quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Airton Monte - Eles Venceram - 24 de Novembro 2011

Quer a gente goste ou não, seja a favor ou contra, é impossível negar que este mundo velho está passando por incríveis mudanças, até há pouco tempo inimagináveis para aqueles que ainda cultivam renitentemente um mais que ultrapassado saudosismo que, no meu modesto entendimento, perdeu quase por completo a sua razão de ser e perdurar. A verdade é que o novo sempre vem, o que não significa que o novo somente pelo fato de ser novo seja compulsoriamente bom. Eu, por exemplo, não consigo suportar alguns desses novos cantores e compositores que pululam no cenário artístico nacional, enchendo meu saco com suas músicas de melodias paupérrimas e letras de um mau gosto a toda prova. Nesse caso, nem se trata de queixas, de lamentações próprias de um saudosista incurável, mas precisamente de uma simples questão de padrões estéticos, dos quais me recuso a abdicar, só para não ser chamado de antigão.

Claro que passa bem longe de mim a intenção de querer ser o dono absoluto da verdade e impor aos que gostam desses astros passageiros as minhas artísticas preferências. Acredito firmemente que cada geração tem os ídolos que merece, como a minha possuiu os seus e ainda hoje, mesmo já velhuscos, os continua idolatrando tal e qual fazíamos antes, quando eles iluminaram a nossa adolescência e abriram nossas jovens cabeças para a percepção de tantas descobertas que certamente mudaram nossa vida, nosso jeito de pensar o mundo. Apesar de saber que estou correndo um sério risco de sofrer severas críticas dos ideológicos patrulheiros, para mim grassa em todas as formas de arte uma pobreza generalizada, salvo algumas honrosas exceções. A literatura está cheia de escritores que não sabem escrever um prosaico bilhete de suicida, uma cartinha de amor, um recado eletrônico nas redes da internet. Quanto mais um romance, um conto, um poema.

Nas artes plásticas, proliferam autores incapazes de desenhar um simples ó com o adjutório de uma quenga de coco. Em minha modesta e desimportante opinião, o cinema, talvez, seja o último bastião da resistência em que se pode encontrar alguns vestígios de beleza, de inovações tecnológicas que me agradam, me oferecem raros instantes de prazer, de desfrute estético. Ah, sim. Ia me esquecendo de falar sobre o teatro, que tirante o besteirol caça-níquel protagonizado pelos artistas tornados famosos pelas telelágrimas globais, resiste bravamente devido ao talento e à persistência das pequenas companhias regionais. Até o futebol, que considero uma nobre arte, anda mergulhado numa indigência de talentos e num oceano de incontestável mediocridade. E eu, que sou um apaixonado pelo ludopédio, ando assistindo cada vez menos jogos, principalmente os da seleção brasileira para evitar morrer literalmente de raiva.

O que mais me provoca uma profunda irritação, por vezes chegando a despertar-me um instinto assassino, é a extrema facilidade com que qualquer pé-rapado, qualquer cretino fundamental, qualquer besta quadrada passa a ser chamado de gênio ao fazer um meteórico sucesso nos programas televisivos. Como se o gênio fosse um produto banal de se encontrar, mais barato do que bolo em fim de feira. Do jeito que as coisas vão, parece que o mundo está repleto de gênios e há uma genialidade parada em cada esquina à espera de ser descoberta por um esperto empresário. Desse modo, tudo vai se tornando deletério, impermanente, circunstancial, provisório que nem as chuvas de verão. Hoje em dia, cumpriu-se ao pé da letra a profecia do poeta Maiacovsky: “O gênio não passa de uma longa besteira”. Para mim, confesso, está cada vez mais difícil suportar tamanha avalanche de medíocres. Nelson Rodrigues estava absolutamente certo ao afirmar que os cretinos fundamentais dominariam o mundo por absoluta superioridade numérica.

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