quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Airton Monte - Perguntas 21 de Novembro 2011

Por mais que eu esteja habituado a ler, ver, presenciar coisas e acontecimentos os mais estapafúrdios que ocorrem pelo mundo, pelo meu país, pela minha cidade, pela minha rua, felizmente ainda não perdi a maravilhosa capacidade de me espantar e de querer saber o porquê, as causas, as razões que jazem ocultas por trás de todos eles. Há em mim uma curiosidade insaciável de perguntar e obter respostas que me satisfaçam nem que sejam incompletas. Gosto de tentar cada vez mais conhecer as motivações que levam o ser humano a agir, a se comportar assim ou assado, como santos e pecadores, anjos e demônios. Somos tão imprevisíveis, tão profundamente plenos, repletos de segredos e mistérios, que verdadeiramente penso que por sermos assim é que somos tão fascinantes e o mundo cheio de descobertas à nossa espera. Sabemos demasiado pouco a respeito de nós mesmos, de nossos semelhantes, do mundo em que vivemos.

Aprendi nos livros e com a experiência de viver que somente obtemos conhecimento através das perguntas que fazemos do que com as respostas que porventura conseguimos. Cada resposta obtida nos leva inapelavelmente a fazer novas perguntas cada vez mais difíceis, mais profundas e assim vai caminhando a velha humanidade. E é bom que permaneçamos sempre transformados em máquinas incansáveis de fazer perguntas, desde que passamos a nos entender por ente até a hora de bater as botas. Ninguém precisa ser um cientista para perguntar, querer saber aquilo que desconhecemos sobre nós mesmos e o universo que nos cerca. Foi exatamente desse modo que evoluímos das cavernas, da invenção da roda aos mais modernos e sofisticados avanços da tecnologia, tanto para o bem quanto para o mal. Nos tornamos capazes de destruir o mundo num piscar de olhos e de inventar remédios que salvam tantos milhares de vidas.

Nesse momento, interrompo o fluxo dos meus pensamentos atraído por um bêbado que passa aos cambaleios na calçada, se amparando, entre um passo e outro, nas grades da frente da minha casa. Meu Deus, mal começou a manhã e este homem já está completamente embriagado, a calçada vai ficando cada vez mais estreita para o seu caminhar balouçante e tenho a impressão de que ele pode desabar no chão a qualquer instante. Inevitavelmente eu me pergunto, feito no samba de Noel: “por que bebes tanto assim, rapaz/ isso já é demais”. Depois penso que talvez não seja demais para esse homem que nunca vi mais gordo, estar embriagado a esta hora do dia. Será um alcoólatra inveterado, um pobre e infeliz dependente extremado do álcool, um contumaz “papudinho” como costuma a língua ferina do implacável canelau apelidar tais desamados da vida. Ou não passará somente de alguém que exagerou na dose ao divertir-se ontem à noite?
 
E agora, banhado pelos primeiros raios de sol, tenta encontrar o caminho de casa mergulhado num estado deveras lastimável? O homem dá uma parada, balança que balança, agarra-se em meu portão como se estivesse refazendo as últimas forças do corpo combalido e nem sequer percebe minha presença a poucos metros dele. Aliás, parece não perceber a presença de ninguém, nem mesmo dos atletas madrugadores que passam a seu lado, olhando-o com um certo ar de nojo, de reprovação. Eu já o olho com uma discreta piedade, enquanto ele balbucia baixinho uma algaravia incompreensível com a íngua embolada. O que o leva ou levou a beber dessa maneira desesperada? Algum drama, alguma tragédia pessoal ou simplesmente começou a beber aos poucos, como muita gente, até chegar nesse estágio degradado do vício? Finalmente, o homem se desprega do portão e vai embora rumo ao seu destino. Quem sabe aonde vai? Talvez nenhum lugar tenha para ir e seja um pária dos muitos que povoam a cidade.

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