quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Airton Monte - Um Mundo sem Mulheres - 16 de Novembro 2011

E pensar que há cerca de dois mil anos, a população que povoava esse mundinho de meu Deus era apenas de trezentos milhões de habitantes. Havia espaço demais e gente de menos. Podia-se ainda afirmar que o globo terrestre não passava de uma imensa vastidão deserta, praticamente desabitada e ainda não conspurcada, não poluída pela ganância humana. Em 1959, quando eu tinha dez primaveras de vida, a quantidade de primatas, digamos assim, pensantes, atingiu a marca de três bilhões. E hoje, quando vou levando meus sessenta e dois outonos nas costas, o número de moradores do planeta saltou para a gigantesca quantidade de incríveis, inacreditáveis sete bilhões de residentes, que estão fazendo de tudo para maltratar, degradar cada vez mais esta nossa pequena, insignificante bolota de barro em que, bem ou mal sobrevivemos, indiferentes ao fato inegável de que ela é a nossa única moradia dentro desse universo sem tamanho que nos rodeia.

Nos países pobres, a grande maioria das nações, a desenfreada falta de controle da natalidade contribui decisivamente para aumentar a população mundial em uma quantidade nada desprezível de oitenta bilhões de viventes a cada ano que passa. Isso apesar da pobreza, da miséria, das guerras fratricidas, das doenças eliminarem ainda no nascedouro um número incontável de pessoas. Nos países ricos, os verdadeiros donos e senhores de todos nós, dos nossos destinos, o mercado de trabalho vai se fechando para os mais jovens, provocando revoltas, crises econômicas, políticas se sucedem em cadeia uma após a outra e, pelo menos eu, desconheço a que tudo isso nos levará nessa nossa caminhada ao futuro. Sabemos que nossos recursos naturais não são inesgotáveis, mas pelo andar da carruagem, aqueles que detêm o poder pouco estão se importando com os que virão depois de nós.

Os que estão situados na faixa etária abaixo dos vinte e cinco anos de idade representam, nos dias atuais, quase a metade da população terráquea e, mesmo assim, estamos lentamente nos transformando num planeta povoado de velhos, pois os chamados idosos já chegaram à gloriosa cifra de oitocentos milhões e lá vai pedrada e haja recursos dos sistemas de previdência social para garantir a merecida aposentadoria de quem já deu tanto para o desenvolvimento do seu país. No Brasil, não demora muito, o aumento da idade para o cidadão se aposentar deve crescer tanto que o sujeito só vai conseguir aposentar-se na hora de baixar à sepultura e dele não se puder extrair mais nenhuma gota de produtividade. Entanto, a grande verdade a ser reconhecida é que o porvir de jovens e velhos neste louco mundo globalizado vai se tornando um poço sem fundo de incertezas e desagradáveis surpresas.

Para piorar a situação, como infelizmente nascem mais espécimens do gênero masculino que do feminino, alguns renomados especialistas no assunto profetizam uma catástrofe inimaginável, prevendo uma masculinização alarmante do nosso ensandecido planetinha. Pode ser muito provável que daqui a cinquenta anos, grassará por todos os cantos do mundo uma terrível e cada vez maior escassez de mulheres. Esse desequilíbrio demográfico entre os sexos é bem capaz de fazer surgir no mapa países inteiros de homens solteiros à procura de uma companheira. Alguns desses estudiosos mais pessimistas preveem a volta da velha e ancestral poliandria, com uma mulher casada com vários maridos e o sentimento de posse masculino se esvanecerá diante da lei da oferta e da procura. O chifre será abolido da face terrestre, virando coisa de museu. Todavia, como tal fenômeno só acontecerá dentro de cinco décadas, certamente estarei morto. Felizmente. Porque o mundo sem mulher perderá definitivamente a graça.

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