terça-feira, 17 de maio de 2016

Do blog do Ulysses Ferraz - Os homens que queriam ser presidentes

Reproduzo sem pretensão de tomar pra mim, embora eu concorde com cada palavra escrita,   este excelente texto do Blog do Senhor Ulysses Ferraz  -


segue o link do blog -  https://ulyssesferraz.blogspot.com.br/2016/05/os-homens-que-queriam-ser-presidentes.html



"Os homens que queriam ser presidentes"


“Já naquela altura, depois de tanto abuso, era impossível distinguir homem do porco.” (A revolução dos bichos, George Orwell)

" Esse é o golpe dos homens que queriam ser presidentes. Esse é o golpe dos homens que foram derrotados nas urnas. Esse é o golpe dos homens que não se conformaram em perder as eleições para um ex-metalúrgico. Esse é o golpe dos homens que não aceitaram a derrota para uma mulher. Esse é o golpe dos homens sérios que não levam as regras democráticas a sério. Esse é o golpe dos caciques do PSDB. Serra, Aécio, Alckimin. Esse é o golpe do homem que queria ser rei. FHC. Esse é o golpe dos traidores do PMDB. Esse é o golpe do vice-presidente que também queria ser presidente. Temer. Esse é o golpe dos congressistas da bala. Da bíblia. Do boi. Dos bancos. Da propriedade. Da família. Esse é o golpe dos lobistas infiltrados na política. Esse é o golpe dos fascistas. Esse é o golpe dos homens que pregam a tortura. Dos Bolsonaros. Esse é o golpe dos réus. Cunhas. Renans. Malufs. Esse é o golpe dos tecnocratas. Cristóvãos. Miros. Moreiras. Esse é o golpe dos homens que rasgam a constituição. Moros. Janots. Gilmares. Esse é o golpe dos moralistas sem moral. Esse é o golpe dos homens que comandam as grandes corporações. Dos barões da mídia. Dos soldados do capital financeiro-especulativo. Dos magnatas das armas. Dos monarcas do petróleo. Dos senhores da guerra. Dos soberanos do tráfico. Dos imperadores das finanças. Dos tiranos da indústria cultural. Dos magos da moeda virtual e eletrônica. Esse é golpe do velho jeito de fazer negócio dos velhos congressistas de negócios. O golpe dos eternos coronéis da política. Esse é o golpe do conservadorismo jurídico dos homens togados. Esse é o golpe dos homens da Fiesp, da Febraban e da OAB. O golpe da dominação masculina entranhada nas nossas instituições ainda patriarcais e retrógradas. Esse é o golpe dos homens que não suportam as minorias. Esse é o golpe dos homens homofóbicos. Esse é o golpe dos homens que odeiam o povo. E não suportam a diversidade. O multiculturalismo. A democracia. Esse é o golpe da mentalidade escravocrata e senhorial. Esse é o golpe dos bigodes pintados, das cabeleiras falsas, das gravatas encurtadas pairando sobre a deselegância indiscreta de suas barrigas. Esse é o golpe de homens que ostentam a cafajestice. Esse é o golpe do chauvinismo cínico. Da misoginia. Da plutocracia. Da antidemocracia. Esse é o golpe das mulheres que pensam como os piores homens. Esse é o golpe dos homens que representam o pior do homem."

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Pacem in Terris - 12 de Maio 2016

Aracoiaba - Um ufanista desta terra eu sou. Sou cidadão do mundo, Katmandu, Bonn, Gibraltar, Aconcágua, Papua Nova Guiné, Bonn, Pedra Aguda de todos nós. Precisamos de paz e união, No War, Peace In World, Today and Ever. Num recanto tão provinciano onde a as contendas não ajudam em nada. O sol brilha em quase todas as páginas de um livro de 365 páginas que é pequeno mas a cada leitura a sensação não é a mesma. Luz, Luz para os meus olhos míopes que enxergam pouco mas que vão longe. Luz de um Deus quase absurdo, muito abstrato! Seus ascetas hipócritas pululam. O existencialismo complexo e absurdo está em tuas ruas. Aracoiaba precisa de paz, Pacem in Terris, Terra brasilis perto da imaginária linha do Equador. Paz, sol, sonho, altruísmo que se propague em cada lar, palacete, solar, choupana, palafita, palacete. Ceu azul, noite insone, sombras , medo. Aí sempre vem a necessidade de vida. Vida que mais te quero ainda. O som das crianças brincando como se nunca existisse o mal. Luz. Luz da existência da essência. Luz - vida-existência, trinômio complexo e conjunto. Lucidez- embriaguez, binômio inútil. Enquanto se lê isto há mais amor aqui que em qualquer parte do mundo. No War, Again. O coração pulsa em sístoles e diástoles pela vida conflituosa mas que vale apena lutar por sua manutenção! Há uma roupa tecida por almas, várias almas. Quero a liberdade, quero o vinho e o pão, quero escutar o som de Eumir Deodato. Alguém concorda comigo e eu entristeço-me. Alguém discorda de mim e alegro-me. Tudo isso ocorre em Aracoiaba, cidade mais universal, cosmopolitana e complexa. Sou tomado tomado por um ufanismo incessante. Ufanismo por esta terra, por suas pessoas complexas de personalidades mais complexas ainda. Viva a milícia, viva a malícia. Somos todos civis, em Aracoiaba.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

NOITE DE ALMIRANTE - Machado de Assis

Posto aqui este excelente conto de um dos maiores escritores da Língua Portuguesa Machado de Assis. Uma peróla que deleita os apreciadores da boa leitura!!!




 NOITE DE ALMIRANTE



Deolindo Venta-Grande (era uma alcunha de bordo) saiu do arsenal de marinha e enfiou pela rua de Bragança. Batiam três horas da tarde. Era a fina flor dos marujos e, de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos. A corveta dele voltou de uma longa viagem de instrução, e Deolindo veio à terra tão depressa alcançou licença. Os companheiros disseram-lhe, rindo:
- Ah! Venta-Grande! Que noite de almirante vai você passar! ceia, viola e os braços de Genoveva. Colozinho de Genoveva...
Deolindo sorriu. Era assim mesmo, uma noite de almirante, como eles dizem, uma dessas grandes noites de almirante que o esperava em terra. Começara a paixão três meses antes de sair a corveta. Chamava-se Genoveva, caboclinha de vinte anos, esperta, olho negro e atrevido. Encontraram-se em casa de terceiro e ficaram morrendo um pelo outro, a tal ponto que estiveram prestes a dar uma cabeçada, ele deixaria o serviço e ela o acompanharia para a vila mais recôndita do interior.
A velha Inácia, que morava com ela, dissuadiu-os disso; Deolindo não teve remédio senão seguir em viagem de instrução. Eram oito ou dez meses de ausência. Como fiança recíproca, entenderam dever fazer um juramento de fidelidade.
- Juro por Deus que está no céu. E você?
- Eu também.
- Diz direito.
- Juro por Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte.
Estava celebrado o contrato. Não havia descrer da sinceridade de ambos; ela chorava doidamente, ele mordia o beiço para dissimular. Afinal separaram-se, Genoveva foi ver sair a corveta e voltou para casa com um tal aperto no coração que parecia que "lhe ia dar uma coisa". Não lhe deu nada, felizmente; os dias foram passando, as semanas, os meses, dez meses, ao cabo dos quais, a corveta tornou e Deolindo com ela.
Lá vai ele agora, pela rua de Bragança, Prainha e Saúde, até ao princípio da Gamboa, onde mora Genoveva. A casa é uma rotulazinha escura, portal rachado do sol, passando o cemitério dos Ingleses; lá deve estar Genoveva, debruçada à janela, esperando por ele. Deolindo prepara uma palavra que lhe diga. Já formulou esta: "Jurei e cumpri", mas procura outra melhor. Ao mesmo tempo lembra as mulheres que viu por esse mundo de Cristo, italianas, marselhesas ou turcas, muitas delas bonitas, ou que lhe pareciam tais. Concorda que nem todas seriam para os beiços dele, mas algumas eram, e nem por isso fez caso de nenhuma. Só pensava em Genoveva. A mesma casinha dela, tão pequenina, e a mobília de pé quebrado, tudo velho e pouco, isso mesmo lhe lembrava diante dos palácios de outras terras. Foi à custa de muita economia que comprou em Trieste um par de brincos, que leva agora no bolso com algumas bugigangas. E ela que lhe guardaria? Pode ser que um lenço marcado com o nome dele e uma âncora na ponta, porque ela sabia marcar muito bem. Nisto chegou à Gamboa, passou o cemitério e deu com a casa fechada. Bateu, falou-lhe uma voz conhecida, a da velha Inácia, que veio abrir-lhe a porta com grandes exclamações de prazer. Deolindo, impaciente, perguntou por Genoveva.
- Não me fale nessa maluca, arremeteu a velha. Estou bem satisfeita com o conselho que lhe dei. Olhe lá se fugisse. Estava agora como o lindo amor.
- Mas que foi? que foi?
A velha disse-lhe que descansasse, que não era nada, uma dessas coisas que aparecem na vida; não valia a pena zangar-se. Genoveva andava com a cabeça virada...
- Mas virada por quê?
- Está com um mascate, José Diogo. Conheceu José Diogo, mascate de fazendas? Está com ele. Não imagina a paixão que eles têm um pelo outro. Ela então anda maluca. Foi o motivo da nossa briga. José Diogo não me saía da porta; eram conversas e mais conversas, até que eu um dia disse que não queria a minha casa difamada. Ah! meu pai do céu! foi um dia de juízo. Genoveva investiu para mim com uns olhos deste tamanho, dizendo que nunca difamou ninguém e não precisava de esmolas. Que esmolas, Genoveva? O que digo é que não quero esses cochichos à porta, desde as aves-marias... Dois dias depois estava mudada e brigada comigo.
- Onde mora ela?
- Na praia Formosa, antes de chegar à pedreira, uma rótula pintada de novo.
Deolindo não quis ouvir mais nada. A velha Inácia, um tanto arrependida, ainda lhe deu avisos de prudência, mas ele não os escutou e foi andando. Deixo de notar o que pensou em todo o caminho; não pensou nada. As idéias marinhavam-lhe no cérebro, como em hora de temporal, no meio de uma confusão de ventos e apitos. Entre elas rutilou a faca de bordo, ensangüentada e vingadora. Tinha passado a Gamboa, o Saco do Alferes, entrara na praia Formosa. Não sabia o número de casa, mas era perto da pedreira, pintada de novo, e com auxílio da vizinhança poderia achá-la. Não contou com o acaso que pegou de Genoveva e fê-la sentar à janela, cosendo, no momento em que Deolindo ia passando. Ele conheceu-a e parou; ela, vendo o vulto de um homem, levantou os olhos e deu com o marujo.
- Que é isso? exclamou espantada. Quando chegou? Entre, seu Deolindo.
E, levantando-se, abriu a rótula e fê-lo entrar. Qualquer outro homem ficaria alvoroçado de esperanças, tão francas eram as maneiras da rapariga; podia ser que a velha se enganasse ou mentisse; podia ser mesmo que a cantiga do mascate estivesse acabada. Tudo isso lhe passou pela cabeça, sem a forma precisa do raciocínio ou da reflexão, mas em tumulto e rápido. Genoveva deixou a porta aberta, fê-lo sentar-se, pediu-lhe notícias da viagem e achou-o mais gordo; nenhuma comoção nem intimidade. Deolindo perdeu a última esperança. Em falta de faca, bastavam-lhe as mãos para estrangular Genoveva, que era um pedacinho de gente, e durante os primeiros minutos não pensou em outra coisa.
- Sei tudo, disse ele.
- Quem lhe contou?
Deolindo levantou os ombros.
- Fosse quem fosse, tornou ela, disseram-lhe que eu gostava muito de um moço?
- Disseram.
- Disseram a verdade.
Deolindo chegou a ter um ímpeto; ela fê-lo parar só com a ação dos olhos. Em seguida disse que, se lhe abrira a porta, é porque contava que era homem de juízo. Contou-lhe então tudo, as saudades que curtira, as propostas do mascate, as suas recusas, até que um dia, sem saber como, amanhecera gostando dele.
- Pode crer que pensei muito e muito em você. Sinhá Inácia que lhe diga se não chorei muito... Mas o coração mudou... Mudou... Conto-lhe tudo isto, como se estivesse diante do padre, concluiu sorrindo.
Não sorria de escárnio. A expressão das palavras é que era uma mescla de candura e cinismo, de insolência e simplicidade, que desisto de definir melhor. Creio até que insolência e cinismo são mal aplicados. Genoveva não se defendia de um erro ou de um perjúrio; não se defendia de nada; faltava-lhe o padrão moral das ações. O que dizia, em resumo, é que era melhor não ter mudado, dava-se bem com a afeição do Deolindo, a prova é que quis fugir com ele; mas, uma vez que o mascate venceu o marujo, a razão era do mascate, e cumpria declará-lo. Que vos parece? O pobre marujo citava o juramento de despedida, como uma obrigação eterna, diante da qual consentira em não fugir e embarcar: "Juro por Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte". Se embarcou, foi porque ela lhe jurou isso. Com essas palavras é que andou, viajou, esperou e tornou; foram elas que lhe deram a força de viver. Juro por Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte...
- Pois, sim, Deolindo, era verdade. Quando jurei, era verdade. Tanto era verdade que eu queria fugir com você para o sertão. Só Deus sabe se era verdade! Mas vieram outras coisas... Veio este moço e eu comecei a gostar dele...
- Mas a gente jura é para isso mesmo; é para não gostar de mais ninguém...
- Deixa disso, Deolindo. Então você só se lembrou de mim? Deixa de partes...
- A que horas volta José Diogo?
- Não volta hoje.
- Não?
- Não volta; está lá para os lados de Guaratiba com a caixa; deve voltar sexta-feira ou sábado... E por que é que você quer saber? Que mal lhe fez ele?
Pode ser que qualquer outra mulher tivesse igual palavra; poucas lhe dariam uma expressão tão cândida, não de propósito, mas involuntariamente. Vede que estamos aqui muito próximos da natureza. Que mal lhe fez ele? Que mal lhe fez esta pedra que caiu de cima? Qualquer mestre de física lhe explicaria a queda das pedras. Deolindo declarou, com um gesto de desespero, que queria matá-lo. Genoveva olhou para ele com desprezo, sorriu de leve e deu um muxoxo; e, como ele lhe falasse de ingratidão e perjúrio, não pôde disfarçar o pasmo. Que perjúrio? que ingratidão? Já lhe tinha dito e repetia que quando jurou era verdade. Nossa Senhora, que ali estava, em cima da cômoda, sabia se era verdade ou não. Era assim que lhe pagava o que padeceu? E ele que tanto enchia a boca de fidelidade, tinha-se lembrado dela por onde andou?
A resposta dele foi meter a mão no bolso e tirar o pacote que lhe trazia. Ela abriu-o, aventou as bugigangas, uma por uma, e por fim deu com os brincos. Não eram nem poderiam ser ricos; eram mesmo de mau gosto, mas faziam uma vista de todos os diabos. Genoveva pegou deles, contente, deslumbrada, mirou-os por um lado e outro, perto e longe dos olhos, e afinal enfiou-os nas orelhas; depois foi ao espelho de pataca, suspenso na parede, entre a janela e a rótula, para ver o efeito que lhe faziam. Recuou, aproximou-se, voltou a cabeça da direita para a esquerda e da esquerda para a direita.
- Sim, senhor, muito bonitos, disse ela, fazendo uma grande mesura de agradecimento. Onde é que comprou?
Creio que ele não respondeu nada, não teria tempo para isso, porque ela disparou mais duas ou três perguntas, uma atrás da outra, tão confusa estava de receber um mimo a troco de um esquecimento. Confusão de cinco ou quatro minutos; pode ser que dois. Não tardou que tirasse os brincos, e os contemplasse e pusesse na caixinha em cima da mesa redonda que estava no meio da sala. Ele pela sua parte começou a crer que, assim como a perdeu, estando ausente, assim o outro, ausente, podia também perdê-la; e, provavelmente, ela não lhe jurara nada.
- Brincando, brincando, é noite, disse Genoveva.
Com efeito, a noite ia caindo rapidamente. Já não podiam ver o hospital dos Lázaros e mal distinguiam a ilha dos Melões; as mesmas lanchas e canoas, postas em seco, defronte da casa, confundiam-se com a terra e o lodo da praia. Genoveva acendeu uma vela. Depois foi sentar-se na soleira da porta e pediu-lhe que contasse alguma coisa das terras por onde andara. Deolindo recusou a princípio; disse que se ia embora, levantou-se e deu alguns passos na sala. Mas o demônio da esperança mordia e babujava o coração do pobre diabo, e ele voltou a sentar-se, para dizer duas ou três anedotas de bordo. Genoveva escutava com atenção. Interrompidos por uma mulher da vizinhança, que ali veio, Genoveva fê-la sentar-se também para ouvir "as bonitas histórias que o Sr. Deolindo estava contando". Não houve outra apresentação. A grande dama que prolonga a vigília para concluir a leitura de um livro ou de um capítulo, não vive mais intimamente a vida dos personagens do que a antiga amante do marujo vivia as cenas que ele ia contando, tão livremente interessada e presa, como se entre ambos não houvesse mais que uma narração de episódios. Que importa à grande dama o autor do livro? Que importava a esta rapariga o contador dos episódios?
A esperança, entretanto, começava a desampará-lo e ele levantou-se definitivamente para sair. Genoveva não quis deixá-lo sair antes que a amiga visse os brincos, e foi mostrar-lhos com grandes encarecimentos. A outra ficou encantada, elogiou-os muito, perguntou se os comprara em França e pediu a Genoveva que os pusesse.
- Realmente, são muito bonitos.
Quero crer que o próprio marujo concordou com essa opinião. Gostou de os ver, achou que pareciam feitos para ela e, durante alguns segundos, saboreou o prazer exclusivo e superfino de haver dado um bom presente; mas foram só alguns segundos.
Como ele se despedisse, Genoveva acompanhou-o até à porta para lhe agradecer ainda uma vez o mimo, e provavelmente dizer-lhe algumas coisas meigas e inúteis. A amiga, que deixara ficar na sala, apenas lhe ouviu esta palavra: "Deixa disso, Deolindo"; e esta outra do marinheiro: "Você verá." Não pôde ouvir o resto, que não passou de um sussurro.
Deolindo seguiu, praia fora, cabisbaixo e lento, não já o rapaz impetuoso da tarde, mas com um ar velho e triste, ou, para usar outra metáfora de marujo, como um homem "que vai do meio caminho para terra". Genoveva entrou logo depois, alegre e barulhenta. Contou à outra a anedota dos seus amores marítimos, gabou muito o gênio do Deolindo e os seus bonitos modos; a amiga declarou achá-lo grandemente simpático.
- Muito bom rapaz, insistiu Genoveva. Sabe o que ele me disse agora?
- Que foi?
- Que vai matar-se.
- Jesus!
- Qual o quê! Não se mata, não. Deolindo é assim mesmo; diz as coisas, mas não faz. Você verá que não se mata. Coitado, são ciúmes. Mas os brincos são muito engraçados.
- Eu aqui ainda não vi destes.
- Nem eu, concordou Genoveva, examinando-os à luz. Depois guardou-os e convidou a outra a coser. - Vamos coser um bocadinho, quero acabar o meu corpinho azul...
A verdade é que o marinheiro não se matou. No dia seguinte, alguns dos companheiros bateram-lhe no ombro, cumprimentando-o pela noite de almirante, e pediram-lhe notícias de Genoveva, se estava mais bonita, se chorara muito na ausência, etc. Ele respondia a tudo com um sorriso satisfeito e discreto, um sorriso de pessoa que viveu uma grande noite. Parece que teve vergonha da realidade e preferiu mentir.

Contos Consagrados - Machado de Assis

sábado, 16 de abril de 2016

Gregório Bezerra

História de um valente
“Valentes, conheci muito
e valentões, muito mais
uns só valente no nome
uns outros só de cartaz
uns valentes pela fome
outros para comer demais
sem falar dos que são homens
só com capangas atrás.
Mas existe nesta terra
muito homem de valor
que é bravo sem matar gente
mas não teme matador
que gosta da sua gente
e que luta ao seu favor
como Gregório Bezerra
feito de ferro e de flor”
Ferreira Gullar, poeta maranhense.

segunda-feira, 14 de março de 2016

NÃO HÁ CADEIA SUFICIENTE PARA LULA Texto do um professor da UNB - Perci Coelho de Sousa

Perci Coelho de Souza é coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Poder Local, Políticas Urbanas e Serviço Social da Universidade de Brasília (UNB)


Não há cadeia suficiente para Lula, não há construção erigida que suporte tamanha pena, que dê conta de tanto pecado. Haja grades de ferro e de aço que sejam capazes de segurar, de reter e de trancafiar tanta coisa numa só, tanta gente num só homem. Não há cadeia no mundo que seja capaz de prender a esperança, que seja capaz de calar a voz. Porque, na cadeia de Lula, não cabe a diversidade cultural Não cabe, na cadeia de Lula, a fome dos 40 milhões Que antes não tinham o que comer Não cabe a transposição do São Francisco Que vai desaguar no sertão, encharcar a caatinga Levar água, com quinhentos anos de atraso, Para o povo do nordeste, o mais sofrido da nação. Pela primeira vez na história desse país. Pra colocar Lula na cadeia, terão que colocar também O sorriso do menino pobre A dignidade do povo pobre e trabalhador E a esperança da vida que melhorou. Ainda vai faltar lugar Para colocar tanta Universidade E para as centenas de Escolas Federais Que o ‘analfabeto’ Lula inventou de inventar Não cabem na cadeia de Lula Os estudantes pobres das periferias Que passaram no Enem Nem o filho de pedreiro que virou doutor. Não tem lugar, na cadeia de Lula, Para os milhões de empregos criados, (e agora sabotados) Nem para os programas de inclusão social Atacados por aqueles que falam em Deus E jogam pedras na cruz. Não cabe na cadeia de Lula O preconceito de quem não gosta de pobre O racismo de quem não gosta de negro A estupidez de quem odeia gays Índios, minorias e os movimentos sociais. Não pode caber numa cela qualquer A justiça social, a duras penas, conquistada. E se mesmo assim quiserem prender – querer é Poder (judiciário?), Coloquem junto na cadeia: A falta d’água de São Paulo, E a lama de Mariana (da Vale privatizada) O patrimônio dilapidado. E o estado desmontado de outrora Os 300 picaretas do Congresso E os criadores de boatos Pela falta de decência E a desfaçatez de caluniar. Pra prender o Lula tem que voltar a trancafiar o Brasil. O complexo de vira-latas também não cabe. Nem as panelas das sacadas de luxo O descaso com a vida dos outros A indiferença e falta de compaixão A mortalidade infantil Ou ainda (que ficou lá atrás) Os cadáveres da fome do Brasil. Haja delação premiada Pra prender tanta gente de bem. Que fura fila e transpassa pela direita (sim, pela direita) Do patrão da empregada, que não assina a carteira Do que reclama do imposto que sonega Ou que bate o ponto e vai embora. Como poderá caber Lula na cadeia, Se pobre não cabe em avião? Quem só devia comer feijão Em vez de carne, arroz, requeijão Muito menos comprar carro, Geladeira, fogão – Quem diz? Que não pode andar de cabeça erguida Depois de séculos de vida sofrida? O prestígio mundial e o reconhecimento Teriam que ir junto pra prisão Afinal, (Ele é o cara!) Os avanços conquistados não cabem também. Querem por Lula na cadeia infecta, escura A mesma que prendeu escravos, ‘Mulheres negras, magras crianças’ E miseráveis homens – fortes e bravos O povo d’África arrastado E que hoje faz a riqueza do Brasil. Lula já foi preso, ele sabe o que é prisão. Trancafiado nos porões da ditadura Aquela que matou tanta gente, Que tirou nossa liberdade A mesma ditadura que prendeu, torturou. Quem hoje grita nas ruas Não gritaria nos anos de chumbo Na democracia são valentes Mas cordatos, calados, covardes Quando o estado mata, bate e deforma. Luis Inácio já foi preso, Também Pepe Mujica e Nelson Mandela. Quem hoje bate palmas, chora e homenageia, Já foi omisso, saiu de lado e fez que não viu. Não vão prender Lula de novo Porque na cadeia não cabe Podem odiar o operário O pobre coitado iletrado Que saiu de Pernambuco Fugiu da seca e da fome Pra conquistar o Brasil E melhorar a vida da gente Mas não há Nesse mundão de meu Deus Uma viva alma que diga Que alguém tenha feito mais pelo povo Do que Lula fez no Brasil. “Não dá pra parar um rio quando ele corre pro mar. Não dá pra calar um Brasil, quando ele quer cantar.” Lula lá!

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Crônica - Senhas - 12 Jan 2016

                                         Crônica - Senhas - 12 Jan 2016

O dia amanheceu para mim mais cedo do que o comum, de súbito tenho o sono interrompido pela insônia minha eterna companheira que insiste em acompanhar. As sombras da noite ainda são as mesmas desde quando cai nos braços de Morfeu. Olho para o telhado buscando inutilmente algum sinais de luz solar. Impossível a essa hora. Na casa todos dormem o sono dos justos sem serem incomodados pela minha egoísta insônia. A única solução é erguer-me de meu leito e fazer companhia aos espíritos que rondam meu casebre. Vou a cozinha onde sobre uma mesa de madeira jaz uma garrafa de café dormido e inservível. Já que não há ninguém da casa acordado para um diálogo vou para o computador de mesa para ler as notícias do dia nos sítios da grande rede. Dentre a enxurrada de notícias que poluem este mundo uma ganha maior destaque: a morte de um astro da música pop internacional veio a falecer gerando um grande sentimento de tristeza entre seus fãs. Impaciento com tudo isso e desligo a máquina para ligar outra menos sofisticada em termos de tecnologia, é o meu rádio de pilhas que me acompanha ao longo de várias jornadas. Notícias nada animadoras dão a senha que a economia do país não vai bem.
                O relógio avança, a luz do astro rei vence o breu da noite, na minha rua os primeiros transeuntes dão o ar da graça zanzando para ali e para acolá. Agora tomo coragem de traçar itinerários alheios pela urbe. Encontrar pessoas para dialogar, discordar e contrapor pontos de vista. É bom que assim seja dentre da civilidade de um diálogo respeitoso, porém conflituoso.

                Volto para casa onde todos agora estão apostos para mais um dia azafamado,  logo logo  meu tugúrio estará ocupado apenas por mim e meus fantasmas. Neste intervalo preciso encontrar animo e motivação para continuar a ler o livro deixado de lado a três quartos de seu fim. Olho um pouco para trás e vi que tudo foi rápido nessa manhã de sol e que começou com uma insônia. Preciso encontrar a senha que resolva todos os meus problemas existenciais. Os fantasmas me perseguem outra vez  com suas vozes mudas de linguagem não verbal, se comunicam só de modo unilateral. Minha mediunidade é nula ainda.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Carlos Drummond de Andrade - Tempo - 31 de Dezembro 2015

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. 


Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente.

Para você, desejo o sonho realizado. O amor esperado. 
A esperança renovada. 


Para você, desejo todas as cores desta vida. Todas as alegrias que puder sorrir, todas as músicas que puder emocionar. 


Para você neste novo ano, desejo que os amigos sejam mais cúmplices, que sua família esteja mais unida, que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente para repassar o que realmente desejo a você. Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto, rumo à sua felicidade!” 
 


quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Hoje é Natal - 24 de Dezembro 2015

Hoje é Natal, uma data que a muito tem seu personagem principal, por razões meramente capitais,  como um mero coadjuvante de sua festa. Muita gente nesta data é extremamente feliz, muitos trazem recordações boas, dos doces anos, dos verdes anos da vida. Recordações extraordinárias e o nascimento de Jesus coincide com o melhor momento da biografia de cada um, outros tem no dia de hoje o seu momento de tristeza, os hospitais estão funcionando exatamente agora, como vão funcionar amanhã, em pleno natal, muitos terminarão a vida exatamente nesta data, muitos serão acidentados, os acontecimentos tristes e até torpes, assaltarão muitos lares  exatamente no natal.  E ficará sempre aquela amargura: quando chegar o natal a pessoa vai se lembrar daquele dia triste que lamentavelmente coincidiu com uma data, eleita pelos homens, para que Jesus nasça a cada ano em nossa consciência e nossa sensibilidade. Todos nós temos muito que recordar sobre o Natal, nem vou falar das minhas recordações, porque elas foram alegres , foram tristes, comuns a cada biografia com  suas nuance, sua característica. O dia de hoje sempre será excepcional porque Jesus vai nascer ( e está sempre nascendo a cada ano), de qualquer modo ele vai nascer. Não importa se é um dia comercial, se o comercio aproveita para determinadas promoções, para aumentar as vendas, para compensar dias ruins que aconteceram por força da crise econômica, nem importa isso. O que importa é podermos refletir, examinar, pesar, contar, rezar, rezar no dia de natal, é muito importante refletir: Quem terá sido Jesus? Jesus erguendo Lázaro, erguendo aquela criança que parecia dormir para sempre, e que despertou com uma fome forte, uma necessidade imensa de se alimentar. Jesus fazendo o cego ver, mas o principal de Jesus não é nenhum milagre específico, é o milagre de sempre conquistar a coletividade das almas dos homens, conduzindo o ser humano para novos horizontes, para outras perspectivas, redefinindo os sentimentos humanos, dando uma nova dimensão ao amor. Eis que os poetas tentaram definir o amor. Camões fez um soneto belíssimo sobre  a chama que arde inevitavelmente. Quantos falaram do amor antes dele e  Depois dele! Mas o que se aprende de Jesus é um amor mais amplo,é um amor por todos, é um amor coletivo, materno e paterno ao mesmo tempo,é uma responsabilidade em sermos fraternos , a responsabilidade em termos afinal de contas, uma condição espiritual enquanto somos humanos.
 É assim Jesus, e portanto que este natal renove todo seu mistério, que todos queiram desvendar este mistério. Quem era mesmo o filho de Maria? Que história realmente ele cumpria? Qual era o roteiro reservado por Deus a este  homem? Como ele era? Que veio mesmo fazer? Fez ou não fez?Até onde iria seu estado humano? Até onde o seu lado espiritual?  Natal é acima de tudo reflexão. Natal é investigação. O momento  em que nós devemos ter profundidade para sabermos quem era Jesus. Ele está perdido dentro da história e dentro do nosso íntimo, devemos encontrá-lo. Nós vamos encontrar Jesus, nós vamos reconstituí-lo para que ele fale através de cada um de nós. Quem era Jesus?  Que Jesus era este? Que importa a condição social que ele veio?!  O que importa que o natal seja uma data comercial?  Não existem datas comerciais em nossa alma, no nosso íntimo, na nossa fé, não há datas comercias. Há datas especialíssimas, como é este Natal!!


quarta-feira, 29 de julho de 2015

Crônica - Antes de P e B - 29 de Julho 2015

                                  Crônica - Antes de P e B - 29 de Julho 2015



Costumeiramente recebemos visitas nas manhãs de segunda a sábado ou de segunda a segunda , o ponteiro do relógio marca dez horas  perfazendo no arco menor um ângulo de setenta e dois graus.Até o momento, não recebemos nenhuma dessas previsíveis visitas. No vazio da sala onde leio  um livro de contos de um escritor local, ponho a brochura  de lado momentaneamente para outros afazeres inúteis. Abro o “livro de notas” e vou verificar meu correio eletrônico esperando alguma mensagem significativa. Em meio a um sem número de mensagens insignificantes de correntes espirituais e outras menos votadas, me deparo com uma no mínimo burlesca - Uma oferta, uma pechincha, na linguagem do vendedor da mensagem, apartamentos  novos que estão sendo construídos ( ou já estão prontos, não lembro bem!) . No reclame, o vendilhão aponta um preço cujo valor representa a soma de uma vida inteira de numerários do meu modesto sal, ora, logo eu um simplório amanuense que não consegue nem quitar algumas letras de baixo valor vencidas a tempos ! Brincadeira tem hora!
Eis que chega o primeiro visitante ao receptivo tugúrio, trata-se de uma diarista que mora do outro lado da urbe, chega com a tez tostada do tórrido sol do meio da manhã, sem disfarces ela afirma ter vindo de um “centro espírita” que fica por trás do mercado público. Ela troca vários diálogos ininteligíveis com a empregada da casa vizinha que a essa hora aproveita os momentos de ócio da faina do lar de nossa vizinha solteirona. Depois de uma hora após a primeira visita, passaram um sem número de pessoas pousar a sombra do alpendre  de nossa choupana. Um vendedor de vassouras que gritava seu pregão a plenos pulmões, o vendedor de bilhetes de loterias, a anã que mora no fim da rua deu o ar de sua graça por estas paragens com suas estórias repetidas de sempre, ainda um gari gazeando a hora de trabalho dá os bons dias aos que aqui estão. Dentre estes  personagens vários, aparece uma senhora que costumeiramente passava por ali, já anda por seus setenta e poucos anos,  celibatária convicta,  a saudosista mulher contava causos do seu tempo de aluna interna no grupo escolar de sua cidade, citava ela  namoricos, artes juvenis do seu tempo, e comparava com os da geração atual. Outra matrona, pegando o gancho na prosa da outra, lembrava de situações cognitivas, falava ela de regras ortográficas, lembrando ter aprendido que antes das letras pê e bê se deve usar única e exclusivamente a letra ême.
As horas correm, o sol está a pino, os ponteiros do relógio estão próximos de se juntarem a formar a hora grande. Nesta  rua solitária só alguns redemoinhos de vento mudam a paisagem erma da rua de pedra tosca. Volto ao livro que lia até bem pouco tempo e sou interrompido um instante por minha mãe que convoca toda prole para o repasto  sagrado do dia a dia. É hora do almoço.


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Crônica - Uma Oferta Irrecusável - 23 de Julho 2015

Crônica - Uma Oferta Irrecusável - 23 de Julho 2015
 Hoje é quarta-feira e eu lembro de um amigo antigo que dizia ser este o dia do equilíbrio, o dia que dividia a semana entre um fim de semana e outro. Estou a cumprir minha eterna sina de nada a fazer,  um carapina do nada a fazer. A casa vazia, a solidão, o silêncio que só é quebrado de vez em quando pela valsa dos fantasmas escondidos nas sombras do meu tugúrio, essa valsa até não me assusta mais, só na minha longínqua infância quando eu não conhecia esse estilo musical dos que tentam se comunicar ininteligivelmente . Estou a conferir o correio eletrônico e logo sou surpreendido por uma mensagem anunciando uma oferta irrecusável! Numa propaganda bem apelativa o reclame oferece um apartamento cujo preço soma uma valor totalmente aquém de meus combalidos numerários de simples amanuense! A dinheirama equivalia um valor que representava a soma de vários soldos, sais de uma vida inteira.Um sem número de zeros.
 O tempo passa, vou de música No “dial” do meu Marconi uma canção dançante do Morcheeba , uma banda que mistura soul, funk com elementos evoluídos da eletrônica musical.Enquanto a música toca vejo minha adega que mais se parece com altar de Baco, mas eu fui expulso de sua seita e não mais comungo com suas práticas, melhor assim , uma vez que meu combalido fígado não suportaria tanta devoção a Ele o deus Baco. Lá fora há um pregão de um mascate que vende várias bugigangas e objetos inservíveis,  tudo a preços módicos, quase em seguida um bravateiro vendedor de bilhete de loterias grita a plenos pulmões a sorte dos desafortunados num discurso ilusório e apelativo. O estafeta de uma multinacional vem quase no encalço do bilheteiro, suando em bicas ensopa de suor a camiseta amarela e a calça azul celeste, e a tira colo, um calhamaço de papeis desnecessários, com a mão em pala tenta identificar o numeral da correspondência para que nada saia errado.  Inquiro do núncio pela minha encomenda que eu espero a mais de trinta dias, prontamente o postilhão afirma que meu inventário não constava daquela chusmas de missivas e outros papeis.
 Agora o sol vai a meio caminho em busca do ocidente, o tempo passa, as cenas citadinas passam na minha janela e continuo procurando sentido para o alcunhada dado ao meu colega para este dia da semana. Procuro um equilíbrio impossível na minha confusa cabeça suburbana.