brasil, festeja-se outro, para nós, importantíssimo acontecimento. Saiu, enfim, a tabela da Dona Fifa com o roteiro dos jogos da copa do mundo e as cidades que os sediarão, principalmente os da seleção brasileira, entram em clima de frenesi, inclusive a nossa equatorial Lourinha Desposada do Sol. Espetacular vitória de Fortaleza, estrondeiam com alarde, em manchetes de primeira página, os matutinos da Taba de Alencar. O povo parece estar vivendo um clímax de alegria e satisfação, se se levar em conta a cara de felicidade estampada na face dos operários que trabalham na construção dos estádios. Talvez a maioria ignore por completo que benefícios a copa nos trará e o que sobrará de bom para esta cidade e seus habitantes depois que a festa acabar. Para usar a palavra mais em moda atualmente, qual será o nosso tão decantado legado.
Eu, pessoalmente, nada tenho contra a realização do maior evento esportivo do planeta em nossos sortudo país, pois sou um incurável apaixonado por futebol, embora me acometam certas dúvidas se essa montanha de dinheiro que estamos gastando a rodo, como se fôssemos potentados nadando em bufunfa de sobra, não poderia ser usado em outras vitais necessidades das quais andamos há séculos urgentemente precisados. E a saúde? A educação? A segurança? Os meios de transporte público? E quando poremos um fim no sofrimento secular da população do interior que ainda depende dos carros-pipa para ter o direito de beber um prosaico copo d’água limpa? Entanto, diante do orgulho de receber as seleções estrangeiras e a esperada multidão de turistas, tudo o mais que nos aflige sai da boca de cena e passa a ser relegado a terceiro plano. É isso aí.
Nunca será demais lembrar que grande parte dos geraldinos e arquibaldos que, em essência, sustentam o nosso futebol com sua assídua presença nas arenas futebolísticas, haverá que se contentar em assistir aos jogos em casa ou nos bares pela televisão, devido ao preço estratosférico dos ingressos, muito além de suas posses. De qualquer modo, sinto-me até incomodado por uma certa culpa por não estar celebrando com todo entusiasmo que deveria a nossa participação no monumental acontecimento. Confesso, um tanto quanto encabulado, que meu coração não decretou um carnaval íntimo. Nem saí pelas ruas envolto em bandeirinhas verde-amarelas, soltando fogos de artifício, eivado de bairrismo e de patriotismo, mesmo sabendo que esta poderá ser, talvez, a última copa que eu veja ou talvez não. Estou quieto no meu canto, aguardando o desenrolar dos acontecimentos, esperando para ver no que vai dar tudo isso.
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