sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Crônica : Solidão de uma Manhã Qualquer - 23 de Janeiro 2015

Calmo, silente no meu lugar, estou solitário em casa refletindo a respeito da vida. Compartilho, automaticamente, esse pequeno lugar tão meu e tão solitário com meus anjos e demônios do dia-a-dia. Começo a fazer questionamentos vários. Algumas inquirições a mim mesmo. Seria possível colher num mesmo local, todas as cenas que ocorrem mundo afora nesse momento? Teria sentido ver todas as cena s e atos de todos tantos lugares dessa bolota chamada Terra?  Como em um filme cujas cenas exporiam  todos os fatos acontecidos no entorno desta esfera habitável por nós e por outros .  Há uma lauta variedade de fusos horários, locais, paisagens, lugares. Tudo diferente, assim como culturas, fatos e ações, pessoas várias. Provavelmente em algum lugar do mundo, a essa hora, alguém dorme um sono profundo, um sono bom e tranqüilo. Enquanto em outro lugar, uma alma insone tenta conciliar o sono numa tarefa hercúlea da madrugada alta. No lar de algum país desse vasto mundo  ocorre um farto banquete,  mas em outro  lugar qualquer desse mesmo país,  um sem número de famélicos esperam as sobras de um restaurante suburbano, às três da tarde. Enquanto um atleta percorre uma ultra maratona esbanjando saúde, em algum leito de hospital uma jovem agoniza esperando a hora fatal com o corpo carcomido por muitas mazelas. Há ainda a essa exata hora um funcionário bastante atarefado trancado numa sala burocrática em meio a arquivos, papeis e carimbos, enquanto que no mesmo instante,  não muito distante daí, um homem simples realiza a prazerosa tarefa de pescar num lago de águas tranquilas e serenas, completamente desprendido de preocupações maiores. Também a essa hora, numa estação de pesquisa científica na Patagônia, alguém trabalha bastante agasalhado para enfrentar a baixíssima temperatura. Contraditoriamente, em outro lugar, trabalhadores da construção civil buscam um filete de sombra para se protegerem do intenso calor emanado dos raios solares. Ainda a essa hora um bebê nasce em uma maternidade qualquer da Nigéria, enquanto na Suécia , uma esquife cruza os portões de um cemitério suburbano  no ato final de um sepultamento. No momento igual, há um conflito armado no Camboja, enquanto ocorre um casamento coletivo no Canadá. No mesmo instante, empresas decretam bancarrota  enquanto simultaneamente  uma mulher confere um bilhete de loteria premiado com uma grande monta. .  

Tudo ocorre ao mesmo tempo, fenômenos sociais  opostos ocorrem em várias partes do mundo. Simultaneamente a essa hora há dores e prazeres, lágrimas e sorrisos, ódio e amor, altruísmo e egoísmo . Fadiga e ócio, lassidão e disposição corporal. Onipresença, queria ter essa capacidade, talvez até tivesse mais inspiração para terminar  um livro que venho trabalhando a anos! Enquanto penso nesses fatos,  me vejo preso solitariamente ao vazio do meu  tugúrio numa manhã qualquer da semana, o relógio marca dez horas. Há livros na minha estante,  não li nem a metade deles. Em cada cômodo da casa solitária há um cinzeiro cheio de guimbas fétidas, há uma angústia poética em cada cinzeiro. Há em mim uma vontade da onipresença, o desejo de um poder fantástico e absurdo do ponto de vista científico. Na realidade, existe esse desejo em mim, porém  o ócio me limita até minha ida a esquina numa busca desnecessária de cigarros. É muito despautério de minha parte ter tal pretensão. 

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