quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Airton Monte - Ilusão à toa - 10 de Novembro 2011

Pela segunda vez em minha vida, estive mais perto do que longe de conseguir comprar, enfim, a tão sonhada casa própria. E mais uma vez, o destino, azar ou sorte acharam por bem me dar uma cruel rasteira. Ontem, minha mulher recebeu um agourento e implacável telefonema do banco onde pedimos crédito, avisando que nossa renda familiar não era suficiente para obter o empréstimo pedido. O que fazer? Nada, a não ser ficarmos imersos na tristeza inconsolável de um sonho desfeito. É por demais doloroso chegar tão perto de realizar o que se vem sonhando anos a fio e de repente sentir tudo desabar e mais uma ilusão cruelmente implodida. Pois é, o jeito é continuar morando de aluguel e mais uma vez mudar de rua, de bairro, do endereço costumeiro.
Minha mulher é de têmpera forte, se recupera dos golpes muito mais rápido do que eu. Enquanto me deixo levar pelas correntes do amargor, afundado num mar de pessimismo e autocomiseração inúteis, ela de pronto já está de pé outra vez, com os castanhos olhos plenos de uma força invencível e de imediato começa a pensar em outras soluções, outros caminhos a seguir e acaba me pegando pela mão e me soerguendo do chão como tantas vezes já o fez. Minha mulher é forte. Eu sou um fraco, confesso. Principalmente quando se trata de sonhos subitamente dissolvidos quando estão a um passo de sua realização. Hoje estou feito um menino de quem acabaram de roubar a primeira bicicleta, a primeira bola de couro.
 
Dentro em mim, tudo se reveste de cinzento e sou um monte de escombros de uma ilusão derruída. Um ácido corrói a minha alma e há um coro de lamentações estéreis ressoando nas batidas mais lentas e descompassadas do meu agoniado coração. Se não foi é porque não era pra ter sido, agora, dias melhores virão – ela costuma me dizer em tais sofridos momentos de desencanto e aflição. Eu fico remoendo as minhas mágoas que nem um cão roendo um osso que acabou de desenterrar. Sim, claro que sei que restar num canto, de ombros curvados e olhos sombrios, a queixar-me da vida, sempre é a rota mais fácil para fugir dos dramas que, de quando em vez, passam pela nossa vida feito um inesperado temporal.
 
Sim, eu sei muito bem de tudo isso. Porém, demoro a me levantar e dar a volta por cima, partir para outra, deixar para trás o leite derramado, esquecer a vaca que foi para o brejo. Entanto, só me dá vontade de cantar aquele samba do Adoniram e do Vinícius:”se chegue, tristeza, se sente comigo aqui nesta mesa de bar, beba do meu copo, me dê o seu ombro que é para eu chorar”. A voz do gerente do banco era de uma frieza profissional a me dizer que eu não tinha renda pra comprar a minha casa. Talvez eu preferisse a mudez dos carrascos. Caminho pela casa onde moro há dezesseis anos e cada passo é um gesto de adeus, um toque de despedida. Ah, vida, minha vida. O que resta agora é começar de novo, recomeçar do nada, restaurar os fragmentos partidos do cotidiano e tentar fazer com que tudo o mais valha a pena.

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