quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Airton Monte - Um dia triste 18 de Novembro 2011

Não é porque se trate de uma segunda-feira, um dia pelo qual nutro e alimento uma visceral ojeriza, muito embora em sua essência, não passe de um dia aparentemente igualzinho a todos os outros da semana. Entanto, hoje amanheci cheio de um cansaço que, paradoxalmente, não é físico nem mental. Quem sabe não seja somente um circunstancial enfado ou para ser mais sincero, um provisório tédio dessa vida besta, tão carregada de rotina que ando levando ultimamente. Claro que, como a esmagadora maioria dos meus semelhantes, que se esfalfam, se desgastam cotidianamente tentando garantir a sobrevivência, longe está de mim, de meu alcance, desfrutar de uma existência charmosa, de variegados encantos com que todos nós sonhamos, ansiamos, desejamos ter. Tal exclusivo privilégio pertence a muito poucos que gozam da segurança de uma polpuda conta bancária.

Como pontificaria o inesquecível Sérgio Porto, mais conhecido pelo seu nome de pena, Stanislau Ponte Preta, viver até que é fácil, saber viver é que é dureza. Por não ser um pessimista profissional, desses que cultivam a amargura como se ela fosse uma flor rara no seu ácido jardim de rancores e que costumam pensar em suicídio de dez em dez minutos, para mim é um fato demasiado incomum começar o dia enfarado com tudo e com todos que me cercam. Detesto ser assolado, acometido por sentimentos negativistas, de ar funesto, o coração abandonado pela minha natural alegria de viver, sejam lá quais forem os problemas a me afligirem. Todavia, hoje tenho a mais clara consciência que não sou, pelo menos nesse momento, uma agradável companhia para ninguém. Nem para mim mesmo.

Bem, como o dia ainda está no começo, talvez meu atual estado de espírito vá melhorando durante o transcorrer dessas vinte e quatro horas e eu volte a me tornar o homem alegre que costumo ser, apesar dos inevitáveis percalços enfrentados no dia a dia. Quiçá, o telefone toque a qualquer momento e do outro lado da linha alguém me dê de presente uma boa notícia, como, por exemplo, que minha cadelinha não está infectada pelo maldito e desgraçado calazar, que já me levou implacavelmente outros de meus cachorros nas diversas casas onde morei. Perder uma das minhas mais fiéis amigas é, para mim, que amo os animais, um tantálico sofrimento. Porém, até agora meu Graham Bell permanece numa mudez de estátua, o que é uma espantosa raridade em meu tugúrio suburbano. Mas, nada de perder as esperanças de que me venham bons augúrios a qualquer instante.

Sim, é-me totalmente impossível ignorar, fazer de conta que desconheço que há outros atravessando momentos mais duros e mais difíceis do que eu, que possuem todas as razões possíveis e imagináveis de estarem mais infelizes do que eu. Diante desses que sofrem gravemente, essa minha passageira crise existencial não passa de uma grande besteira sem a menor importância. Contudo, inda tenho a coragem e a cara lisa de me perguntar o quanto o penar dos meus semelhantes é capaz de me trazer conforto e alívio para o meu. Pode parecer egoísmo desmesurado de minha parte, mas a infelicidade alheia não me serve de remédio para os meus males íntimos, minhas mazelas pessoais, que considero as mais importantes do planeta. Antecipadamente, antes que me condenem por tal indiferença, peço as minhas mais sinceras desculpas. Sou apenas um homem triste mergulhado num dia infausto. E um homem triste somente se preocupa e só se importa com a sua própria tristeza.

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