Desejo um Feliz Ano-Novo onde, se Deus quiser, todas as crianças, ao ligarem a televisão, recebam um banho de Mozart, Pixinguinha e Noel Rosa; e durmam após fazer suas orações.
Quero um Ano-Novo em que, no campo, todos tenham seu pedaço de terra. Na cidade, um teto sob o qual haja um fogão com panelas cheias.
Desejo um Ano-Novo em que a cada um sejam assegurados o direito ao trabalho, a honra do salário digno e as condições humanas de vida.
Rogo por um Ano-Novo em que a polícia seja conhecida pelas vidas que protege e não pelos assassinatos que comete; os presos reeducados para a vida social.
Um Ano-Novo sem políticos mentirosos, autoridades arrogantes, funcionários corruptos, bajuladores de toda espécie. Seja a política a multiplicação dos pães sem milagres, dever de uns e direito de todos.
Desejo um Ano-Novo em que o governo evite que o nosso povo seja afetado pela crise do capitalismo, livre a população do pesado tributo da degradação social e tome no colo milhões de crianças condenadas ao trabalho, sem outra fantasia senão o medo da morte.
Espero um Ano-Novo cujo principal evento seja a inauguração do Salão da Pessoa, onde se apresentem alternativas para que nunca mais nenhum ser humano sequer se sinta ameaçado pela miséria ou privado de pão, paz e prazer.
Um Ano-Novo em que a competitividade ceda lugar à solidariedade; a acumulação, à partilha; a agressão, ao respeito; a idolatria por dinheiro, ao espírito das Bem-Aventuranças.
Um ano tão novo que traga a impressão de que tudo renasce: o dia, a exuberância do mar, a esperança e nossa capacidade de amar. Exceto o que no passado nos fez menos belos e bons.
Frei Betto é escritor, autor de ‘Mística e Espiritualidade’, em parceria com Leonardo Boff
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