terça-feira, 15 de novembro de 2011

Airton Monte - O Caçador de Fantasmas - 8 de Novembro 2011

Genial Crônica!!!


Estou sozinho em casa. Todos arribaram do caseiro ninho em busca de outros lugares mais aprazíveis para desfrutar as delícias de um feriadão. Eu, como não sou chegado a encetar viagens nem de longa nem de curta duração, preferi restar no aparente sossego do suburbano tugúrio na ilustre companhia de meus discos, meus livros, meu caderno de escrever e da televisão. Há ocasiões em que me apraz mergulhar numa solitude consentida e, por vezes, para mim decididamente necessária e até mesmo desejada, apesar de ser um sujeito dotado de uma natureza gregária, que gosta de viver arrodeado de gente. Fui criado assim, numa família grande, numa casa grande onde os vizinhos entravam e saíam a todo instante como se fizessem parte da família. Afora as visitas constantes dos amigos, dos tios e da verdadeira multidão de primos que vinham nos dar o ar de sua graça no vetusto Solar dos Monte.

Como os hábitos e costumes da infância em nós permanecem indeléveis mesmo ao ficarmos adultos, está grudado em mim este gosto de viver em grupo com todos os seus incômodos e suas vantagens. Entanto, ficar a sós comigo mesmo em determinadas ocasiões faz um bem danado à alma, Isto é, desde que você aprecie sua própria companhia como acontece no meu caso. A casa me parece maior do que realmente é, embora a ausência das vozes conhecidas, dos passos da mulher e dos filhos faça brotar, de maneira inevitável, um muito de saudade em meu velho coração. Nesses momentos, bendigo a invenção do telefone, essa máquina de encurtar distâncias e aproximar os afetos entre quem se foi e quem ficou. Enquanto permaneço sob o reinado do dia, suporto melhor a falta dos que amo, principalmente quando não chove e a luz, a claridade entram pelas janelas num festival de brilhos e cintilações.

Porém, ao começar a escurecer e o fim da tarde anuncia a noite que chega trazendo as suas sombras indesejadas, é que a ausência dos seres queridos se torna mais dolorida e a solidão me bate com mais força e intensidade. Não que eu tenha um medo infantil das trevas noturnas e me deixe assombrar pela possível aparição de fantasmas e visagens. Afinal, sou um adulto. Além do mais, não acredito em assombrações nem em almas do outro mundo, em espíritos perdidos de caráter malfazejo, cujo esporte preferido é atazanar os vivos com suas imateriais brincadeiras de mau gosto. Os meus fantasmas amados só costumam me aparecer em sonhos, apaziguando meu sono, espantando os pesadelos. Os meus fantasmas prediletos são doces frutos da minha imaginação e como tal, são alegres fantasminhas camaradas que me tornam o adormecer mais fácil, mais suave, mais tranquilo.
 
Ah, Deus sabe e compreende em sua infinita bondade o quanto eu desejaria que os ectoplasmas de meu pai e de minha mãe se materializassem diante de meus olhos incrédulos e comigo falassem, me dessem conselhos tão sábios quanto os que me deram enquanto estavam vivos. Isso sem falar de minha avó Maroca, que foi uma exímia praticante do jogo do bicho, para me soprar ao pé do ouvido as seis dezenas da mega sena, me transformando num milionário da noite pro dia. Todavia, o que deles eu queria mesmo é que me dessem as suas bênçãos e me falassem palavras que me confortassem a alma angustiada e me garantissem que minha vida vai melhorar daqui pra frente e que coisas boas irão me acontecer quando menos esperar. Ah, por que não me vêm visitar os meus fantasmas amados nas noites em que mais me são precisos? Talvez porque jamais me abandonaram e suas presenças, eles sabem, permanecem para sempre vivas na minha lembrança.


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