quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Airton Monte - Lição de Vida - 28 de Novembro 2011

Ontem, estava eu posto em relativo sossego, debruçado sobre a mesa de trabalho, escrevendo, ou melhor dizendo, tentando por no papel algumas palavras esparsas no afã cotidiano de fabricar o obrigatório pão de mais uma croniqueta das tantas que já perpetrei nesses treze e poucos anos de jornal. Súbito, batem à minha porta três distintas senhoras interrompendo o meu labor. Vou até o portão e as atendo com toda a educação e gentileza de que sou possível. A princípio, pensei que as três inesperadas personagens que me apareceram do nada eram simples vendedoras de algum produto, dessas que vão, incansáveis, de casa em casa, oferecendo suas mercadorias com que garantem a sobrevivência e alimentam o mercado dito informal, tão comuns nas grandes e pequenas cidades desta nossa Taba de Alencar. Porém, enganei-me redondamente em minha vã suposição a respeito do que realmente desejavam de mim aquelas três distintas senhoras.

Após trocarmos os cumprimentos de praxe, foi que observei que cada uma delas trazia uma bíblia nas mãos e vários pequenos panfletos que sacaram de uma sacola. Uma delas, aparentemente a líder do simpático grupo, delicadamente perguntou-me se eu dispunha de alguns minutos para ouvir a palavra de Deus. Calmamente, respondi que naquele momento não poderia atender a seu pedido, pois estava demais atarefado, porque muito embora não parecesse, encontrava-me até a tampa de trabalho, apesar de ser um sábado à tarde, quando a maioria das pessoas começa a gozar a bendita folga do fim de semana. As três distintas senhoras insistiram em seu pedido, me oferecendo mil razões de caráter espiritual. Todavia, permaneci firme em minha gentil recusa, explicando-lhes que a palavra de Deus era sempre benvinda, mas que me desculpassem em não poder satisfazer o seu pedido por absoluta falta de tempo e que, se não fosse pedir muito, deixássemos para outra vez e outro dia mais apropriado a nossa metafísica conversa.

Finalmente, mesmo inconformadas por não conseguirem o seu bem intencionado intento de salvar mais uma alma, quem sabe até trazer de volta ao sagrado redil uma ovelha negra perdida do rebanho, as três senhoras distintas se foram embora, certamente à procura de ouvidos mais atentos. Antes de partirem em sua jornada de catequese, percebi um ar de reprovação no olhar manso de cada uma delas. Veio-me um discreto remorso e uma pontinha de culpa por não haver perdido ou ganho alguns minutos escutando o que elas tinham a me falar. Quem sabe, escutar a palavra de Deus não me fizesse um bem danado à alma naquele instante e eu houvesse perdido uma boa oportunidade de aliviar meus pecados, embora seja eu um homem de pouca fé. Talvez, aquelas três senhoras distintas, tão convictas, tão empenhadas em sua peregrinação de missionárias de alguma crença, não me tivessem algo de suma importância para me revelar, uma mensagem que eu deveria ter ouvido.

Contudo, para nada servem os arrependimentos tardios, pois o que está feito está feito e jeito não há de se voltar atrás em decisões tomadas por nossa própria vontade. Passado é passado e se, por acaso erramos, só nos resta aprender a lição dada por nossos erros, com os quais nos tornamos um pouco mais sábios do que com nossos acertos. Todavia, em verdade vos digo, com toda pureza d’alma, que aquelas três senhoras distintas me causaram uma admiração por sua perseverança em seguir espalhando pelo mundo, muitas vezes a ouvidos moucos feito os meus, a fé no Deus em que acreditam sem desistir um só minuto, plenamente convencidas de ser esta a sua missão no planeta. Ah, quem me dera ser possuidor de um mínimo resquício de sua força de vontade, de nunca desistirem diante das portas que se fecham ao seu bater. Aquelas três senhoras distintas me ensinaram, percebo agora, uma grande lição de vida que jamais esquecerei.

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