Pequena Crônica - Haverá sinais quando eu estiver de férias - 25 de setembro de 2024
Confinado no pequeno cubículo estavam ele e eu. Haviam muitas pessoas na casa mas estávamos protegidos pela aldabra que trancafiou-nos naquele momento. Ele não tirava os olhos libidinosos de minhas carnes adiposas.O homem me desejava e não disfarçava. O degà enfileirava expressões de duplo sentido sem nenhum rodeio. Eu me esquivava por caminhos nos quais me passava por desentendida. Os olhos dele me fulminavam e dizia mudamente que me desejava como um alucinado. Quase irracional. Mas ali não podia acontecer nada pois a hospedaria estava cheia de sitiantes. Na pandemia sim, só havia eu e ele, mas o puritanismo monogâmico dele não permitiu que entendesse minhas insinuações.
Houve uma festa na noite de ontem. Era carraspana, comidas que afetam a saúde dos hipertensos e de outros pacientes. Era também um rol de gentes que saíram de casa para estar à luz da lua. Calor corporal, vento morno, pessoas próximas umas das outras. Hormônios. Gente jovem e eu lá. Seria eu ainda uma pessoa jovem? Onde estão meus hormônios.
Madrugada e eles todos ou quase todos por lá. O culto ao natalício de uma pessoa importante. Elas querem apenas se divertir. Beber no gargalo da garrafa o fogo do álcool que aquela bebida possui.
É sombra e escuridão. A barra horizontal está neste conflito neste momento. A rua está cheia de confetes, garrafas, bitucas de cigarros de toda cor. Com marca de batom ou epitélio de lábios juvenis. As pessoas que estavam naquela pândega transcendental não iriam ser oprimidas pelo trabalho escravizante daquela manhã já de quinta feira. Todos ali querem permanecer em moto-perpétuo naquele brilho de carrossel da tertúlia. Estão todos verdadeiramente vivos.