A morte quase
sempre nos pega sem esperar e eis que de repente chega a notícia de falecimento
de um ou outro conhecido, amigo, parente ou vizinho. Ontem eu fui acompanhar um
funeral de um morador cujo tugúrio se avizinha ao meu, senti-me na obrigação de cumprir esse ato de piedade cristã, inevitável
não acompanhar o cortejo fúnebre até o campo santo.Tudo é estranho nessa nossa
vida, pois até ontem o defunto ( que a essa hora ainda não era um) fazia planos
e mais planos para o futuro. Falava em projeções, projetava empreendimentos, viagens,
outros planos a longo prazo.
Eis que o
cortejo segue, o sepultamento foi no
meio da tarde, tarde de sol dentre tantas tardes de sol ocorridas na existência
daquele homem agora morto.A procissão dos que acompanhavam o caminho do cemitério, era feita em meio a ladainhas e jaculatórias. No cortejo quase todas as
pessoas trajavam roupas pretas, apesar do calor daquela hora da tarde, homens
sisudos e mulheres lacrimosas. O conglomerado caminhava unido, em cada
pensamento dos ali presentes, pairavam dúvidas e incertezas quanto a
instituição da morte. Todos ali, por um momento, pensavam em suas mortes. A
marcha continua, o ataúde vai a frente liderando os passos de todos rumo ao campo santo.
Finda a
cerimônia resolvi percorrer as ruas do cemitério em busca de túmulos de
parentes e ou amigos. A ausência prolongada de minhas estadas por esse ambiente
fez com que aumentasse a dificuldade em encontrar tais catacumbas, nessa busca
encontrei vários túmulos, dos mais variados tipos, uns mais bem erigidos
arquitetonicamente, outros modestos, quase sem identificação de nome ou fé,
somente as inicias de cada nome e uma modesta cruz, me detive entre tantos
eles, fiz orações em outros, desconhecidos ou nem tanto, colhi epitáfios, fiz
reflexões sobre tais frases e lembrei que eu ainda não tinha nenhum epitáfio
para por sobre minha laje. Divaguei sobre tal fato e estranhei por ser este meu único bem a ser deixado em testamento ,
um epitáfio, este será meu único pecúlio deixado em testamento cartorial!
Ilusão minha. Seria mesmo necessária uma
frase de efeito para por sobre minha lápide? A quem poderia interessar? Nem
mesmo um visitante desavisado ao cemitério se interessaria por isso. Ora, se ninguém nunca se interessou nem pelos
meus quatro sonetos alexandrinos que sempre divulguei na mesas de bares que perambulei, por que iam se interessar por uma frase escrita sobre um lápide de
cemitério? É muita inocência crer em tais circunstâncias.
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