Escrevo pouco, crio menos ainda, copio bastante e as vezes construo períodos em língua de Camões sem muita lógica e para satisfazer meus prazeres bestiais e ocultos
sábado, 18 de dezembro de 2010
Adelia Prado Poesia
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Beleza, coragem, medo
Beleza, coragem, medo
No alpendre de casa, curvado sobre a mesa de trabalho, eis-me a postos. Ainda é cedo da noite. Sei que a maioria das gentes está tentando voltar pra casa depois de mais um dia de trabalho. Alguns ficarão no meio do caminho, parados por um acidente ou pela bala de um assaltante. Outros, simplesmente estancaram nos bares de costume e como se trata de uma sexta-feira, certamente esquecerão da hora do retorno, porque fazem parte dessa estranha confraria do vermute, do conhaque e do traçado, como cantava Nelson Gonçalves pelas ondas do rádio. Entre um anestésico e outro se vai levando a vida em qualquer cidade do mundo, porque em qualquer cidade do mundo o ser humano é sempre igual em seus desejos.
Olho o relógio: sete e meia da noite. Tão cedo e tão tarde. Para nada. Para tudo. Ou para coisa nenhuma. Minhas costas doem. Levanto-me, caminho um pouco em torno de mim mesmo como se me procurasse de mim distante. E estou tão perto que, por alguns instantes, nem sequer me vejo. Vou até o jardim. Ergo os olhos. Nuvens esparsas no céu claro. Baforadas noturnas de Deus. Na infância, lembro que perto de casa havia um velho marinheiro. Depois do jantar, ele ficava sentado na calçada, repousando em sua velha espreguiçadeira, fumando seu cachimbo e esculpia a fumaça em diversas formas geométricas. O menino que eu era ficava completamente fascinado e pensava que, além de marinheiro, ela também era um mágico aposentado.
Olho o relógio outra vez: oito horas. Volto a sentar-me à mesa de trabalho. Será que o mundo não é tão vasto e tão vário quanto o penso ser? Que pergunta mais besta, mais boba, mais ingênua essa que me fiz, igual a tantas outras que me faço. Ah, de quanta mesmice não sou eu capaz. De quanta besteira escrita em letras garrafais. Preciso tomar um pouco de tento, lapidar com mais vagar meu pensamento. Burilar um pouco mais palavras, frases, escrever algo que tenha, pelo menos, um modesto quê de original. Meus olhos míopes ardem um pouquinho sob a luz rala que me vem do teto. Retinas gastas que muito viram e preferiram calar como se nada houvessem divisado.
Uma borboleta negra, enorme, pousa na grade do quintal. Sinal de sorte? De mau agouro? Ou apenas um mero acaso? Houve um tempo, bem me lembro, em que eu tinha um verdadeiro pavor de borboletas negras, que o povo chamava de Bruxa. Interessante, hoje não tenho mais. Engraçado, com o avançar da idade, meus medos foram todos lentamente desaparecendo. E viver sem medos torna a vida chata demais. É preciso um tantinho assim de medo para se ter coragem. A coragem e o medo se transformam em coisas tão banais à medida que você se apaixona desmesuradamente pela beleza e apaixonar-se pela beleza nada mais é do que apaixonar-se pela vida.
Airton Monte - Publicada no jornal O POVO no dia 2 de Novembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
sábado, 14 de agosto de 2010
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.
ADÉLIA PRADO
segunda-feira, 21 de junho de 2010
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando:
parece que estou num filme.
Se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
As casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade.
Vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu.
O Amor no Éter
Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos
mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.
(Adélia Prado)
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Desabafo
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Quanto Vale a Educação
Quanto vale a educação?
A remuneração deve ser proporcional à natureza, complexidade e responsabilidade exigidas no serviço prestado, assim ordena também a Constituição Federal. Qual é a atividade mais complexa e mais relevante que a dos mestres, que educam o povo, formam cidadãos e preparam a mão de obra de todo o país, inclusive, a do serviço público?Então, por que a gritante diferença? O deficiente sistema educacional brasileiro está na base de nossos maiores problemas.
Por isso, numa eventual discussão de como melhorá-lo, seria razoável a inclusão de sugestões como estas: federalização de todo o sistema, especialmente, do ensino básico; implantação, ainda que de forma paulatina, para não se inviabilizar o erário, de um plano de cargos e salários para todos os mestres, de todos os níveis educacionais, de tal forma que a remuneração do professor PhD de uma universidade pública, com dedicação exclusiva, fosse a maior no Executivo, e referência para os demais cargos deste Poder; exigência de pontualidade e assiduidade dos mestres, com a introdução do ponto eletrônico; criação de sistema permanente e compulsório de reciclagem e de avaliação periódica dos mesmos, com a participação dos alunos; centralização na União dos recursos do Tesouro Federal destinados à educação, atualmente canalizados para Estados e Municípios; parceria com os Estados, que ofereceriam o espaço físico das escolas.
Quanto vale a educação? Vale nossa evolução, nossa construção integral, vale uma sociedade saudável, sem desigualdades, e por isso, segura e pacífica, vale uma economia competitiva e um país forte e acreditado.
João Bosco Nogueira - Professor da Universidade Estadual do Ceará