quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Crônica - O Carpinteiro do Nada a Fazer - 14 de Agosto 2014

O carpinteiro do nada a fazer

Tarde de quarta-feira, tarde de ócio, nesse instante da semana cumpro minha obrigação do nada a fazer, sou um carapina do nada como diria o mestre da literatura brasileira Autran Dourado. Monto meu “escritório” à sombra de um salgueiro de frente minha casa, de mobília franciscana, o local do trabalho constitui-se de uma mesa de plástico e mais três cadeiras e uns tamboretes! Uma sala de visita para receber alguém para uma troca de idéias. É o começo de uma tarde abafada de novembro, perto de uma hora as crianças caminham para a escola ladeados por suas mães, alguns pares mais retardatários , apressam o passo para não perder a hora. Duas horas, o carro que recolhe o lixo passa, três ou quatro homens espadaúdos tentam acompanhar o ritmo do semovente , os homens fazem uma limpa geral da rua, uma dona de casa distraída ainda corre para levar ainda alguns sacos  que restaram no jardim. Em cima da carroceria do caminhão, em meio a toda bagunça dos inservíveis e indiferente ao mau cheiro, um homem vai organizando o lixo recolhido. Agora o carro já foi, e quem ao longo da rua é um vendedor de bilhetes de loterias vendendo sonhos e ilusões, ele então chega ao meu escritório e oferece sua mercadoria aos meus préstimos, após muita insistência e palavrório do loterista faço uma fezinha no jogo dos Bichos!  Após a saída do bilheteiro, divago agora na solidão do escritório a respeito de tudo e a respeito de nada. Um sem número de maracanãs passam  nos ares fazendo um barulho estridente, o desacerto de uma cópula, talvez, tenha sido o motivo de toda contenda.  As três horas da tarde minha consorte me contempla com uma chávena de café fumegante, café amargo e que incita minha condição de tabagista, fumo desbragadamente após o Mooca, sem nenhum pudor enfileiro uma cigarrilha após outra na solidão do escritório. Chega aqui para dá seu expediente, aquele turista de bermuda estampada, fala de lugares distantes, fala da Suíça, um lugar absurdamente frio e sem emoção!
 A tarde avança, o sol já vai a meio caminho do horizonte, daqui a pouco as sombras serão maiores que a claridade do astro rei. As crianças agora voltam da escola, com suas fadas rotas, conseqüências das reinações da hora do recreio.

Sopra uma brisa suave, o sol já se escondeu por trás daquela serra que eu já fui muitas vezes, julgo eu! Estou pronto  para encerrar meu  “expediente” quando sou surpreendido pelo vendedor de bilhetes de loteria anunciando que eu havia ganho. Deu Touro na oitenta e dois, dizia ele com olhos esbugalhados! O dinheiro do prêmio era suficiente para garantir mais expediente de ócio, ou pelo menos uma tarde! Carpinas do nada também tem sorte no jogo!

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