segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Airton Monte - Inútil Conselho 6 de Setembro 2011

Airton Monte - Inútil Conselho 6 de Setembro 2011

Pode ser que muitos dos meus compatriotas ainda desconheçam que não é somente no futebol, na violência das grandes e pequenas cidades, nos índices alarmantes de corrupção generalizada que o nosso Brasil brilhe no cenário mundial. No disputado ranking dos biriteiros de todo o universo conhecido, nós, impávidos filhos desta nação sem jaça, também não chegamos a fazer feio em matéria de encher a cara. Pelo que sei de fontes as mais fidedignas, os brasileiros estão bebendo cada vez mais cerveja durante o passar dos últimos dez anos, iniciando-se nas lides etílicas(pasmem vocês que ora me leem)a partir da precoce idade das quinze primaveras. Nessa década, o consumo de cerveja sofreu um considerável aumento de trinta por cento por cabeça, o que pelo andar da carruagem, vai nos levando a alcançar, mais cedo ou mais tarde, o lugar mais alto do pódio entre os contumazes bebedores do “pão líquido”. Isso sem contar com os outros tipos de etílicas beberagens.
Por enquanto, vamos segurando, com certa galhardia, o décimo-sexto lugar, honroso por sinal, entre os povos cervejeiros, ficando atrás somente de gigantes da cervejagem como República Checa, Irlanda, Alemanha, Áustria, Austrália e outros candidatos fortíssimos à medalha de ouro nas olimpíadas biriteiras. Entanto, nos resta o honorável consolo de sermos, ainda, os eternos campeões no que diz respeito à ingestão da nossa popularíssima e tradicional cachacinha. É isso aí, moçada. Pra frente, Brasil, Brasil. E haja cachaceiro vicejando por todos os cantos e rincões dessa festejada e festiva Taba de Tupã. Eu particularmente acredito e tenho plena convicção de que o nosso Ceará também dá a sua importante contribuição nesse interminável campeonato de bebedores, participando ativamente e com louvor para que o Brasil haja alcançado tal digníssima posição no rol dos apreciadores da bebida sagrada dos faraós.

Claro que nada melhor para aliviar e fazer esquecer as costumeiras agruras da dureza do cotidiano citadino do que reunir-se com os amigos nos finais de semana para jogar conversa fora e beber umas tantas umas e outras. Existe até quem diga, não sei se em tom de blague ou expressando o que verdadeiramente pensa, que beber é bom, mas que beber todos os dias é muito melhor. Eu também achava isso e seguia ao pé da letra este tolo aforisma, sorvendo minha cervejinha diária em quantidades industriais, prática que por muito pouco não acabou com o meu precioso fígado, levando-me desta para pior antes do que eu desejava. Portanto, amigos meus, mirem-se no meu péssimo exemplo e vão mais devagar com o andor que o santo é frágil feito o barro e o pâncreas. E não aconselho nem ao meu pior e mais ferrenho dissidente afetivo a se arriscar a ver de perto a antipática face da morte. Garanto não ser uma visão muito aprazível.

Antigamente, no auge dos meus bons e saudosos tempos de boemia desregrada, quando eu varava noites seguidas pelos bares afora, costumava afirmar peremptoriamente que boêmio era boêmio e que alcóolatra era alcóolatra, sem me dar conta de que a fronteira entre boêmios e alcóolatras era sutil e tênue como jamais supunha a minha vã filosofia. Vã ilusão, mais tredo engano. Assim descobri quase muito tarde demais. Hoje, sei que os boêmios são, pela própria natureza, dotados de uma exacerbada tendência em tornar-se escravos vitalícios do seu próprio prazer. E que seu desmesurado amor pelo copo por vezes é capaz de superar, de vencer o seu instinto de sobrevivência. Por isso, amigos meus, eu lhes peço encarecidamente que bebam com sapiente moderação e amem mais as suas vidas do que o alcóolico produto. Bebam devagar e sempre porque nenhum fígado é de ferro nem blindado. E assim, poderão beber a vida inteira, celebrando Baco saudáveis e felizes por anos a fio. E lembrem-se de que é inútil tentar acabar com a bebida existente no mundo, pois quant mais se bebe, mais a turma dos produtores fabrica.

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