sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Crônica - Circunferência ou Círculo? - 27 de Novembro 2014

Circunferência ou Círculo?



Tempo, sempre estou escravizado por ele! Uma grande contagem de várias medidas, diversas deles. Queria ser um índio, onde o tempo se resume ao dia e a noite. A luz e a escuridão! quarta-feira a tarde! Eis-me aqui na solidão de minha oca ( bem queria eu que fosse uma oca!) a casa está vazia ( todos estão em suas lides produtivas a essa hora!) estou mais vazio que meu tugúrio. Jaz sobre minha cabeceira um sem número de livros inúteis, folheio alguns, busco figuras significativas em outros, um livro acerca de espiritismo e mística. Canso co a leitura e tomo resolução de sair de casa, perambular por aí, a esmo, percorrer itinerários aleatórios.  Para onde ir a essa hora da tarde, numa cidade pequena com poucas opções de estada?  Paro a sombra de uma árvore irresoluto da minha próxima paragem, abro a carteira, conto os níqueis , com um grande esforço cognitivo, realizo somas básicas e chego a conclusão que meus numerários são suficientes para uma estada momentânea num dos poucos cafés que circundam a praça central da cidade. O local escolhido é o café Lápis-Lazúli , um misto de café, bar e botica. O comércio não é os dos mais votados da cidade, mas fica num posição bastante favorável, do lado da sombra da tarde (muito embora a essa hora o sol já esteja a meio caminho do ocidente!), ele fica na rota de muitas jovens moças, moças fabris que a uma hora dessas estão de retorno de suas fainas diárias. As passantes que  constituem a leva de proletárias e constituída de mulheres feiíssimas,  ou três apenas, pagam a pena com algo de beleza física.  O lápis- Lazúli fica em frente a loja de secos e molhados, talvez o maior comércio atacadista do subúrbio local! Lá neste comércio, trabalha aquela moça de minhas ilusões e paixões juvenis. É uma jovem de pouca beleza mas de um charme encantador, sedutor. Iludo-me na crença de conseguir meu intento juvenil-pueril, mesmo sabendo que a dama é casada desde a muito tempo. Faz tempo que não a vejo, bem podia eu inventar alguma aquisição na loja de secos e molhados em que ela trabalha só pra ter o prazer de vê-la e deseja-la. Deseja-la somente. Após algum tempo de resistência tomo a iniciativa de ir até lá naquela loja, uma passada por lá não me custará nada, a não ser que eu exteriorize meus sentimentos mais escondidos por aquela moça  A jovem permanece lá, no mesmo local de sempre, indiferente a qualquer coisa, indiferente a qualquer flerte. Na observação à moça,  percebo que a mesma está sem seu principal acessório de identificação conjugal! No dedo anular da mão esquerda a vacância da circunferência Himenêutica .  ( Seria circunferência ou círculo? não sei bem!)  um sinal de esperança para mim ? A possibilidade de uma concretização de um desejo juvenil? Inquiro tais bestialidades, conjecturo outras, enquanto isso, a oca da loja de secos e molhados executa seu trabalho preenchendo o livro contábil com cifras e linguagem técnica contábil. Por que não fiquei no Café Lápis – Lazúli? Não fosse minha vinda para cá não teria ficado na dúvida, dúvida quanto a questões afetivas da moça da loja, dúvidas quanto a diferença entre circunferência e círculo! Dúvidas angustiosas e melancólicas. Ilusões pueris, conceitos geométricos formais e abstratos. O Amos absurdo de uma circunferência ou círculo simbólicos.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Crônica: Quadrantes - 21 de Novembro 2014

Crônica: Quadrantes

Quadrantes
Eis que chega a sexta-feira, as sombras do ocaso me convidam para perambular pelos bares  da cidade. Logo eu que passei a semana no ócio, na difícil missão de carpina do nada a fazer desde segunda-feira, aliás , desde sempre. As luzes da cidade me convidam para perambular no itinerário dos vários bares da urbe, cumprirei minha missão de fiel etílico! Permissões maiores ou limitações não me intimidam nesse momento! Vagabundeio pelo perímetro urbano até onde meus músculos fragilizados de perna e braço me permitem. Subo rua , desço alameda, e invariavelmente estaciono num dos meus favoritos lugares: o Ratisbona, um tradicional bar que é misto de café e bar. A essa hora as mesas do Ratisbona pululam de personalidades de vários tipos, proletários  e burgueses se misturam entra a clientela heterogênea do local de Baco! Onde estaria a essa hora a moça da loja de secos e molhados? Bem provável na companhia de seu cônjuge no tradicional lar suburbano! Um vozerio confuso enche a pequena sala do pequeno bar, as horas avançam, o álcool começam a embotar os cérebros dos locatórios momentâneas das mesas do Ratisbona, enquanto eu ocupo um modesto lugar solitário numa quina do prédio, mesa solitária de muita divagação e solidão! Nesse rodízio de ocupantes dos lugares, eis que surge a moça da loja de secos e molhados, ladeada pelo seu consorte, um homem espadaúdo e igualmente feio! Questiono tal fato e me irrito entre minhas divagações solitárias!!  As horas avançam, os transeuntes do local diminuem, as horas avançam, a lucidez vai indo embora, a embriaguez toma corpo do meu corpo e de minha mente.

Agora estou em casa, na solidão da alta noite, na falta de lucidez da minha insônia, do cérebro embotado de álcool e ilusões. A solidão da casa, só espíritos medrosos circundam meu modesto tugúrio! Onde estaria a uma hora dessas a moça da loja de secos e molhados? Estaria no seu culto a Dionísio com seu consorte? Não sei, melhor não pensar nesse fato! Angústia, solidão, nenhuma alma encarnada para conversar , nenhuma alma viva para exteriorizar minhas angustias, nem mesmo um discípulo para debatermos sobre a importância dos quadrantes  e sua simetria. A insônia me acompanhará até quando? Onde está meu sono? Onde estará a moça da loja de secos e molhados nesse quadrante ilógico? 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Crônica- Duas Horas da Tarde no Brasil - 23 de Outubro 2014

                               Duas Horas da Tarde no Brasil
No calor de uma tarde qualquer de Setembro, quando o sol cumpre seu itinerário no horizonte escampo de nuvens, sigo meu caminho em direção a minha faina diária. Ao longo das ruas inóspitas, de quase nenhum transeunte atrevido a expôs  a sua pele ao sol em brasas. A essa hora, não fora a obrigação do trabalho, dificilmente eu me arriscaria sob os rios solares de uma região equatorial onde a incidência do calor do sol é mais intensa. Desvio meu itinerário em direção a casa de minha Matrona, pois é sabido por mim que a essa hora o bule  do café já está no fogo naquele tugúrio suburbano. A minha matrona nem oferece o arábica, vem com uma chávena fumegante, uma dose cavalar desse líquido precioso. Entre uma solvida e outra no café, recebo conselhos prudentemente maternos, escuto o discorrer de sua oratória materna, estou monossilábico agora, quase silente, a receber palavras carinhosas e censuras. Após essa breve pausa, retomo minha trajetória natural de ainda a pouco, só que agora cada vez mais procurando os filetes de sombra tão escassos a essa hora. Nesse caminho cruzo aquele pequeno comércio que se encontra com suas portas cerradas, pois nenhum desavisado cliente está disposto a comprar qualquer coisa dispensável ou não, nessa inútil tarde de calor. Mais a frente, minha retinas são maltratas pela claridade intensa do reflexo da luz solar no muro branco do cemitério, a claridade do muro do campo santo faz meus olhos se contraírem para diminuir  o excesso de luz na retina, mais a frente um burro cansado pasta os poucos cabelos de mato seco que insistem em brotar naquele chão seco. Sigo a rota, mais adiante passo em frente e passo por uma casa de um solitário homem, o cenário é o seguinte: ele cochila à sombra de uma frondosa Mungubeira no pátio da casa, enquanto ali no interior da residência um aparelho de televisão transmite um noticiário com cenas de tragédias urbanas, mesmo assim o solitário homem dorme o sono dos justos.
Seguindo a légua tirana das cenas urbanas, atravesso o largo da Matriz, onde um retardatário fiel faz o sinal da cruz quando se encontra defronte a porta principal da sinagoga. Seu sinal é feito de modo apressado e mecânico. Do outro lado da praça, um sem número de proletário de uma fábrica de tecelagem, estão reunidos após uma pausa imprevista de seus afazeres,  interrupção do fornecimento de eletricidade impossibilitou o prosseguimento do funcionamento das máquinas.
Duas horas da tarde no Brasil, a hora exata em que eu entro em ação. Nesse exato momento os portões da fábrica em que eu trabalho traga uma grande quantidade de trabalhadores que em grosso número palram quase ao mesmo tempo tornando o local uma verdadeira Babel onde ninguém se entende. Duas horas da tarde, preciso entrar em ação, pensar menos, refletir ainda menos sobre a Sociologia daqueles que cruzaram meu itinerário neste começo de tarde.


domingo, 19 de outubro de 2014

Crônica - Um Espírito Além do Meu - 19 de Outubro 2014

Um Espírito além do Meu

Desde o dia em que arrumei uma colocação como redator de uma crônica semanal no jornal sofro um desgaste angustiante para executar minha  e cumprir a periodicidade contratual . Os editores chefes são impiedosos  cobradores, menos pela qualidade, mais pela quantidade e pontualidade. Parece que nesta semana minha máscara cai! Sim explico,  é por que a grande maioria, ou quase todas as minhas crônicas não eram escritas por mim, mas por um tio meu , habilidoso com as letras de Camões e que me entregava de bandeja seus textos e eu sem remorso nenhum assinava como minhas! . Esse meu parente é um ser bastante esquisito. Solteirão convicto, celibatário, ermitão e beberrão, um inveterado! A sua habilidade de escrever vem de longas datas, sempre gostou de Literatura e de escrever, construiu ao longo dos anos uma vasta biblioteca dos maiores escritores universais. Diferente de mim que só possuo duas ou três enciclopédias e outros almanaques!  Mesmo sendo ele uma personalidade difícil de se lidar, eu conseguia arrancar dele meu “material autoral”. Ela fazia um pouco de cena, mas no final cedia em favor do sobrinho! Essa era uma forma de satisfazer seu ego mesmo não recebendo ele os créditos elogiosos( se bem que eles eram tão escassos!). Só que para minha infelicidade, esta semana, o meu guru decidiu fazer uma viagem de cunho religioso para a cidade de  Bobaim, duraria esta jornada uma semana, exatamente o período de entrega dos meus escritos ao jornal, fiquei num mato sem cachorro.
Agora fico na obrigação de escrever de próprio punho sem a ajuda do guru. Saio de casa em busca de um pouco de inspiração, passeio pelas alamedas da cidade observando os transeuntes na intenção de pinçar algo! Nada me anima. Nada me inspira!  Na viela dos Tabajaras encontro um velho amigo que não via a tempo, É o Gilson Borges, um literato descendente de portugueses e contraparente de Camões, segundo informações dele. Gilson estava voltando de uma turnê por terra de Além Mar, passara dois anos na terrinha de seus ascendentes! Falara de Portugal, de como seu país estava diferente, falou também que nesse período esteve a escrever um romance que pretendia publicar em três meses, aqui no Brasil! Conversávamos sobre literatura,  basicamente. Falávamos sobre  os clássicos escritores europeus:Dostoiéviski, Maiakovski, Proust, Anatole France, Emilly Zola, falou de Victor Hugo e Julio Verne, Com bastante propriedade ele citava cada característica desses autores, e eu só citava fatos enciclopédicos sobre eles, fatos desnecessários como o local e data de seus nascimentos. Após esse embate que demorou três quarto de hora, nos despedimos e tomos nossos rumos.
As horas avançaram e o prazo de entrega da minha crônica ao jornal está quase no fim, preciso escrever qualquer coisa , qualquer incoerência, algo até ininteligível ! Sento na frente da máquina de escrever, a folha em branco, a falta de ideias, não sai nada, meu quengo está oco. o relógio continua avançando as horas constantemente. Num maquinismo começo a dedilhar as teclas do QWERT , saem só incongruências, banalidades, períodos sem nexos, inversões de orações subordinas, uma sintaxe vagabunda. Mas de repente, como num passe de mágica tudo mudou para o meu lado, as ideias se acertaram, o texto começou a fluir, meus dedos percorriam  rapidamente todas as letras numa rapidez sincronizada, não sei bem explicar de onde vinha essa inspiração, confesso que parecia que não era eu ali,  a construir tais períodos. Parecia que haviam um espírito além do meu, ditando aquelas palavras do além como uma psicografia sobrenatural enchendo folhas e folhas de bom texto,

Missão cumprida no exato momento que o Graham Bell toca estridentemente na sala de visitas, do outro lado da linha o editor chefe do matutino cobrando a minha dívida textual para com ele. Afirmo que em questão de minutos ela estará no seu correio eletrônico. Tirei um peso enorme que estava sobre minhas costas. Alívio, abro uma garrafa de vinho  em louvar a Baco! 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Crônica - Porta retrato, café amargo e Aritmética - 14 de Outubro 2014

Porta retrato, café amargo e Aritmética

Fim de tarde, a luz natural do astro-rei já começa a dá sinais de morte, a claridade não é mais aquela de ainda a pouco, a escuridão agora vence a batalha contra os parcos reflexos da luz estelar. As horas são tristes,  horas de ocaso são tristes, penso em mortes, morte dos outros , morte minha. Depois de uma tarde inteira na solidão de minhas divagações, tomo a inevitável decisão de abandonar minha condição e eremita e resolvo vagabundear pela urbe. Nada de novo no cenário do meu arrabalde, as mesmas cenas cotidianas que se repetem rotineiramente. Um vendedor de algodões-doce religiosamente executa seu pregão  auxiliado por uma buzina ensurdecedora. Homens espadaúdos retornam de suas fainas em um comboio de bicicletas. O vendedor de bilhetes de loterias ainda tenta vender as últimas cartelas do dia, os últimos sonhos do dia no jogo da roleta dos bichos! E assim seguem as cenas urbanas da periferia local nesse momento de  quase noite.
Enquanto estou na esquina da igreja Matriz conversando com amigos, recebo um chamamento  daquela velha amiga de nossa família,uma pessoa que a muito não via.Mesmo distante dá pra entender que sua convocatória não tomará muito tempo meu. A senhora em questão solicita que eu lhe tire umas dúvidas a respeito de umas contas que ela tem com uns mascates, ela não é muito habilidosa em aritmética ( eu também não muito, mas um pouco mais afeito a números do que ela!)  e teme que os mascates queiram passá-la pra trás na prestação de contas! Ela puxa duas cadeiras e me convida pra sentar, começo a rabiscar algumas cifras após a explanação contábil da senhora. Os rabiscos são feitos numa caderneta modesta e de folhas amareladas pelo tempo!  Entre um balancete e outro, a senhora oferece café que prontamente aceito por mim. É um café forte e amargo, que para mim é de bom grado! Entre uma pausa e outra da contabilidade, por acaso miro um porta retratos onde está exposto a fotografia  da filha da senhora das contas, várias lembranças vieram ao pensamento. Lembranças boas, lembranças frustradas, desilusões. Aquele retrato foi suficiente para requentar memórias boas e ruins, por um instante me desconcertei diante aquela imagem e fiz um esforço tremendo para não exteriorizar nenhum sinal de abalo ante a mãe da moça.
A contabilidade já estava quase no fim, ainda bem, pois se não fosse assim minha condição de aritmético-contabilista teria sofrido um abalo suficiente para fechar o balancete. Um simples porta retratos causou toda esse desordenamento emocional.

Volto ao lar, tão eremitério  quanto eu o deixei a duas horas atrás. Estou de novo só, divagado, agora muito mais angustiado pelo café amargo, a aritmética e o moça do porta retratos. Principalmente pela foto dele!

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Crônica - É Outubro - 2 de Outubro 2014

Chegou outubro, talvez um mês como qualquer outro para maioria dos que se utilizam do calendário cristão, mas para mim não! No primeiro dia do mês, uma atípica garoa no início da tarde muda a paisagem seca dos últimos dias. Antes do término da primeira hora da tarde a rápida chuva surpreende os transeuntes que a essas horas, costumeiramente  cruzam o chão da praça do centro comercial da cidade! Estou eu nas cercanias da praça como um carapina do nada a fazer, observando os passantes que vagabundeiam pelo comércio local. Mas a frente á esquerda descendo a ladeira fica o bar do Ratisbona, um misto de bar e lupanar, ali fica a tradicional zona do meretrício local, os clientes a essa hora são poucos. Nesse observar inútil da paisagem urbanística, mudo a vista em direção diametralmente oposta ao bar do Rabisbona e vejo a loja de eletro-eletrônicos, lembro que necessito de alguma peça inútil para o meu computador de mesa, negligencio o preço da peça ofertado pelo vendedor e após essa contenda comercial consigo junto a ele minorar em alguns centavos o preço da peça em questão.
As horas passam, ocupo solitariamente um banco da praça, fumo desbragadamente um cigarro após o outro mesmo estando minha garganta em petição de miséria, atitude bastante irresponsável para quem vai precisar da voz no dia seguinte como um instrumento de trabalho. O amontoado de guimbas ao redor do banco de minha estadia denuncia o quanto da minha inútil atitude tabagista. Uma nuvem de pombos voa de modo desordenado no perímetro da praça, um sem número de aves alvinegras fazem a festa sem se oportunar com os personagens que vão e vem por ali. As aves sobrevoam o local num arrulhar monótono e sem nexo.
Veio em mim a ideia de ir naquela loja de secos e molhados só para olhar a vendedora com seu charme de mulher que incita minha libido com seu charme. Infelizmente a jovem mulher já foi abençoada pelo Himeneu, um acessório de bijuteria barata em forma de círculo no dedo anular da mão esquerda, denuncia tal fato e a monogamia ocidental não permite maiores avanços e pretensões do meu intento quase hormonal, quase bestial .

As horas avançam, o sol já vai a meio caminho, tenho agenda marcada para logo mais as dezessete horas no solar de meus pais, é o tradicional chá das cinco que religiosamente as quartas-feiras de todas as semanas se realiza. Tenho que ir, o dever me espera no meu lar, além do chá, espera por mim, um livro para prazerosa leitura, ainda nas páginas iniciais, é bem verdade. Minha mãe me espera, ela espera que eu permaneça celibatário não sei até quando,espera que permaneça eternamente tutelado por seus afetos, enquanto isso penso na moça da loja de secos e molhados, penso na condição monogâmica e racional de nossa cultura, questiono tal fato e consigo me irritar com todos esses fatos injustos.  

domingo, 21 de setembro de 2014

Crônica - Sábado à Noite – Não é verossimilhança não, é realidade mesmo! - 21 de Setembro 2014

Sábado à Noite – Não é verossimilhança não, é realidade mesmo!
É noite de sábado, ainda é cedo, talvez nem sejam nove da noite. Volto para casa bastante ébrio, resultado de severas batalhas etílicas desde as primeiras horas da tarde. O culto ao deus Baco foi feito despudoradamente intenso por mim hoje! Nunca mais tinha sido tão fiel a Baco quanto hoje. Estou em casa, não há nenhum espírito encarnado para me fazer companhia, só espíritos desencarnados que se escondem nas sombras medrosas desta noite da casa solitária. Todos saíram noite adentro deste sábado místico. Mesmo sobre efeito de tanto álcool, não consigo conciliar o sono. O que fazer? Ler um livro? Missão quase impossível dada a lassidão do pensar em algo mais elaborado, de fazer conexões cognitivas mais fortes. Teimosamente tento escrever qualquer coisa no computador de mesa, impossível, todas as letras do teclado parecem está dançando uma dança ilógica! Diante do computador só me resta as informações rápidas da internet  que só servem para embaralhar a minha cabeça confusa. Recorro as bestiais redes sociais que quase não acrescentam nada, mas é o bastante para um ébrio como eu quase inconsciente de qualquer coisa. Nas curvas de tais redes sociais, cruzo uma esquina e encontro uma ex paixão de longa datas, trocamos duas ou mais palavras que não em recordo bem, só sei que ela sinalizou uma possibilidade de retomarmos a paixão antiga! Penso em mulheres que eu tive, penso em amores platônicos. Onde estaria Suely a essa horas? Pâmela? Luiza? Bernadete? Angelina? -  De fato não estou lúcido, o cérebro embotado em álcool não permite-me certas racionalidades.
Tonto de está diante da máquina por algum tempo, resolvo sair até a varanda para olhar a rua. Pego o meu último cigarro do maço, entro em desespero por saber ser ele o último do pacote e não ter como repor esse estoque inútil de cigarros! Estou agora deitado na rede a me balançar, o ranger estridente dos armadores aguçam minha insônia! Paro o balanço, a ouço lá fora uma calorosa discussão entre um homem e uma mulher, talvez sejam namorados com alguns ajustes amorosos por fazer. Silêncio, uns três minutos talvez, esse silêncio só é interrompido pelo soluço da jovem moça, que entre lágrimas e a fala cortada,  consegue falar apenas “eu te amo”.
Na solidão da insônia  na minha rede, só tenho a companhia um velho rádio de pilhas ( objeto bastante demodê para os dias de tecnologia de hoje!) Ouço o rádio AM que quase não toca canções, uma discussão bestial entre dois contendores radiofônicos faz com que a chave seja desligada. Paro, reflito sobre todos os fatos recentes dessa noite. Poderia o relato de tais fatos interessar a alguém? Virar literatura? – Tudo isso não foi verossimilhança não! Foi real mesmo, talvez se eu tivesse destreza de um literato poderia até fazer um conto, uma crônica disso tudo, quem sabe?!

domingo, 14 de setembro de 2014

Crônica - A Ermitoa - 17 de Setembro 2014

    A Ermitoa

Morava sozinha, os parentes mais próximos já haviam todos cumprido a sina mais certa que é a morte. Essa mulher já com uma idade na qual ninguém sabia ao certo, nem mesmo ela, mais sabiam todos que ela era uma amanuense aposentada, fato que denunciava o avanço de sua idade. Mantinha uma amizade amistosamente distante com seus vizinhos e na sua casa quase nunca ou nunca mesmo recebia nenhum conviva. Os mais próximos, ou os menos distantes, sabiam que em seu lar, as principais companhias eram um sem número de gatos que vagabundeavam na pequena choupana. Dizem as más línguas que a quantidade de felinos diminuíra significativamente nos últimos anos, por pura falta de zelo de sua dona! Os anos de serviço na repartição pública não permitiu que ela construísse grande patrimônio, não fora a pequena casa herdada de seus pais, não teria outro bem semovente ou não. Sua rotina era extremamente simples, mais ainda para uma pessoa que morava só, tinha um fogão em casa mas não usava quase nunca, suas refeições eram feitas num pequeno restaurante suburbano que religiosamente era freqüentado por ela de domingo a domingo, chovesse ou fizesse sol. Os afazeres domésticos eram evitados por ela, realizando tarefas básicas como lavar as poucas roupas de seu enxoval uma vez por semana! Dormia poucas horas a noite,passava muitas horas da noite diante da televisão, complementava as necessidades do sono da noite, nas primeiras horas da tarde de todos os dias! Fazia parte de sua bestial rotina, as caminhadas aleatórias pelas principais ruas do bairro, caminhava descompromissadamente  por muito tempo sem maiores preocupação com o tempo! Nesse itinerário quase não interagia com os transeuntes que cruzavam seu caminho, só acenava discretamente para aqueles que julgava mais próximos e confiáveis. De uns tempos para cá a solitária adquiriu o hábito de fazer uso do álcool para preencher as horas do vazio no que fazer! Cumpria suas obrigações etílicas discretamente na solidão do lar, não queria que seus vizinhos dessem alguma notícia desse seu condenável ato. Nos finais de semana era um “rato de sacristia” não perdendo um evento sequer de sua Igreja Católica quase vizinha a sua residência. Nesses dias de cerimônias religiosa, mantinha uma certa cautela nas ações etílicas, precavida de dá bandeira diante os fiéis que a tinha na conta dos mais respeitáveis crentes.
E assim se fazia a rotina da solitária mulher, sem parentes ou aderentes, sem muitos afazeres domésticos e tendo como companhia uns gatos rabugentos, o álcool e a fé. Sem exteriorizar suas angústias existenciais de uma vida extremamente solitária e sem maiores ambições!

                                                                                                                                         

domingo, 31 de agosto de 2014

Crônica - Um dia qualquer - 31 de Agosto 2014

O dia começou como tantos outros de minha existência, não acordei cedo como sempre, a insônia da noite anterior não permitiu que eu caísse nos braços de Morfeu antes das duas e meia da matina! Acordando tarde, é natural que todos os ocupantes de meu lar tomassem rumos em seus itinerários das fainas obrigatória para um dia da semana! Só eu aqui na solidão da minha fortaleza, na ociosidade improdutiva de todos os dias, estou ilhado por quatro paredes da casa. Como eu disse, todos saíram para seus trabalhos diários, só não eu, como sempre moldando o nadar a fazer. Não fora minha condição de desajeitado para afazeres domésticos poderia por alguma ação que organizasse o ambiente familiar. No meu escritório, que é meu quarto,  o cenário permanece o mesmo de a vários dias, a cama cheia de livros, uma rede armada num recanto da parede, um cinzeiro cheio de guimbas empestando o ar do ambiente de um sarro nauseante. Sem nada a fazer me direcionado a minha janela e dali começo a fotografar mentalmente as paisagens momentâneas de minha rua, são nove horas da manhã, a rua está tão vazia quanto minha casa. Só alguns cachorros de rua que vagabundeiam aqui e acolá! Sacos de lixos de amontoam nas calçadas vizinhas, logo mais a coleta pública de lixo passará recolhendo todos inservíveis! O sol brilha intensamente, pior ainda no muro branco do cemitério ao longe, minhas retinas não gostam nada desse desgastes. O céu escampo de nuvens denunciam a ausência de chuvas. Um azul anil cobre todo céu até onde meu campo de visão periférica alcança! Do nada surge um moinho de vento levantando uma poeira que percorre toda rua desordenadamente! Natural esses moinhos de ventos para essa época. Volto para a prisão do lar, adentro meu escritório, folheio algum livro sem ler uma linha, penas folheio, apenas procuro algum símbolo significativo.

As horas passam, os ponteiros do relógio se entrecruzam, o ócio me deixa uma pessoa indiferente a tudo, nem a necessidade fisiológica de matar a fome me abala! Sono, o sono das horas erradas e descontroladas! Durmo, acordo rápido, dormir quanto tempo? Não sei! Estou sem relógio! O cuco bate uma vez apenas, penso ser doze e meia, mas como dormi talvez seja uma hora pelos meus cálculos. Ou seria uma meia hora de outra hora qualquer? Não fosse essa constância do relógio badalar a cada meia hora não estaria confuso! Lassidão, sono, uma inércia preguiçosa impede que eu me levante dessa situação de meio sono, meio sonho? Estarei dormindo? Estarei sonhando? Preciso sair dessa situação. Preciso andar nas ruas, conversar com alguém, discutir com alguém, discordar só pirraça de alguém. Hoje é um dia qualquer como outro, eu continuo amargo como qualquer outro dia. Apenas isso! 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Crônica - Na Bacia Das Almas - 21 de Agosto 2014

Completam quatro dias a minha estada no leito desse hospital suburbano, um mal súbito tomou conta de mim, minha combalida saúde ficou mais avariada após isso. Uma bateria de exames revelou um sem número de males do corpo e até da alma. Essa consulta aos servos de Hipócrates trouxe à luz de meus conhecimento que os vasos sanguíneos de  meu cérebro estavam em petição de miséria, as coronárias já desgastadas de tanto amor e ódio não resistiria muito o embate pela vida, avaliação médica detectou que meu velho coração estava crescido ( seria crescido ou diminuído? Não sei bem!) Também pudera, uma vida de excessos só podia chegar a este ponto com essas mazelas! Excessos de sinceridades, de lealdades, de companheirismo e de amor a mulheres várias! Excessos etílicos, tabagistas , de ócios e sedentarismos.  
 Na hospedagem neste hospital  nesses poucos dias,  houve uma grande rotatividade de pacientes como eu, moribundos. Uns voltavam a vida, alguns eram empacotados pelo homem da funerária. Um garoto que gritava e parecia sentir uma dor medonha, um outro homem que tentava balbuciar algumas palavras ininteligíveis não suportou nem doze horas! Outro paciente que falava com um sotaque diferente forai encontrar-se com morte certa na madrugada daquele dia! Pobre infeliz foi sepultado como indigente, depois descobri que ele era um imigrante boliviano que tinha situação irregular junto ao consulado!  Um ancião conseguiu vencer sua batalha contra a morte e recebeu alta nesta manhã! E eu aqui na incerteza do meu estado, até quando entre a vida e a morte!

É madrugada, o quarto está escuro e a incerteza de que horas são exatamente me deixa mais angustiado, uma angústia mais sufocante que essa secura da boca, saber as horas nesse momento me consola mais que um copo de água na boca seca! Durmo não sei quanto tempo, quando acordo ainda está tudo escuro, quero ter a certeza que horas ao exatamente. Bobagem minha essa da subserviência das horas! Deveria está mais preocupado com meu estado! De repente o silêncio se acentua a falta de luz se acentua!A incerteza da vida! Estarei morto ou vivo? Será que me enterraram vivo? Ou é meu espírito que não quer separar de meu corpo na sepultura? Estarei na bacia das almas ou já serei mais uma delas?