Crônica – Só um homem só – 3 de Junho 2017
Vivendo na pequena casa do centro comercial da cidade, vivia
aquele homem, um ermitão inveterado que não recebia nem mesmo visitas de
parentes ou aderentes. A casa foi herdada de seu pai, um ex funcionário da
fazenda pública que não realizava
maiores extravagâncias monetárias, fato que contribuiu para que ele deixasse um
pecúlio no qual o eremita gastava modicamente na sua sobrevivência bestial de
um homem sem maiores gastos tal qual seu genitor. A casa que o solitário homem
habitava tinha uma parca e antiquada mobília constituída por uma grande mesa de
cedro, um guarda roupa de alvenaria e uns três ou quatro móveis inservíveis que
ficavam plantadas nos mesmos locais da casa. Ainda fazia parte do aparato da
casa uma biblioteca de livros velhos de folhas amareladas, alguns livros de
economia que fora de seu pai e outros clássicos da literatura
brasileira/cearense. Estes livros já haviam sidos lidos pelo solitário homem,
que na sua inatividade de qualquer serviço que não fosse os domésticos,
obrigavam aquele homem a viajar em leituras de muitas horas.
O solitário não tinha maiores ocupações remuneratórias,a
exceção eram uns contos feitos para o jornal da cidade que ele escrevia quinzenalmente,
com a venda destes textos ele garantia numerários suficientes para a cerveja
dos dias incertos e das infindas horas de ócio. O hermeticamente fechado
personagem daquela saga, cumpria seus inúteis numa rotina bestial, repetitiva e
monótona. Costumeiramente ele perambulava pela pequena urbe nas primeiras horas
da tarde, entre o meio dia e às duas horas. Seus passos percorriam os mesmos
itinerários de sempre, a barbearia Chaves é regularmente frequentada por nosso herói
num intervalo de vinte e oito dias para que ele cumprisse os compromissos
capilares de sua parca cabeleira. Outro ponto certo da estada de nosso anti gregário
suburbano era a praça da Igreja matriz onde ele costumava alimentar um sem
número de pombos. Ele comprava a ceia dos columbinos na mesma loja de secos e
molhados, um prédio atarracado que
ficava no lado oeste da praça da matriz.
Finda a missão, o personagem sequenciava seu
itinerário em direção ao bar Ratisbona, um misto de café e bar onde toda
sociedade local frequentava diuturnamente. Sentava-se na mesma mesa de sempre e
fazia os mesmos pedidos, de entrada um café sem açúcar e logo após uma dose de
licor de jenipapo. Sua estada ali findava após uma última dose de gim no qual
ele bebia de um gole só todo conteúdo do copo. Sem demora segue o caminho de
volta para casa onde de novo volta a conviver com a solidão e as angustias
existenciais de um homem só e solitário e que precisa agora entregar ao jornal
o texto para ser publicado na edição de amanhã.
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