Há duas coisas que você deve, por medida de precaução, confiar desconfiando, sempre com um pé atrás, duvidando de sua possível veracidade. Os horóscopos e as previsões do tempo. Hoje, ao passar uma rápida vista nos jornais do dia, li que em Fortaleza reinaria um tempo ensolarado. No entanto, amanheceu chuviscando uma chuvinha discreta, mas que logo cessou e o céu se abriu em radiosa claridade. Já no meu horóscopo, estava escrito para os nativos de Touro agirem com mais amor, pois só assim conseguiriam superar algumas dificuldades de cunho profissional. E sugeria aos teimosos taurinos que mantivessem, por cima de pau e pedra, um rígido controle sobre as suas emoções, pois em assim se comportando, atrairiam uma bem-vinda serenidade durante a semana que começa, livrando-os do indesejável assédio da ansiedade. Pois muito bem, o dia permanece nublado e garanto que nada mais difícil do que passar sete dias sereno diante das aflições cotidianas.
O diabo é que apesar de minhas muitas dúvidas sobre os horóscopos e as previsões climáticas, todos os dias me pego lendo o que dizem. Às vezes, acredito piamente no que afirmam seus autores, em outras, não creio em uma só palavra escrita nessas duas seções dos matutinos. E assim, vivo oscilando entre a crença e a descrença, de acordo com meu estado de espírito. Se acordo de bom humor, costumo seguir à risca suas recomendações. Mas se desperto com a pá virada, não ligo a mínima nem lhes dou a menor importância. E sigo meu rumo como se delas nem houvesse sequer tomado conhecimento. Deixo que o dia me aconteça como tiver de acontecer, me trazendo bons ou maus acontecimentos, calmarias ou tempestades segundo a imprevisível loteria do acaso. De qualquer jeito me viro, seja lá o que vier ao meu encontro. O que posso resolver, resolvo. O que não posso, faço de conta que esqueço até que se tornem inadiáveis.
Aprendi (sempre estou aprendendo alguma coisa com tudo que me sucede) que viver, pelo menos para este escriba, é resolver problemas e encontrar soluções seja lá como for. Um dia, estava eu a beber e conversar com meu velho amigo, o poeta Ralph Waldo Emerson e ele, já um tanto quanto truviscado, mas sem perder a sabedoria, me falou com a voz engrolada dos bêbados uma frase da qual tentei olvidar sem conseguir. Pousou suavemente a mão em meu ombro e disse-me compassadamente: “Meu caro parceiro, fazemos o que não podemos deixar de fazer e depois o rotulamos com os mais belos nomes”. Visto isso, partamos para a ação, se quisermos veramente modificar, nem que seja um pouquinho, a nossa realidade. Façamos o que temos de fazer, por obrigação ou devoção, com prazer ou sem prazer, mas façamos o que deve ser feito, o que não pode deixar de ser feito. É assim que as coisas funcionam nesse mundo.
Domingo, fui à praia para aliviar o cansado bestunto das habituais preocupações do dia a dia e principalmente em busca de beleza, que é uma das minhas razões de viver. Passeei pela areia de pés descalços, mergulhei nas pequenas ondas, sem me arriscar a ir mais longe porque não sei nadar e considero morrer afogado um final indigno para um aprendiz de poeta. Observando o ambiente, percebi que os biquínis estão cada vez mais curtos. Alguns tão diminutos que neles não sobra espaço nem pra etiqueta. Que bom. As mulheres estão cada vez mais lindas, cheias de perigosas curvas. Sim, estou com sessenta e dois anos, porém não estou morto. Nem eu, nem minha idosa libido. E lembro que a encantadora peçinha do feminino vestuário foi criada há cerca de 65 anos, para o gáudio e o deslumbre dos masculinos olhares. E pensar que ao ser inventado, o biquíni foi considerado um atentado contra a moral e os bons costumes. Ah, que mau gosto tinham os nossos moralistas antepassados.
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