sábado, 14 de agosto de 2010

Como não tenho muito tempo para escrever nesse espaço, farei uma homenagem a importante poetisa mineira ADÉLIA PRADO , esse poema tem como título TEMPO ( e não é por acaso que seu título é esse!) , notem a densidade poética colocada num pequeno espaço de versos, isso só ADÉLIA sabe fazer:

TEMPO


A mim que desde a infância venho vindo

como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,Negrito
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.

ADÉLIA PRADO


Nenhum comentário:

Postar um comentário