Chegou outubro, talvez um mês como qualquer outro para
maioria dos que se utilizam do calendário cristão, mas para mim não! No
primeiro dia do mês, uma atípica garoa no início da tarde muda a paisagem seca
dos últimos dias. Antes do término da primeira hora da tarde a rápida chuva
surpreende os transeuntes que a essas horas, costumeiramente cruzam o chão da praça do centro comercial da
cidade! Estou eu nas cercanias da praça como um carapina do nada a fazer,
observando os passantes que vagabundeiam pelo comércio local. Mas a frente á
esquerda descendo a ladeira fica o bar do Ratisbona, um misto de bar e lupanar,
ali fica a tradicional zona do meretrício local, os clientes a essa hora são
poucos. Nesse observar inútil da paisagem urbanística, mudo a vista em direção
diametralmente oposta ao bar do Rabisbona e vejo a loja de eletro-eletrônicos, lembro
que necessito de alguma peça inútil para o meu computador de mesa, negligencio
o preço da peça ofertado pelo vendedor e após essa contenda comercial consigo
junto a ele minorar em alguns centavos o preço da peça em questão.
As horas passam, ocupo solitariamente um banco da praça,
fumo desbragadamente um cigarro após o outro mesmo estando minha garganta em
petição de miséria, atitude bastante irresponsável para quem vai precisar da
voz no dia seguinte como um instrumento de trabalho. O amontoado de guimbas ao redor do banco de minha estadia
denuncia o quanto da minha inútil atitude tabagista. Uma nuvem de pombos voa de
modo desordenado no perímetro da praça, um sem número de aves alvinegras fazem a
festa sem se oportunar com os personagens que vão e vem por ali. As aves sobrevoam o local num arrulhar monótono e sem nexo.
Veio em mim a ideia de ir naquela loja de secos e molhados
só para olhar a vendedora com seu charme de mulher que incita minha libido com
seu charme. Infelizmente a jovem mulher já foi abençoada pelo Himeneu, um acessório
de bijuteria barata em forma de círculo no dedo anular da mão esquerda, denuncia tal fato e a
monogamia ocidental não permite maiores avanços e pretensões do meu intento quase hormonal, quase bestial .
As horas avançam, o sol já vai a meio caminho, tenho agenda
marcada para logo mais as dezessete horas no solar de meus pais, é o
tradicional chá das cinco que religiosamente as quartas-feiras de todas as
semanas se realiza. Tenho que ir, o dever me espera no meu lar, além do chá, espera por mim, um livro para prazerosa leitura, ainda nas páginas iniciais, é bem verdade. Minha mãe me espera, ela
espera que eu permaneça celibatário não sei até quando,espera que permaneça eternamente tutelado por seus afetos, enquanto isso penso na
moça da loja de secos e molhados, penso na condição monogâmica e racional de
nossa cultura, questiono tal fato e consigo me irritar com todos esses fatos
injustos.
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