sábado, 18 de dezembro de 2010

Adelia Prado Poesia

Dando sequência de poemas de ADELIA PRADO venho agora com o excelente texto poético intitulado "Moça Na Cama"


Moça na cama



Papai tosse, dando aviso de si,
vem examinar as tramelas, uma a uma.
A cumeeira da casa é de peroba do campo,
posso dormir sossegada. Mamãe vem me cobrir,
tomo a bênção e fujo atrás dos homens,
me contendo por usura, fazendo render o bom
Se me tocar, desencadeio as chusmas,
os peixinhos cardumes.
Os topázios me ardem onde mamãe sabe,
por isso ela me diz com ciúmes:
dorme logo, que é tarde.
Sim, mamãe, já vou:
passear na praça em ninguém me ralhar.
Adeus, que me cuido, vou campear nos becos,
moa de moços no bar, violão e olhos
difíceis de sair de mim.
Quando esta nossa cidade ressonar em neblina,
os moços marianos vão me esperar na matriz.
O céu é aqui, mamãe.
Que bom não ser livro inspirado
o catecismo da doutrina cristã,
posso adiar meus escrúpulos.
e cavalgar no topor
dos monsenhores podados.
Posso sofrer amanhã
a linda nódoa de vinho
das flores murchas no chão.
As fábricas têm os seus pátios,
os muros tem seu atrás.
No quartel são gentis comigo.
Não quero chá, minha mãe,
quero a mão do frei Crisóstomo
me ungindo com óleo santo.
Da vida quero a paixão.
E quero escravos, sou lassa.
Com amor de zanga e momo
quero minha cama de catre,
o santo anjo do Senhor,
meu zeloso guardador.
Mas descansa, que ele é eunuco, mamãe.



extraídos de "Adélia Prado - Poesia Reunida", Editora Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 175.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Beleza, coragem, medo

Postei hoje a excelente crônica do poeta e escritor Airton Monte , suas crônicas são publicadas diariamente nas páginas do bom jornal O POVO , sempre publicada das segundas as sextas-feiras.
Eis abiaxo o bom texto:


Beleza, coragem, medo


No alpendre de casa, curvado sobre a mesa de trabalho, eis-me a postos. Ainda é cedo da noite. Sei que a maioria das gentes está tentando voltar pra casa depois de mais um dia de trabalho. Alguns ficarão no meio do caminho, parados por um acidente ou pela bala de um assaltante. Outros, simplesmente estancaram nos bares de costume e como se trata de uma sexta-feira, certamente esquecerão da hora do retorno, porque fazem parte dessa estranha confraria do vermute, do conhaque e do traçado, como cantava Nelson Gonçalves pelas ondas do rádio. Entre um anestésico e outro se vai levando a vida em qualquer cidade do mundo, porque em qualquer cidade do mundo o ser humano é sempre igual em seus desejos.

Olho o relógio: sete e meia da noite. Tão cedo e tão tarde. Para nada. Para tudo. Ou para coisa nenhuma. Minhas costas doem. Levanto-me, caminho um pouco em torno de mim mesmo como se me procurasse de mim distante. E estou tão perto que, por alguns instantes, nem sequer me vejo. Vou até o jardim. Ergo os olhos. Nuvens esparsas no céu claro. Baforadas noturnas de Deus. Na infância, lembro que perto de casa havia um velho marinheiro. Depois do jantar, ele ficava sentado na calçada, repousando em sua velha espreguiçadeira, fumando seu cachimbo e esculpia a fumaça em diversas formas geométricas. O menino que eu era ficava completamente fascinado e pensava que, além de marinheiro, ela também era um mágico aposentado.

Olho o relógio outra vez: oito horas. Volto a sentar-me à mesa de trabalho. Será que o mundo não é tão vasto e tão vário quanto o penso ser? Que pergunta mais besta, mais boba, mais ingênua essa que me fiz, igual a tantas outras que me faço. Ah, de quanta mesmice não sou eu capaz. De quanta besteira escrita em letras garrafais. Preciso tomar um pouco de tento, lapidar com mais vagar meu pensamento. Burilar um pouco mais palavras, frases, escrever algo que tenha, pelo menos, um modesto quê de original. Meus olhos míopes ardem um pouquinho sob a luz rala que me vem do teto. Retinas gastas que muito viram e preferiram calar como se nada houvessem divisado.

Uma borboleta negra, enorme, pousa na grade do quintal. Sinal de sorte? De mau agouro? Ou apenas um mero acaso? Houve um tempo, bem me lembro, em que eu tinha um verdadeiro pavor de borboletas negras, que o povo chamava de Bruxa. Interessante, hoje não tenho mais. Engraçado, com o avançar da idade, meus medos foram todos lentamente desaparecendo. E viver sem medos torna a vida chata demais. É preciso um tantinho assim de medo para se ter coragem. A coragem e o medo se transformam em coisas tão banais à medida que você se apaixona desmesuradamente pela beleza e apaixonar-se pela beleza nada mais é do que apaixonar-se pela vida.


Airton Monte - Publicada no jornal O POVO no dia 2 de Novembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Uma visão panorâmica da cidade de Aracoiaba ( foto recolhida nem sei como!)

J.Davi

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pedra Aguda , monumento tão banalizado pelos aracoiabenses, infelizmente meus conterrâneos não dão valor a Geografia de sua terra!

Foto por J. Davi

sábado, 14 de agosto de 2010

Como não tenho muito tempo para escrever nesse espaço, farei uma homenagem a importante poetisa mineira ADÉLIA PRADO , esse poema tem como título TEMPO ( e não é por acaso que seu título é esse!) , notem a densidade poética colocada num pequeno espaço de versos, isso só ADÉLIA sabe fazer:

TEMPO


A mim que desde a infância venho vindo

como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,Negrito
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.

ADÉLIA PRADO


segunda-feira, 21 de junho de 2010

Em Breve voltarei a escrever nesse espaço onde as almas se encontram, poderemos nos encontrar por aqui em breve, quando eu deixa minha inércia mental poderemos compartilhar as novidades e nossas angustias.
J. Davi

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Outro achado dessa excelente poetisa mineira Adélia Prado, ele tem como título "Poema Começado do Fim" , sempre me impressionei com esses versos desde de minha infância, segue abaixo:



Poema Começado do Fim

Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando:
parece que estou num filme.
Se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
As casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade.
Vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu.

(Adélia Prado)
Não vou nem inventar muito, mas reproduzirei um poema de bastante densidade da poetisa mineira ADÉLIA Luzia PRADO de Freitas, intitulado de ' O Amor no Éter" . Desde a primeira vez que fiz a leitura desse poema concreto que fiquei deveras impresionado;reproduzo a seguir:

O Amor no Éter

Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos
mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.

(Adélia Prado)


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Desabafo

As pessoas estão a cada dia mais egoístas, esse mundo está meio ruim, não sei se compensa viver onde as pessoa estão a cada dia mais materialistas , egoístas e invejosas. Provavelmente eu não fui treinado para esse mundo-cão. Não demorará muito se nossa sociedade se consumir numa autofagia insana. Não sei onde vamos para e perspectiva é a pior possível! Talvez ainda nem estarei mais por aqui para vê essa cena deprimente e de decadência total da raça humana. Não se estou tão otimista quanto a época que crie esse blog.
João Davi de Sousa Queiroz

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Quanto Vale a Educação

Esse texto foi publicado no jornal O POVO edição número 27291 do dia 09 de Fevereiro de 2010, muito pertinente esse texto, e requer discussões , ele foi escrito pelo professor João Bosco Nogueira, professor da Universidade Estadual do Ceará - reproduzo aqui ipsi literis :

Quanto vale a educação?


Por um erro de visão, a educação não é prestigiada no Brasil como atividade própria e exclusiva do Estado. Os neoliberais a veem apenas como mais um serviço de utilidade pública, e a própria Constituição Federal não a valoriza como um serviço essencial, de relevante interesse público, ao contrário dos países desenvolvidos. Seu desprestígio revela-se no confronto da remuneração do professor com a de outros servidores.

A remuneração deve ser proporcional à natureza, complexidade e responsabilidade exigidas no serviço prestado, assim ordena também a Constituição Federal. Qual é a atividade mais complexa e mais relevante que a dos mestres, que educam o povo, formam cidadãos e preparam a mão de obra de todo o país, inclusive, a do serviço público?Então, por que a gritante diferença? O deficiente sistema educacional brasileiro está na base de nossos maiores problemas.

Por isso, numa eventual discussão de como melhorá-lo, seria razoável a inclusão de sugestões como estas: federalização de todo o sistema, especialmente, do ensino básico; implantação, ainda que de forma paulatina, para não se inviabilizar o erário, de um plano de cargos e salários para todos os mestres, de todos os níveis educacionais, de tal forma que a remuneração do professor PhD de uma universidade pública, com dedicação exclusiva, fosse a maior no Executivo, e referência para os demais cargos deste Poder; exigência de pontualidade e assiduidade dos mestres, com a introdução do ponto eletrônico; criação de sistema permanente e compulsório de reciclagem e de avaliação periódica dos mesmos, com a participação dos alunos; centralização na União dos recursos do Tesouro Federal destinados à educação, atualmente canalizados para Estados e Municípios; parceria com os Estados, que ofereceriam o espaço físico das escolas.

Quanto vale a educação? Vale nossa evolução, nossa construção integral, vale uma sociedade saudável, sem desigualdades, e por isso, segura e pacífica, vale uma economia competitiva e um país forte e acreditado.

João Bosco Nogueira - Professor da Universidade Estadual do Ceará